Dona Maroca conhecia pobre só pelo cheiro.
A pessoa chegava perto e ela já farejava a pobreza.
Era um bingo atrás do outro.
-Esse é pobre, cheira a fumaça de lenha, não tem fogão a gás.
O pobre já descia vários degraus na escala social de Dona Maroca só pelo cheiro da fumaça.
Essa senhora de classe média já era uma feliz proprietária de um flamante fogão a gás, quatro bocas e um forno, que pilotava com desenvoltura.
Isso foi há muito tempo atrás, quando começava a industrialização brasileira e o fogão a gás era símbolo de prosperidade.
Pobre não tinha acesso a estes bens de consumo e seguia sem aproveitar os confortos da modernização.
O tempo passou. Dona Maroca não conseguia mais farejar um pobre pelo cheiro.
Até esqueceu do "talento"...
Afinal. o fogão a gás ficou acessível para todas as classes sociais, junto com a geladeira, a TV e o carro.
De uns três anos para cá, Dona Maroca começou, de novo, a sentir "cheiro de pobre".
Não sabia o motivo e foi perguntar para o marido, Seu Juvenal.
- Juju, é só impressão minha, ou os pobres voltaram a cheirar a fumaça?
- Não é impressão, não, Maroquinha. É por causa do preço do gás, muito caro, por isso os pobres foram obrigados a cozinhar com lenha, isso quando tem comida .
- De volta ao fogão a lenha, então. Eu detesto aquele cheiro de fumaça pela casa toda.
- Não, Maroquinha, agora é no fogo de chão que as pessoas estão cozinhando - corrigiu o Seu Juvenal.
- Meus Deus, quanta pobreza, que miséria, mas, também, não querem trabalhar! - concluiu Dona Maroca, pondo uma lasanha congelada no seu micro-ondas.
Seu Juvenal fez que não ouviu o comentário da mulher, ia começar o futebol.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2022.
Imagem:Renina Katz, Google
Edu Cezimbra
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