Sempre se fala, unilateralmente, diga-se de passagem, do "buraco da agulha", nunca da "agulha do buraco".
Por isso, a agulha vivia implicando com o "seu buraco".
- Seu inútil, não fazes nada o dia todo, ficas aí vivendo às minhas custas!
O buraco respondia, provocativo, para a "dona agulha".
- Ora, bem sabes que não fazes nada sem mim - abria-se o buraco.
A agulha cutucava o buraco com sua agudeza habitual.
- Sou tão fina e elegante e tenho que mostrar esse buraco na minha cara.
Era nessa hora que o buraco era mais embaixo e mesmo assim não se fechava para a agulha.
- São os buracos, digo, os ossos do ofício, querida...
A briga entre os dois seria interminável não fosse a linha.
- Vamos acabar com essa pendenga, está na hora de trabalhar - dava a linha.
Alinhada, a agulha arrematava com o "seu buraco".
- Lá vem essa intrometida, mas não fosse a costureira não era ninguém...
Moral do apólogo: em briga de agulha e buraco quem dá a linha é a costureira.
Porto Alegre, 30 de março de 2022.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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