Um escritor conta
que durante sua prisão em Auschwitz, um dos muitos campos de
concentração nazistas, na Segunda Guerra, perdeu completamente o
interesse pela filosofia e o gosto pela poesia.
Não perdeu, porém,
a capacidade de observação. Observou que os que resistiam aos
horrores cometidos pelos carrascos da SS eram os que não perdiam a
fé.
Um outro
sobrevivente dos campos da morte nazistas, psicoterapeuta,
expressou-se de maneira semelhante sobre o fenômeno: sobrevivia quem
não perdia a esperança, quem dava um sentido a todo o sofrimento
que suportava.
Fé e esperança,
esperança e fé, aí estão os dois sentimentos que sustentaram as
vítimas dos psicopatas nazistas.
Disse mais o
escritor, que, frise-se, era agnóstico: que não apenas a fé em um
Deus, mas a fé em um partido (na época, os partidos estavam em
alta)!
Em que pese o Brasil
não ter conhecido os horrores dos campos de extermínio de Hitler,
seu povo humilde, humilhado e sofrido também desenvolveu um antídoto
a tanto sofrimento “diluído”, mas continuado durante mais de cinco séculos.
Aqui, como lá, a fé
e a esperança estão sempre presentes. Só que, no Brasil, essa fé
e esperança, tão resistente na Europa, para não serem perdidas
estão amparadas em uma, digamos, “muleta”: o fatalismo…
- Que se há de
fazer, meu filho…
- Foi a vontade de
Deus, minha filha…
Percebeu? No Brasil,
o que faz o povo aguentar tanta penúria causada pela iniquidade
social e econômica é essa impressionante capacidade de resignação
e submissão, por paradoxal que pareça.
Lenin, se
brasileiro, não escreveria o manual revolucionário “O que
fazer?”, pois essa questão não estaria em seu repertório
filosófico. Escreveria “ O que se há de fazer...”, com
reticências mesmo…
Marx, se brasileiro,
e mantendo sua argúcia intelectual, diria que “o cassetete é o
ópio do povo”, se é que me entendes…
Mas não nos
desviemos… devemos sim nos perguntar “o que fazer?”, porque até
o nosso secular fatalismo vai sucumbir diante de tanto escárnio,
deboche e desfaçatez de nossos “dirigentes”.
Fica impossível ser
fatalista quando estamos nos afogando no “fundo do poço” e ao
invés de luz no fim do túnel vemos pus…
Encaremos sim - coragem! os fatos com um pessimismo consequente para não seguirmos
no auto-engano nacional.
"Fatalmente", o que virá, como mostra a história dos povos
oprimidos por uma elite cruel é a fatídica pergunta : “ o que temos a
perder, senão nossos grilhões?”...
Porto Alegre, 18 de abril de 2018.
Imagem: divulgação
Edu Cezimbra
Nenhum comentário:
Postar um comentário