Disse Paul
Valéry: “O homem de hoje não cultiva o que não pode ser
abreviado”.
O
filósofo Theodor Adorno debruçou-se sobre o que chamou de “indústria
cultural”. Observou que “as pessoas aos poucos vão parando de
criar seus próprios assuntos.”
Não
é muito difícil perceber a analogia com o “fordismo” e o
taylorismo”.
Uma
linha de montagem em série não é muito estimulante para a
criatividade, vamos combinar…
Já Paul Valéry estaria prevendo o advento do Twitter…
Não
esqueçamos que na época dele já havia o telégrafo; por exemplo,
veja como a poeta Cora Coralina parabenizou o colega Drummond em seus
aniversário:
Embora
não escrevam telegraficamente temos alguns escritores que primam - se
não pela abreviatura -, pela concisão, casos de Graciliano Ramos e
Ernest Hemingway.
Outros, no entanto, primam pela prolixidade como estilo, casos de Guimarães Rosa e José
Saramago.
Suponho
que Valéry não estivesse se referindo aos filósofos gregos, ou a
Nietzsche e Wittgenstein com seus famosos aforismos que têm a capacidade de
dizer em poucas palavras questões filosóficas de muita profundidade.
O
poeta Pablo Neruda ironizou a “falta de assuntos próprios” dos homens
modernos com uma tirada: “escrever é fácil, você começa com
uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca
ideias.”
E
é aí que eu quero chegar...afinal por que perdemos essa capacidade
criativa? Será “apenas” a indústria cultural ou há algo mais para tão poucas ideias?
Sei
não, mas desconfio que os anos de escolarização também são
decisivos nessa “falta de assunto próprio”.
As
pessoas adultas criativas antes foram crianças que sobreviveram a
escolarização porque o mais difícil não é aprender, mas
desaprender.
Outro
ponto que Adorno alerta é a perda dos velhos laços humanos e da
subjetividade e, acredite, isso tem muito a ver com a falta de
originalidade da maioria das pessoas modernas.
É
que como sabem os nossos ancestrais africanos com sua filosofia do
“ubuntu”: nos aprendemos uns aos outros...
PS: crônica livremente inspirada em anotações do IHU Ideias com Marcelo
Leandro dos Santos debatendo a ‘A
triste ciência de Theodor Adorno'
Porto Alegre, 24 de maio de 2018.
Imagens: Google
Edu Cezimbra
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