quinta-feira, 14 de junho de 2018

Amor e poder


Estou relendo Jung, o que significa ler como se a primeira vez, e eis que me deparo com essa sentença lapidar: "quando o amor não existe, o poder ocupa o vazio".

Um poeta diria que com o punhal do poder se mata o amor.

Um dramaturgo escreveria uma peça ambientada em um palácio real.

Um roteirista de cinema desenvolveria uma trama envolvendo um casamento por interesse com uma milionária.

Na homeopatia existe um remédio chamado Lycopodium cujo sintoma "amor ao poder" ( UR - Único Remédio) indica a pessoa que faz qualquer coisa para atingir o poder.

O que é digno de curar neste caso é a falta de amor-próprio , o sentimento de menos valia. 

O "amor ao poder" é uma premissa inconfessável de muitos relacionamentos e, principalmente, de relações sociais e políticas.

A satisfação perversa de poder mandar e desmandar nos outros é um leitmotiv para muitos crimes contra a pessoa e, mais, contra a humanidade.

Como sei que tenho leitores anarquistas vou atendê-los em suas convicções: o estado é, de fato, uma instituição poderosa pelo seu autoritarismo e monopólio da violência.

Podemos dizer que as razões de estado superam o estado das razões quando trata de defender os poderosos.

Outro dia, li em uma revista de história, que os povos vizinhos ao poderoso estado inca recusavam terminantemente a instituição de estado por conhecerem seus efeitos nefastos para quem estava nele ou próximo.

Estes povos “primitivos” tem uma noção muito desenvolvida que o “Bem Viver” não ocorrerá sem alguns princípios básicos todos baseados no que sintetizo na expressão “poder do amor”.

Um leitor versado em “ciência política" vai dizer que isso é idealismo utópico. Não é.

Felizmente começam a aparecer as experiências de nações que incorporam em suas constituições estes princípios baseados na solidariedade e reciprocidade.

Como disse o sábio “Pepe” Mujica: é preciso experimentar para sabermos que algo pode dar certo… porque o que temos de exemplos que estão dando errado deveria servir de alerta para ousarmos mudar de vida.

Porto Alegre, 14 de junho de 2018.
Imagem: Tarsila do Amaral
Edu Cezimbra


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