Loyola, assim assina sua dedicatória.
Olhou pra mim e sem pestanejar lascou: "Pensar que sobrevivemos a este tempo!".
Surpreendente até em uma simples dedicatória o escritor Ignácio de Loyola Brandão.
Não deveria me surpreender, afinal, depois de ler alguns de seus livros e sempre que posso ouvir suas histórias.
Loyola já passou dos 80 ( 5 pontos na carteira), mas mantém a vitalidade e lucidez de um jovem escritor.
Recorda os anos de chumbo da ditadura militar e a dificuldade de publicar por causa da censura burra e castradora.
Logo, traz suas histórias para a trágica realidade sem perder a presença de espírito, a ironia e a perspicácia.
No momento, escreve um romance sobre um casal em isolamento social imposto pela pandemia.
Loyola não é um escritor quando fala, é um exímio contador de histórias que prende a atenção de seus ouvintes como poucos.
Por isso, sua "análise de conjuntura" não é feita com discursos exaltados.
Loyola conta histórias do Brasil, de sua gente e de suas mazelas atuais, sempre cíclicas.
Não é apenas pessimista, reforça, isso sim, o alerta do que estamos fazendo conosco mesmo.
O cenário de "Não verás país nenhum" é ainda mais catastrófico no novo romance que escreve.
Como ele mesmo disse: "escrevo o que quero", sem se preocupar em ser agradável ao leitor, pois quer incomodar mesmo.
Portanto, consegue expressar o que muitos gostariam de dizer aos dirigentes do país que ele considera indigentes (o jogo de palavras é meu).
Loyola faz uma regressão na História do Brasil (aliás, quem faz é o desgoverno, o escritor conta a tragédia).
O Brasil regride à pré-história e a locomotiva que o trará de volta para o futuro está sem combustível.
Por isso, como sobreviveram só as mulheres, estas terão que empurrar o trem.
Vão levar uns 4 bilhões de anos... vejam - diz ele -, como não perdi meu otimismo...
Porto Alegre, 5 de novembro de 2021.
Imagem: Correio Braziliense, Google
Edu Cezimbra
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