segunda-feira, 4 de junho de 2018

O moral da tropa


Um antigo filme inglês, "Pelo Rei, Pela Pátria", mostra a suposta deserção de um soldado.

Atordoado com o canhoneio o soldado abandona a trincheira de sua companhia e saí a vagar na retaguarda.

Vinte e quatro horas depois é reconduzido preso à sua unidade de combate sob a acusação de deserção.

Inobstante o esforço do oficial que o defende, que percebe a sua inocência, é considerado culpado pela corte marcial que o julgou.

O “comandante supremo” ratifica a sentença de morte com um lacônico “ para manter o moral da tropa” durante a próxima ofensiva que redundará na morte em vão de milhares de jovens soldados.

“O moral da tropa” é fielmente registrado na bebedeira que os camaradas do condenado à morte tomam com ele, enquanto o consolam dizendo: "todos vamos morrer aqui e apodrecer neste lamaçal”…

O soldado é dopado e fuzilado. Morre com um “tiro de misericórdia” desferido pelo próprio advogado de defesa.

O telegrama à família informa que o soldado morreu em combate…

Poupa-se a família e o que fica subentendido é que o estado não assume nem a sentença de morte e muito menos os grotescos erros militares que condenaram milhões de jovens à morte nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

O “moral da tropa” é portanto o “moral da história”, se é que há moral nesta história.

Como disse ao seu superior o oficial que se empenhou em defender o soldado: “somos todos assassinos”, em outras palavras, digo eu, ninguém é inocente quando de uma pena de morte...


Porto Alegre, 4 de junho de 2018.
Imagens: cena e cartas do filme
Edu Cezimbra


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