O Diabo foi dar seu
passeio noturno habitual pela encruzilhada e qual não foi sua
surpresa ao encontrar a Morte, cabisbaixa, sentada em uma pedra.
- Boa noite, Dona
Morte, quanta animação esta noite! - zombou, soltando sua
característica gargalhada diabólica.
Erguendo lentamente
a sua caveira com um ranger tétrico de suas vértebras cervicais, a
Morte trovejou: - vá para o inferno, que diabo! - irritou-se a velha
conhecida do Chifrudo.
O Diabo, sem perder
a graça, cutucou a Morte com seu tridente em chamas: - vamos sacudir
o esqueleto, Dona Morte, organizei uns shows de bandas metaleiras no
inferno para infernizar ainda mais os condenados!
- Diabo, vai pros
quintos do inferno, estou podre de cansada, não aguento mais tanto
serviço, a humanidade insiste em morrer feito moscas, a seguir assim
o inferno vai ter uma superpopulação maior que a Terra…
- Pior que é, Dona
Morte, aqui pra nós, a seguir assim, o inferno estará cheio de
gente com boas intenções…
- Por que não vamos
falar com o “Velho” e reclamar dele, afinal o Céu, exceto por
alguns anjos, está praticamente desocupado por falta de
interessados.
- O “Velho” é
teimoso, insiste no tal “livre- arbítrio”... - resmunga o
Tinhoso.
-
“Livre-arbítrio”...mimimi...em que mundo Ele vive, meu
Deus! Parece que não saiu do Renascimento!
O Diabo que não
perdia a chance de criticar Deus, emendou ferino: - sim, Ele não saiu do
teto da Capela Sistina – e soltou fumaça pelas ventas, sem
esconder seu rancor.
- Viu no que deu tu
passar o petróleo das profundezas da Terra para a humanidade?! Agora é
essa mortandade que quase não dou conta: matam-se pelo
petróleo e o seu idolatrado “ouro negro” mata mais ainda…
Ao ouvir essa triste
verdade, o Diabo senta em outra pedra saboreando sua vitória sobre o livre-arbítrio humano, mas logo fica cabisbaixo; mordendo o rabo,
solta fumaça por todos os seus orifícios.
Percebe que também perdera seu domínio sobre a humanidade...
Porto Alegre, 10 de julho de 2018.
Imagem: Gustave Doré
Edu Cezimbra
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