terça-feira, 10 de julho de 2018

O Diabo e a Morte


O Diabo foi dar seu passeio noturno habitual pela encruzilhada e qual não foi sua surpresa ao encontrar a Morte, cabisbaixa, sentada em uma pedra.

- Boa noite, Dona Morte, quanta animação esta noite! - zombou, soltando sua característica gargalhada diabólica.

Erguendo lentamente a sua caveira com um ranger tétrico de suas vértebras cervicais, a Morte trovejou: - vá para o inferno, que diabo! - irritou-se a velha conhecida do Chifrudo.

O Diabo, sem perder a graça, cutucou a Morte com seu tridente em chamas: - vamos sacudir o esqueleto, Dona Morte, organizei uns shows de bandas metaleiras no inferno para infernizar ainda mais os condenados!

- Diabo, vai pros quintos do inferno, estou podre de cansada, não aguento mais tanto serviço, a humanidade insiste em morrer feito moscas, a seguir assim o inferno vai ter uma superpopulação maior que a Terra…

- Pior que é, Dona Morte, aqui pra nós, a seguir assim, o inferno estará cheio de gente com boas intenções…

- Por que não vamos falar com o “Velho” e reclamar dele, afinal o Céu, exceto por alguns anjos, está praticamente desocupado por falta de interessados.

- O “Velho” é teimoso, insiste no tal “livre- arbítrio”... - resmunga o Tinhoso.

- “Livre-arbítrio”...mimimi...em que mundo Ele vive, meu Deus! Parece que não saiu do Renascimento!

O Diabo que não perdia a chance de criticar Deus, emendou ferino: - sim, Ele não saiu do teto da Capela Sistina – e soltou fumaça pelas ventas, sem esconder seu rancor.

- Viu no que deu tu passar o petróleo das profundezas da Terra para a humanidade?! Agora é essa mortandade que quase não dou conta: matam-se  pelo petróleo e o seu idolatrado “ouro negro” mata mais ainda…


Ao ouvir essa triste verdade, o Diabo senta em outra pedra saboreando sua vitória sobre o livre-arbítrio humano, mas logo fica cabisbaixo; mordendo o rabo, solta fumaça por todos os seus orifícios.

Percebe que também perdera seu domínio sobre a humanidade...

Porto Alegre, 10 de julho de 2018.
Imagem: Gustave Doré
Edu Cezimbra

Nenhum comentário:

Postar um comentário