Situação moral esquisita, mas verdadeira, cuja raiz é facilmente encontrada no coração humano. Talvez certas pessoas nada mais tenham a ganhar junto daqueles com quem vivem; depois de lhes haverem mostrado o vazio das suas almas, crêem-se intimamente julgadas com merecida severidade; assim, graças a uma invencível necessidade de lisonjas que lhes faltam , ou consumidas pelo desejo de parecer possuírem qualidades que não têm, esperam captar a estima ou o coração daqueles que lhe são estranhos, arriscando-se a um dia os desiludirem.
A
Comédia Humana de Balzac é um clássico da literatura universal.
“Encontrada
no coração humano”, uma expressão balzaquiana que realça uma
“situação moral esquisita” vivenciada pela senhora Vauquer,
proprietária de pensão familiar que leva seu nome em Paris e onde ocorre grande parte da narrativa do "Tio Goriot".
O
que transparece na personalidade da senhora Vauquer é a “necessidade
de lisonjas”, a massagem no ego, dizemos hoje.
Convenhamos,
Balzac apresenta uma necessidade humana básica atualmente estimulada
pelas mídias e redes sociais.
Embora
moradora da cosmopolita Paris, Balzac faz da viúva uma típica
provinciana - como muitos de seus hóspedes, sedentos de novidades e
mexericos diante de uma vida insípida.
O
que falta a seus sofridos personagens é o que falta a todos os que
restringem as suas vidas a um círculo de relações e interesses
mundanos, seja Paris ou Porto Alegre ou Pau d'Arco.
Com
a perspicácia que lhe é peculiar Balzac acrescenta:
“Como todos os espíritos tacanhos, a senhora Vauquer tinha o hábito de não sair do âmbito dos acontecimentos e de não procurar as respectivas causas. Gostava de atribuir a outros os seus próprios erros.”
Talvez
a grande mudança que ocorreu desde a “Comédia Humana” é que
agora os corações humanos estão mais endurecidos e a situação
moral esquecida, talvez, acarretando uma tragicomédia humana.
Porto Alegre, 27 de agosto de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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