segunda-feira, 25 de junho de 2018

Caruarus


Dura a lei da caatinga. O mal não estava apenas no sol e nos carrascais traiçoeiros; estava, sobretudo, na criatura humana, no fundo do coração de cada um. Nessa região, a morte não era o fim; era o meio de selecionar aqueles que mereciam viver.” 

Terra de Caruaru, romance de José Condé, escrito em 1960, conta a história e as lendas urbanas de sua cidade natal.

A terra permanece igual, mas, segundo o autor, Caruaru velho acabou.

Será? Foi a pergunta que me fiz após concluir a leitura do livro…

A demolição de três velhas casas dá o mote para essa conclusão: “Estão acabando com Caruaru velho”.

O meu caro e atilado leitor já percebeu que a metáfora usada pelo autor para demonstrar o fim de um ciclo na cidade é a demolição de “casas velhas”, não?

Pois é bem efetiva para captar o “espírito da época” (1960) e que persiste inexoravelmente no Brasil atual.

Botam abaixo “as velharias” para construção de avenidas e prédios novos como sinal de “progresso”.

A solteirona Eulina, uma das personagens do romance de José Condé, vê sua casa fechada, à espera do noivo que fugiu do casamento há dez anos, ser demolida por picaretas.

É o sonho da Eulina velha que estão acabando”, algum morador mais sensível poderia dizer.

De fato, os coronéis políticos foram perdendo influência, mas o meu “será?” tem a ver com um período logo após o término do livro que coloca os coronéis e generais da ditadura militar no poder e, por ironia da história, logo na recém-inaugurada Brasília.

A morte física dos “coronéis locais”, os Ribas, se dá através de José Bispo, um ex-cabo eleitoral dos fazendeiros que vira bandoleiro no sertão e faz justiça com as próprias mãos.

Dito isso, posso concluir minha crônica (que os leitores têm outros afazeres) respondendo ao meu será com outro: será que a única “solução” para as questões políticas de um estado de exceção - em Caruaru e no Brasil - se dará sempre pela luta armada como fizeram os moradores da cidade, será?

Porto Alegre, 25 de junho de 2018.
Imagens: Wikipédia
Edu Cezimbra


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