“Dura a lei da caatinga. O mal não estava apenas no sol e nos carrascais traiçoeiros; estava, sobretudo, na criatura humana, no fundo do coração de cada um. Nessa região, a morte não era o fim; era o meio de selecionar aqueles que mereciam viver.”
Terra
de Caruaru, romance de José Condé, escrito em 1960, conta a história
e as lendas urbanas de sua cidade natal.
A
terra permanece igual, mas, segundo o autor, Caruaru velho acabou.
Será?
Foi a pergunta que me fiz após concluir a leitura do livro…
A
demolição de três velhas casas dá o mote para essa conclusão:
“Estão acabando com Caruaru velho”.
O
meu caro e atilado leitor já percebeu que a metáfora usada pelo
autor para demonstrar o fim de um ciclo na cidade é a demolição de
“casas velhas”, não?
Pois
é bem efetiva para captar o “espírito da época” (1960) e que
persiste inexoravelmente no Brasil atual.
Botam
abaixo “as velharias” para construção de avenidas e prédios
novos como sinal de “progresso”.
A
solteirona Eulina, uma das personagens do romance de José Condé, vê
sua casa fechada, à espera do noivo que fugiu do casamento há dez
anos, ser demolida por picaretas.
“É
o sonho da Eulina velha que estão acabando”, algum morador mais
sensível poderia dizer.
De
fato, os coronéis políticos foram perdendo influência, mas o meu
“será?” tem a ver com um período logo após o término do livro
que coloca os coronéis e generais da ditadura militar no poder e,
por ironia da história, logo na recém-inaugurada Brasília.
A
morte física dos “coronéis locais”, os Ribas, se dá através
de José Bispo, um ex-cabo eleitoral dos fazendeiros que vira
bandoleiro no sertão e faz justiça com as próprias mãos.
Dito
isso, posso concluir minha crônica (que os leitores têm outros
afazeres) respondendo ao meu será com outro: será que a única
“solução” para as questões políticas de um estado de exceção - em Caruaru e no Brasil - se dará sempre pela luta armada como fizeram os moradores da cidade,
será?
Porto Alegre, 25 de junho de 2018.
Imagens: Wikipédia
Edu Cezimbra
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