sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Comes e bebes



“Quem come e bebe não conspira!”, sentenciou o português Caetano Pinto, governador de Pernambuco, em 1817.

Teve de engolir suas palavras de ceticismo. Após um incidente entre um negro brasileiro integrante do “Batalhão dos Henriques” e um português que ofendera os brasileiros na festa de libertação de Pernambuco do domínio holandês, o governador emitiu uma ordem do dia. Isso acirrou os ânimos dos pernambucanos que se revoltaram.

Errou feio o administrador português na época. Provavelmente, os bravos pernambucanos, por comerem e beberem bem, tinham brio para se rebelarem diante de uma ordem injusta e arbitrária...

Hoje, ficaria surpreso com o quanto sua frase de efeito é acertada. Tese defendida por analistas políticos que afirmam que os trabalhadores se acomodaram na sociedade de consumo.

Com o volta da fome no Brasil, durante o governo de Temer, até arrisco uma “máxima” em contraposição à do português do início do século XIX: quem não come e não bebe não conspira.

Até o momento parece acertada, mas aqui entre nós, caro e raro leitor, espero estar redondamente enganado como estava o português Caetano Pinto de Miranda Montenegro, capitão-general de Pernambuco, por volta de 1817.

Porto Alegre, 3 de agosto de 2018.
Imagem: pintura de José Cláudio da Silva
Edu Cezimbra

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