terça-feira, 29 de maio de 2018

Deus e o Diabo na Terra do Sol


O filme de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol", é percorrido por um forte simbolismo, uma metáfora do Brasil,  como podemos ver em algumas cenas e falas das personagens principais.

A expulsão dos sertanejos de suas terrinhas pelos “donos da terra” geram uma revolta campesina, abraçada pela tradição milenarista e messiânica reunidas no “sebastianismo” do beato Sebastião

Um “anjo guerreiro” aparece para o beato Sebastião bradando aos céus: “estou condenado, mas tenho coragem”.

O grito do vaqueiro Manuel, expulso da terra, une-se ao do beato que profetiza: “o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”.

Monte Santo é de onde se parte para uma ilha no meio do mar enquanto os fogos do inferno queimam a república.

“Antes que venha as tropas do governo como fizeram em Canudos e Pedra Bonita, vamos embora ganhar a vida”, suplica Rosa, mulher de Manuel.

Antônio das Mortes, matador de cangaceiros,  acalma o padre que o contratou por “seiscentos contos de réis”: “Diz pros coronéis que eles podem ficar em paz, Sebastião acabou.” 

Manuel carrega na cabeça uma pesada pedra, acompanhado de perto pelo Beato Sebastião, a “pedra de Sísifo”, carregada até hoje pelo povo sertanejo.

Rosa, que apunhala e mata o beato Sebastião, é a república que ataca Canudos/Monte Santo através do jagunço Antônio das Mortes e suas tropas.

“Foi o povo mesmo que matou Sebastião”, diz Antônio das Mortes ao cantador cego.

Morto o beato aparece Corisco, seguidor de Lampião, morto com seu bando, no Angico. pela volante.

Até parece que a elite brasileira, que tanto combate o MST, prefere os cangaceiros e seu banditismo social, talvez porque a religiosidade dos sertanejos - captada pela mística do MST - transformou-se em organização política.

E é o cantador cego que tudo vê que alerta Antônio das Mortes: “a culpa não é do povo, Antônio, a culpa não é do povo”...

Porto Alegre, 29 de maio de 2018.
Imagem: Google 
Edu Cezimbra

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