O filme de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol", é percorrido por um forte simbolismo, uma metáfora do Brasil, como podemos ver em algumas cenas e falas das personagens principais.
A expulsão dos
sertanejos de suas terrinhas pelos “donos da terra” geram uma
revolta campesina, abraçada pela tradição milenarista e messiânica reunidas no “sebastianismo” do beato Sebastião
Um “anjo
guerreiro” aparece para o beato Sebastião bradando aos céus:
“estou condenado, mas tenho coragem”.
O grito do vaqueiro Manuel, expulso da terra, une-se ao do beato que profetiza: “o sertão vai
virar mar, o mar vai virar sertão”.
Monte Santo é de
onde se parte para uma ilha no meio do mar enquanto os fogos do
inferno queimam a república.
“Antes que venha
as tropas do governo como fizeram em Canudos e Pedra Bonita, vamos
embora ganhar a vida”, suplica Rosa, mulher de Manuel.
Antônio das Mortes, matador de cangaceiros, acalma o padre que o contratou por “seiscentos contos de réis”: “Diz pros coronéis
que eles podem ficar em paz, Sebastião acabou.”
Manuel carrega na
cabeça uma pesada pedra, acompanhado de perto pelo Beato Sebastião,
a “pedra de Sísifo”, carregada até hoje pelo povo sertanejo.
Rosa, que apunhala e
mata o beato Sebastião, é a república que ataca Canudos/Monte
Santo através do jagunço Antônio das Mortes e suas tropas.
“Foi o povo mesmo
que matou Sebastião”, diz Antônio das Mortes ao cantador cego.
Morto o beato
aparece Corisco, seguidor de Lampião, morto com seu bando, no
Angico. pela volante.
Até parece que a
elite brasileira, que tanto combate o MST, prefere os cangaceiros e seu banditismo social, talvez porque a religiosidade dos sertanejos - captada pela mística
do MST - transformou-se em organização política.
E é o cantador cego
que tudo vê que alerta Antônio das Mortes: “a culpa não é do
povo, Antônio, a culpa não é do povo”...
Porto Alegre, 29 de maio de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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