quinta-feira, 8 de março de 2018

Inveja


"Tanta gente confessando conhecer a inveja e tão poucos admitindo cometê-la reforçava o que se dizia em quase todos os textos que eu estava lendo: que ela era um pecado vergonhoso e "inconfessável", pelo menos publicamente." 

Zuenir Ventura, em "Mal Secreto", escreve sobre a inveja. 

Uma frase "lapidar' sobre a inveja aparecia muito em adesivos de para-brisas de carros velhos: " Não me inveje, trabalhe."

Outra que "viralizou": "A inveja é uma merda."

Talvez a inveja tenha se antecipado a essa nova mania nacional em que os corruptos são os outros...

A inveja é utilizada pela publicidade, subliminarmente, ou não, na venda de novas mercadorias.

O carro, a casa, a mulher (ou o marido) do vizinho são sempre melhores, ou seja, mais novos - ou mais verde, se for o gramado...

E, convenhamos, caro e raro leitor, a inveja é poderosa por ser ubíqua e não assumida, tal qual nos conta Zuenir Ventura em "Mal Secreto" (tanto quanto o racismo).

Diante da aceitação quase universal dos outros "pecados capitais", JC teria que atualizar sua pregação lapidar:  "Aquele que não tiver inveja atire a primeira pedra".

Conclusão: uns mais outros menos, somos todos invejosos, logo invejáveis...


Porto Alegre, 08 de março de 2018.

Imagem: cena de Otello, de Orson Welles

Edu Cezimbra

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