As cidades grandes
são conhecidas por suas características de concentração
populacional e de renda, as multidões anônimas, enormes
congestionamentos, poluição do ar, da água e sonora.
Isso faz com que as
pessoas não se conheçam, propiciando uma maior liberação sexual e
comportamental. As grandes distâncias entre a casa e o trabalho
acarretam longo tempo de deslocamentos cansativos. Há sempre os
atrativos artísticos, culturais e tecnológicos, - para quem pode
pagar.
Deixemos com Eça
um brilhante arremate para essa breve descrição da cidade grande.
No caso, Paris:
“- Sim, com
efeito, a Cidade... É talvez uma ilusão perversa! Insisti logo, com
abundância, puxando os punhos, saboreando o meu fácil filosofar. E
se ao menos essa ilusão da Cidade tornasse feliz a totalidade dos
seres que a mantém... Mas não! Só uma estreita e reluzente casta
goza na Cidade os gozos especiais que ela cria. O resto, a escura,
imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimentos especiais que só
nela existem! Deste terraço, junto a esta rica Basílica consagrada
ao Coração que amou o Pobre e por ele sangrou, bem avistamos nós o
lôbrego casario onde a plebe se curva sob esse antigo opróbrio de
que nem Religiões, nem Filosofias, nem Morais, nem a sua própria
força brutal a poderão jamais libertar! Aí jaz, espalhada pela
Cidade, como esterco vil que fecunda a Cidade. Os séculos rolam; e
sempre imutáveis farrapos lhe cobrem o corpo, e sempre debaixo
deles, através do longo dia, os homens labutarão e as mulheres
chorarão. E com este labor e este choro dos pobres, meu Príncipe,
se edifica a abundância da Cidade! Ei-la agora coberta de moradas em
que eles se não abrigam; armazenada de estofos, com que eles se não
agasalham; abarrotada de alimentos, com que eles se não saciam!”
Friso
que o título deste célebre romance de Eça de Queirós é “A
Cidade e as Serras”. “A” Cidade é Paris.
Não
trata das cidades pequenas (ou as deixa para “As Serras”)…
Mas não
nos alonguemos... Nas cidades pequenas as pessoas se conhecem, há uma
proximidade da casa e do trabalho, pouco acesso a eventos artísticos
e culturais e um maior conservadorismo social.
E
as cidades médias? pergunta o meu atento e raro leitor…
As cidades médias, assim como as classes médias, pensam que são
grandes e agem como as pequenas, enfim, medíocres.
Porto Alegre, 6 de novembro de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra