segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Entrevista com a Mente


"Meditar é quando o lago da mente não recebe as pedras do pensamento".  Edson Hiroshi Seo,




- Porque é tão difícil acalmar a mente?

- Olha, sou apenas o que queres que eu seja...

- Como assim?!

- Pois é ... Percebe que eu fico pulando de galho em galho, o quanto é difícil para mim parar de pensar?

- Sim... quer dizer que tu não me comanda?

- Quem me dera... Eu fico numa sinuca de bico daquelas para me orientar nesta tempestade mental, haja fosfato!!!

- Então, sou eu o culpado?!

- Percebe como o teu coração bate mais forte nesta hora, como ficas ofegante, com o sangue pulsando na carótida e os pensamentos vem aos jorros e aos gritos?

- Isso mesmo! Bem assim... E isso tem cura, “doutora”?...

- Claro, mas tu já sabe, e não faz! Medita, respira fundo, controla teus pensamentos, te liga com a natureza, ai fica tudo mais fácil pra mim!

- Bom saber, quero dizer, bom fazer...

"Meditação diária”

Edu Cezimbra, "foi lá por 98"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Entrevista com o Corpo




- Precisamos ter uma "conversinha"...

- Qual é a bronca, meu corpo?

- Viu a fraqueza das minhas pernas ontem, depois de subir as escadas?

- Vi, fiquei preocupado...

- E as nossas caminhadas?

- Temos que voltar a caminhar, logo...

- Não adianta concordar e depois deixar pra lá!

- Ok, ok, vou me programar para isso...

- E, hoje de manhã, este dia lindo, e você com dificuldade de me levantar!

- É que fomos deitar tarde, ontem à noite...

- Sei... mas porquê não deita mais cedo, então?

- Também vou começar a fazer isso, prometo... mais alguma reclamação, meu 
corpo?

- E essa barriga, parece um barril de chope!

- Não precisa ofender, né... Por enquanto vamos continuar com a barriguinha, sabe como é, trabalho sedentário...

- Tá legal, mas eu sinto na carne tudo isso, isso é, na gordura! Chega uma hora que eu estouro!

- Sei, não é fácil te carregar por aí...


Eu vou deitar mais cedo, acordar mais cedo, caminhar e comer menos.”



Edu Cezimbra, "foi lá por 98"

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Neil Gaiman: Por que nosso futuro depende de bibliotecas, de leitura e de sonhar acordado – Ecologia dos Saberes

Uma vez eu estava em Nova York e ouvi uma palestra sobre a construção de prisões particulares – uma ampla indústria em crescimento nos Estados Unidos. A indústria de prisões precisa planejar o seu futuro crescimento – quantas celas precisarão? Quantos prisioneiros teremos daqui 15 anos? E eles descobriram que poderiam prever isso muito facilmente, usando um algoritmo bastante simples, baseado em perguntar a porcentagem de crianças entre 10 e 11 anos que não conseguiam ler. E certamente não conseguiam ler por prazer.
Não é um pra um: você não pode dizer que uma sociedade alfabetizada não tenha criminalidade. Mas existem correlações bastante reais.
Ler mais: Neil Gaiman: Por que nosso futuro depende de bibliotecas, de leitura e de sonhar acordado – Ecologia dos Saberes

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Uma lição do bambu



No manejo de um bambuzal há sempre uma lição a extrair diante das dificuldades; outro dia, ao procurar remover as pontas de bambus secas acumuladas sofri vários arranhões de seus galhos finos e uma queda ao pisar em falso.

O acúmulo de pontas secas de bambu que não são aproveitadas na extração erguem uma paliçada difícil de ser transposta e removida.

Estas pilhas de hastes secas impedem também o surgimento de  brotos de bambu e de outras mudas de árvores nativas, tornando o local estéril assim como fazem as plantações de eucaliptos e pinus.

Ao olhar a quantidade de pontas secas de bambu depositadas em uma enorme pilha há um "certo" desânimo de encarar esta árdua tarefa, que quando concluída nos revela um solo fértil repleto de sementes de árvores nativas prontas a brotar.


Então, assim é na vida, quantas vezes, após muito relutar, ao procurarmos remover alguma coisa velha, endurecida, seca de nós mesmos não sofremos arranhões e quedas, para depois nos sentirmos melhores.



Edu Cezimbra, verão de 2016.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Entrevista com a Raiva




- Por que tanta raiva?

- Ora bolas, fico com raiva quando alguém me contraria!

- E não pode ser de outro jeito?

- Eu só sei agir assim - às vezes é preciso botar a raiva para fora...

- E aquela tua dor na coluna, a contração de todo teu corpo, a perturbação do teu ser?

- Pô, mas o cara mereceu, aquele idiota!

- Ok, ele mereceu, mas eu mereço  receber toda essa carga pesada, fico todo trêmulo, me sentindo culpado, essas coisas, tu me conheces, raiva...

- Te conheço!... Vou te contar um "segredinho": tu és muito fácil de ser dominado por mim, porque foi muito reprimido e tem muita muita raiva acumulada.

- Mas eu preciso botar para fora essa raiva acumulada!!!

- Então, vai capinar!...

" Vou contar até dez, respirar fundo, e me dar conta de toda minha raiva, antes que ela me possua."



"Foi lá por janeiro de 98"

Imagem: pintura de Emygdio de Barros

Edu Cezimbra

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Poesia!...



XXV


As madrugadas eram frescas
As manhãs ensolaradas
As tardes quentes
As noites estreladas

- Que sublime a poesia!

E as madrugadas geladas dos mendigos?
E as manhãs tenebrosas de Hiroshima?
E as tardes sangrentas em Guernica?
E as noites terríveis do doente terminal?

- Que sombria a poesia...



Edu Cezimbra, "Foi lá por 86"

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Saudação ao Fogo



Das entranhas da Mãe-Terra erupcionas em lavas, vapores e cinza, sepultando e nutrindo.

Das tuas chamas volatizam-se os metais na busca da Pedra Filosofal, do Ouro Espiritual dos alquimistas.

Aos ancestrais da nossa espécie foste proteção, Deus- Sol, que morrendo e ressuscitando das trevas, davas luz, calor e vida.

És atemporal, eterno, infinito.

Criador e criatura, fértil e alimentado, ativo e contido, evocas imagens poderosas, integrado à matéria, à vida, ao espírito.

Símbolos como paus - madeira que o gera - , representação do Poder, dos raios de Zeus, de Apolo e sua carruagem solar, que tudo penetra e imola são magníficos, indeléveis, natureza, energia vital,vermelho, serpente ígnea M'boitatá, kundalini, coração crístico, espiritualidade.

Quando quebrada a ordem natural, tornas-te incontrolável, tudo destróis, avassaladoramente.

Apocalíptico, fogo do fim dos tempos, fogo das profundezas do Hades, punes, torturas e castigas.

A ti, fogo-libido, rendo minha homenagem de ser humano agradecido pelas tuas virtudes que impulsionam minha vida:




Divino Fogo

Da Sarça Ardente

Dos Heróis e Deuses sacrificados

De Prometeu

Fogo do intelecto analítico que tudo decompõe

Fogo da linguagem

Do Verbo

Das palavras ardentes

Do Espírito Santo

Das paixões incandescentes

Saúdo-te reverentemente

Edu Cezimbra, "foi lá por 96"






domingo, 10 de janeiro de 2016

Duas Curas

                             

 


De todas as curas,
O planeta agradece
Poder a Homeopatia
Ser a Cura da Espécie

 
Pela Terra, em abundância,
Remédios são ofertados,
Trazem junta a natureza,
Por Hahnemann preparados.

 
Três reinos naturais,
Através da Homeopatia
Portam mensagens vitais

 
Para a espécie, sem guerra,
Curada, ser nessa existência,
Por fim a Cura da Terra!

Edu Cezimbra, soneto moderno premiado no Concurso de Poesia do IHB

sábado, 9 de janeiro de 2016

A Biologia do Amor

A Natureza do Amor e o Amor da Natureza 


 


A Mãe Natureza é a expressão máxima do cuidado materno e feminino.
 

Propicia a gestação e o nascimento de infindáveis criaturas nos diversos reinos, brindando-nos com uma abundante biodiversidade alimentar de frutas, raízes, sementes e sabores.
 

Como é agradável aos olhos ver as mães de diferentes espécies lambendo, dando o seio e cuidando de suas crias! Cuidado este que é indispensável ao saudável desenvolvimento dos novos indivíduos. Ao se retirar por poucas horas um cordeirinho de perto de sua mãe, este já não brincará espontaneamente com outros de sua espécie.
 

Brincar em sua etimologia significa vínculo e estes vínculos são formados brincando.
 

Assim, em instituições para órfãos, uma criança que não é cuidada de maneira afetuosa tende a definhar, mesmo sendo alimentada.
 

Bom frisar que a natureza é mãe, feminina, e para as mulheres é bem mais fácil perceber este mistério do aparentemente separado ser uma inefável unidade na diversidade, pois gestam e parem a ambos, mulheres e homens, em um mesmo ventre.
 

Unidade na totalidade biológica do amor, na qual as partes contém e são contidas pelo todo, que aceita como complementares aparentes opostos.
 

Natureza e cultura, corpo e mente, hemisfério direito e esquerdo, céu e terra, água e fogo, masculino e feminino integrados, cuidando-se uns aos outros, propiciam harmonia e cooperação, imperceptíveis aos olhos embaçados do materialista, que vê na natureza a projeção de sua fantasia de separatividade. 

Fantasia de separatividade que mede, classifica e analisa a partir do intelecto e dos sentidos, emitindo conceitos e definições grandiloqüentes, sem vida, pois quem dá vida simplesmente a recebe e dá.

A biologia do amor pede ressonância entre mãe e filhos


 - Era uma vez, em um tempo muito distante, uma mágica transformação na mulher, que arredondava sua barriga como uma lua cheia, e após dava à luz a um novo ser vivo, e por isto a Mãe era doadora da fertilidade e da vida, venerada como Deusa.
 

Quando as Deusas foram travestidas em Deuses? No patriarcado.
 

O sentimento de revanche, domínio e conquista pela guerra dos reis e generais machos foi projetado em deuses vingativos e cruéis, que abonavam as atrocidades contra deusas de tribos indefesas, estupros, saques e escravidão dos vencidos e, principalmente, contra as mulheres e crianças.
 

Neste já longínquo e longuíssimo patriarcado, independentemente da denominação religiosa, seus deuses, de forma escancarada ou sutil, sempre avalizavam as atrocidades perpetradas contra as mulheres curandeiras, ervateiras, parteiras que pariam, embalavam, acalentando com seus cânticos os filhos e filhas da Mãe Terra, cuidando generosa e amorosamente suas criaturas.
 

Perdeu-se nesta longa “Kali Yuga”, no inconsciente da memória ancestral, uma herança inestimável de saberes e culturas originárias, perda esta que culmina na avassaladora crise ambiental e civilizacional de nossa época.
 

Infelizmente, em que pese a ascensão e queda de grande civilizações, surgimento de novos profetas e avatares, esta religião patriarcal ainda mantém sua hegemonia, ainda que inercialmente.
 

Toda esta reflexão me faz lembrar de Einstein que já dizia que “o mesmo tipo de pensamento que criou o problema, usado para tentar resolvê-lo, só pode agravá-lo.”
 

Assim, quando se tenta resolver questões urgentíssimas, como a crise ambiental e humana, que se escancarou nas últimas décadas, com decisões políticas e tecnocráticas da falsa religião do progresso, sustentadas pelo patriarcado e sua ideologia de “poder sobre”, percebemos que a tendência é agravarem-se estas crises.
 

A biologia do amor que Mama Pacha manifesta em cada nova flor, raiz de grama, fruto ou árvores radiosas pede ressonância entre mãe e filhos. Em outras palavras, nós, os filhos e filhas, devemos amá-la com a mesma reciprocidade.
 

Cuidar da natureza é amá-la como ela ama a seus filhos e filhas de todas as espécies. Aprender a amá-la é “re-ligare”, religiosidade atualizada, integrando o masculino e o feminino, enfim!

Edu Cezimbra, publicado em 2007 no blog Absoluta, criação do saudoso amigo Ricardo Martins

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Olhos de criança



Infância da imaginação, imaginação da infância



Saudades do deslumbramento de criança com o mundo, com a vida, com as "historinhas" (gibis) , filmes, com tudo...

O olhar de criança é de grande valia para um cientista, um poeta, um romancista, um pintor, um arquiteto; enfim, para todos os que precisam imaginar a sua obra.

Estava tentando imaginar como seria escrever uma crônica sobre o olhar de uma criança, há alguns dias, e nada...

Até que ontem apanhei na minha estante, ao acaso, um número da revista literária "Granta" e eis que me deparo com esta joia de texto de George Steiner intitulado "Heráldica", que me dou o trabalho de transcrever aqui:

"Era um guia ilustrado dos brasões de uma cidade principesca e dos feudos que a circundavam.(...) Até hoje sinto a tensão do deslumbramento, o choque interno que esse "pacificador" fortuito desencadeou. O que é difícil de traduzir em linguagem adulta é a combinação, quase fusão, de encantamento e ameaça, de fascínio e constrangimento, experimentada enquanto me retirava para o meu quarto, as calhas transbordando sob os beirais açoitados pela chuva, e nas horas cheias de encanto em que fiquei ali sentado virando as páginas, entregando à memória os nomes ostentosos de torres, castelos e personagens importantes."

Era isso que eu queria dizer, a "isso que eu me refiro"!

Esta fascinação pela coisa observada, um transe quase mediúnico, que não conhecia cansaço, tédio, tempo ou lugar, totalmente envolvido, em êxtase!

O tempo parava ao observar qualquer fenômeno da natureza, em especial tudo o que se movia, como a água correndo pelas ruas de terra batida, uma fileira de formigas carregando folhas de cinamomo no muro de casa, ou o bailado de uma libélula a lavar a roupa no tanque (chamávamos a libélula de lavadeira).

Recordo agora que meu avô Sejanes, quando já idoso, parava na porta de seu bazar Cairu ("vende mais barato que tu", escrito em uma diminuta plaquinha!) e ficava observando atentamente as formigas para meu espanto de adolescente...

Espero chegar a velhice com este olhar de criança do meu avô!...

Edu Cezimbra, verão de 2016, (na companhia das cigarras)


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

"Confissão sem fé"



Meu lado místico
Anda ombro-a-ombro
Com meu lado científico
Convalescente inquieto
Doutrinado na infância
Aprendeu o essencial 
Do dogma cristão
Adolescente cético
Recalcou a culpa
Cultuando mal-disfarçado
Ateísmo




 Edu Cezimbra, "foi lá por 86"




sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ensinamentos da natureza


Um dia primeiro de janeiro, feriado, em que aproveitei o ar fresco e o céu nublado para manejar o bambuzal no terreno de morro aqui de casa. 

Enxada não resolve, a remoção das raízes de bambu tem de ser com a picareta mesmo. 

Enquanto arrancava alguns brotos de bambu para permitir espaço para as mudas de arvores nativas que brotaram no morro dei-me conta de que algumas mudas cresciam junto com as raízes e que se eu as arrancasse viriam junto as mudinhas de arvores. 

E, também na vida, temos que saber ir manejando nossas raízes para que possamos permitir o surgimento de mudanças. 

Foi um bom ensinamento da natureza para o ano que se inicia!

Além de remover as raízes com cuidado, necessário se faz possibilitar a insolação para o crescimento das mudinhas de árvores nativas que as folhas de bambus altos impedem.

Um outro ensinamento da natureza que se pode tirar do manejo de um bambuzal: quando os grandes ideais que surgem de nossas raízes fazem sombra demais impossibilitam que as mudanças aconteçam.

Edu Cezimbra, verão de 2016.