segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Jogo com as palavras

 Se cedo madrugo,

  cedo ao verdugo.


Se aprendo tudo,

  apreendo o mundo.


Se o troco é miúdo,

         troco é muito.


Em corte de tarô,

    corte profundo.


No mato grosso,

    mato o almoço.

 

Como broto novo,

       broto no povo.


Porto Alegre, 20 de novembro de 2015.

Edu Cezimbra

sábado, 28 de novembro de 2015

Marco Zero

Desenho e poema: Edu Cezimbra, "Foi lá por 86"
Da vida
- Levo dor -
Marco zero
Do horror
- À morte -

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Por onde andará a paz?



"Se queres a paz, prepara-te para a guerra" é a máxima vigente. Por que motivo nunca se escreveu:"Se queres a guerra, prepara-te para a paz"?..

Mas haverá paz entre vencedores e derrotados, paz entre os militares sem uma guerra? Um exército sem guerra está em paz somente nos cemitérios militares onde "descansam em paz" os seus heroicos soldados.

Haverá paz enquanto houverem exércitos, indústria bélica, corrida armamentista, fronteiras e bandeiras?

“Se queres a paz, prepara-te para o amor”. O dito hippie e popular “faça amor, não faça a guerra”diz muito sobre o necessário salto de consciência para transcendermos a dicotomia guerra/paz.

Afora o lirismo da expressão, sua potência reside no reconhecimento dos pressupostos da paz, entre eles o amor. O cientista Wilhelm Reich, que de lírico não tinha nada, escrevia sobre a potência do amor: “Conhecimento, trabalho e amor natural são as fontes de nossa vida. Deveriam também governá-la; e a responsabilidade total deveria ser assumida pelos homens e mulheres que trabalham, em toda parte».

O “amor natural” a que Reich se refere é o que nos é negado por um sistema moralista e hipócrita “sempre alerta”, feito escoteiro da moral e bons costumes a coibir toda e qualquer manifestação de amor natural em nome da “família tradicional”.

Justiça social, direitos humanos, conhecimento, liberdade, solidariedade são alguns dos pressupostos para a paz, sem eles o que há é uma paródia de paz disfarçando o medo, a estagnação e a indiferença.

Aliás, o ideograma chinês contrário à paz não é guerra, e sim estagnação. Interessante, não? Os chineses tem na cosmovisão taoista uma maneira muito própria de entender as aparentes contradições através da geração do oposto complementar.

Mas, note bem, pressupostos não são garantia totais de paz, afinal, quem conhece história sabe que muitas sociedade e civilizações relativamente pacíficas foram e ainda são invadidas, saqueadas e devastadas por exércitos, armadas e piratas de estados imperialistas.

E, nem sempre a cultura garante a paz, como se viu na culta e educada Alemanha dominada pelo nazismo. Então, voltamos ao bom e velho Reich, que nos fala de uma peste emocional geradora do ódio, da perversidade e do fanatismo e que é terreno fértil para as ideologias totalitárias e belicosas.

Em um momento como este em que o planeta se vê ameaçado por tantas guerras, tragédias ambientais e humanitárias fica a pergunta:































 
Alegoria de Alexandre Machado sobre bandeira do "Pacto Röerich"




 
E se parássemos de guerrear conosco mesmo

haveria a paz tão almejada?

A paz tão decantada na bacia das almas...

A paz apascentada feito ovelhas nos campos verdes...

A paz de uma criança a dormir...alimentada.

Edu Cezimbra 


 .

sábado, 21 de novembro de 2015

DIA NACIONAL DA HOMEOPATIA

Hahnemann, criador da Homeopatia, esperando pacientemente o fim das iatrogenias. Parabéns aos homeopatas brasileiros, que não iatrogenizam seus pacientes, pelo 21/11, Dia Nacional da Homeopatia!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Aos fanáticos do concreto

No mato experimento
ar puro, ávores, pássaros.

Deixo para trás
o asfalto da cidade.

Aos fanáticos do concreto
deixo aqui o recado
de um velho barbudo:
"Tudo que é sólido desmancha no ar."

Porto Alegre, 20 de novembro de 2015.

Edu Cezimbra

Consciência Negra: “Cabelos que Negros”

Cabelo carapinha,
engruvinhado, de molinha,
que sem monotonia de lisura
mostra-esconde a surpresa de mil
espertas espirais,
cabelo puro que dizem que é duro,
cabelo belo que eu não corto à zero,
não nego, não anulo, assumo,
assino pixaim,
cabelo bom que dizem que é ruim
e que normal ao natural
fica bem em mim,
fica até o fim
porque eu quero,
porque eu gosto,
porque sim,
porque eu sou
pessoa negra e vou
ser mais eu, mais neguim
e ser mais ser
assim. 

Oliveira Silveira, poeta gaúcho, propositor do dia 20 de Novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, como "Dia da Consciência Negra".

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Mal traçadas linhas

Redescobrir o Brasil pela alfabetização e descolonização culturais


Desesconder o Brasil para si e para o continente latino-americano é premissa para a sua soberania
Eduardo Sejanes Cezimbra


Valorizar a identidade brasileira através de sua diversidade cultural é uma forma de redescobrir o Brasil, como nos lembra 'Notícias do Brasil, cantada por Milton Nascimento: “Uma notícia está chegando lá do interior / Não deu no rádio, no jornal ou na televisão / Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil /Não vai fazer desse lugar um bom país“.

Alfabetização cultural significa a cura do “complexo de vira-latas”, expressão utilizada atualmente para ilustrar a colonização das mentes e corpos dos brasileiros como podemos ver no jovem de corpo encurvado, voz abafada, olhar desviado, mas tênis e boné de marca norte-americana (fabricado na China) para levantar a sua vacilante auto-estima Será que levanta mesmo?

Pastores vestidos como executivos de empresas transnacionais gritam palavras de ordem da Bíblia neo-pentecostal do fundamentalismo religioso norte-americano para a clientela também vestida “socialmente” para o culto da prosperidade.

Um dos maiores sintomas desta colonização (senão o pior) são as viagens de brasileiros a Miami para compras de produtos fabricados na China! Deixam bilhões de dólares no exterior em compras de quinquilharias ao invés de investir em seu país, reclamando dos impostos.

Como ser autêntico, verdadeiro se toda a publicidade e a mídia te forçam a ser caricaturalmente estrangeiro em seu próprio país? De onde vem este complexo de vira-latas? Onde está escrito que os brasileiros não tem identidade própria?

Cabe lembrar aqui a tentativa de embranquecimento do Brasil para D. Pedro II reinar em um império europeizado, pois não queria ser imperador de negros, indígenas e mestiços, que felizmente ainda fazem parte da formação nosso país. A presença negra na Argentina é mínima perto do Brasil porque lá os negros foram exterminados mesmo, embora deixassem o tango como legado inolvidável de sua música nacional.

Para uma descolonização e alfabetização culturais eficazes é preciso sair da resistẽncia para a re-existência cultural, precisa desesconder o Brasil e seus vizinhos latino-americanos para uma coexistência pacífica baseada em raízes comuns.

Como tão bem ensinou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, recentemente falecido, descolonização cultural e alfabetização cultural, são gêmeas siamesas, andam de mãos dadas pelas trilhas das culturas populares brasileiras e latino-americanas.

Uma rede de solidariedade enraizada em pequenas cidades, nas periferias das metrópolis, nas casas humildes, capelas, terreiros, associações, aglutinam milhares de pessoas em atividades coletivas, irmanados no intuito de fazer acontecer uma festa.Esta festa dos 'de baixo' que na visão de Milton Santos, eminente geógrafo brasileiro farão a necessária transformação social brasileira, pode ser a Festa do Redescobrimento do Brasil.

Publicado originalmente em Ecologia dos Saberes


Porto Alegre, 10 de novembro de 2015.

Imagem: Carybé, Google

Edu Cezimbra

De Vida ou Morte


sábado, 7 de novembro de 2015

Amores Brutos e os novos homens de Gaia


Há uma outra luz, muito nova e quase invisível, ainda, mas real entre os machos da espécie.
Transcendendo à matrix que é a cultura que os educa a serem durões e sempre vencedores, esses novos homens de Gaia apontam para o recentíssimo masculino saudável do planeta.
Criaturas poderosas mas amorosas, yang mas sensíveis, solares mas não reizinhos...
É deles que fala Eduardo Sejanes Cezimbra, facilitador da RETRANS, dentista homeopata, terapeuta floral e, aliás, um belo exemplar da nova espécie.



Em "Amores Brutos" (Amores Perros), Iñarritu termina seu filme com esta dedicatória: "Para Luciano. Porque também somos o que perdemos." Outro título mais antigo, "Os brutos também amam", dois filmes por demais apropriados para iniciarmos esta conversa virtual.
Aliás, nada melhor que um círculo virtuoso para se sair de um círculo vicioso...
Os "Amores Brutos" dos machos da espécie já são por demais conhecidos: posse, ciúmes, abandono, traições, dominação, controle, poder, crimes passionais, violência contra mulheres e crianças.
A rinha de cachorros em que um dos personagens de "Amores Brutos" coloca seu animal na busca do enriquecimento rápido é uma metáfora do ter que vencer a qualquer custo, para ganhar a menina através de objetos de desejo consumista... As meninas que adoram meninos maus (bad boys) são reforçadoras deste círculo vicioso... O tênis de marca, o boné, o vídeogame com muitas armas e mortes sangrentas vai dessensibilizando e tornando banal tanto o consumismo de produtos de grife, quanto a violência, "fáceis" de se obter e descartar...
Também as três estórias que acontecem separadamente em "Amores Brutos", até que se entrecruzem, nos alertam para estas interações ocultas que se precipitam em trágicos acidentes de trânsito, denunciando vidas desperdiçadas.

Ironicamente, apesar de adentrarmos o novo milênio clamando por Paz, os meninos ainda são treinados para serem durões, cabelos cortados rentes, militares, para se diferenciarem das meninas, ganhando a qualquer preço e sendo incentivados a conquistarem todas elas ao mesmo tempo.
Como se meninos fossem apenas isto!

As imagens e objetos que mobilizam este comportamento competitivo e beligerante são sempre fálicas, percebem?
Armas de fogo, revólveres, carabinas, metralhadoras, espadas, carros potentes, e um futebol furioso, atrás de meter uma bola no gol para derrotar seu adversário.
Mas você pode estar se perguntando: sim, e daí?

Daí, que, muitas das vezes, a grande dificuldade dos meninos é obterem esta permissão familiar e social para demonstrarem sentimentos como amor, compaixão, solidariedade.
- Este menino é estranho!
Daí, muito se reclama dos índices de violência. Lembrando, as taxas de mortalidade entre homens jovens por acidentes de carro e armas de fogo são altíssimas, (40% das mortes são de jovens homens entre 20 e 29 anos), bem como as taxas de gravidez indesejada entre meninas adolescentes.
Afinal, o que estamos estimulando mesmo em nossas crianças e nossos jovens?!
Há muitas explicações racionais para estes acontecimentos, mas prefiro buscar no inconsciente coletivo estas projeções arquetípicas. São mais poéticas mesmo!
Os mitos que os regem ainda são os de Zeus, Teseu, Marte, Hércules, todos misóginos, machistas chauvinistas, prepotentes, fascistas e traidores. Heróis impiedosos, com morte violenta, morrendo em nome da honra, sempre em nome de uma bandeira de guerra. E, para que se constelem, ou seja, para que se manifestem em surtos psicóticos, ignorem seus alertas, mormente seus aspectos positivos.
Mas haveria algum deus ou semi-deus que pudesse se elevar acima deste manjado thriller hollywodiano ou mesmo de "Amores Brutos"?
Pois acreditem, existe!
Os mistérios de Orfeu (ver também Oxumarê, Osíris) com sua lira em forma de coração, integrando seu lado feminino, capaz de encantar os animais, vejam só, o artista, antena da raça, tão maltratado nestes últimos séculos de racionalismo, os aedos, trovadores e cantadores... Estes cantores das tradições orais, oráculos do Amor, da União entre os opostos complementares - sem lutas, por favor, já basta!
Em síntese, ressensibilizar o homem é permitir-lhe o viço do Amor Universal, um coração aberto e receptivo ao "chi" cósmico, a energia da Vida.
Aprender o aikidô, sabendo que derrotar um inimigo é encarar a sua própria derrota, pois a luta rompe a sutil Unidade da Totalidade que é o Amor.
O Novo Homem de Gaia será o seu Orfeu, Oxumarê, Osíris, homem sensível, amoroso, compassivo, aquele que se viu na beleza da sua amada e para ela doou sua própria vida, capaz de descer aos infernos para a resgatar, sem se prender ao passado, seu erro fatal, o apego material que o faz olhar para trás em busca de sua amada Eurídice, pois:

T(E) = ARTE, TEMPO é ARTE!

Como já cantou nosso querido poetinha:

Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Morais

Dedicado a meu Doce Amor, que soube lapidar este Amor Bruto.

Eduardo Sejanes Cezimbra
57 anos, dentista homeopata, terapeuta floral, hipnólogo e facilitador da RETRANS - Rede Transcultural  Holista/Main#Profile.aspx?uid=8949955234760262404
ecezimbra@gmail.com
PORTO ALEGRE/RS

Amores Perros/Trailer: http://br.youtube.com/watch?v=XToRtfQbeHg
Ilustrações: Edição de arte a partir de fotos de ADOBE IMAGES

Manchete


Capa da Revista Manchete, 11/03/1989. A revista já não circula mais, há muito tempo, mas os problemas seguem os mesmos, agora sem manchetes.

Tuitada: "LIBERDADE DE IMPRENSA"


"Liberdade de imprensa" para a grande mídia é como voz de prisão: "Você tem o direito de ficar calado".