quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Pai, afasta de mim esse cálice


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa


'Feito na calada da noite' é coisa de malfeitores. Mas o que fazer depois do malfeito? O que dizer se não há mais nada a fazer? 

Na calada da noite eu me dano se não falo nada ou me calo por medo.

Pois é na calada da noite que se ouve melhor...

Foi feito na calada da noite mas fez um barulho e tanto.

Quando é 'fato consumado na calada da noite' nada melhor que seja 'fogo-fátuo'.

Mas não confunda fogo-fátuo com fato consumado. 

O que Chico Buarque denuncia com sua música 'Cálice' é que muitos que não calaram foram presos, torturados e mortos pela ditadura militar.

Em muitos casos foi preciso calar para não ir para o calabouço.

Mas não confunda calabouço com 'cala-boca' como fazem as ditaduras:




Porto Alegre, 30 de novembro de 2016.

Foto: Mídia Ninja

Edu Cezimbra

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Aos guerreiros da Chapecoense



Navegar é preciso, não é preciso viver,
Disse o general romano Pompeu
Aos seus marinheiros rumo ao combate.
Na guerra a morte é próxima
O que não é certo é a morte em um voo.
Aconteceu em Medellín, na Colômbia,
Quando o pássaro de ferro na serra desintegrou,
As asas de mais um ícaro derreteram ao sol.
Na barriga deste pássaro de ferro
Voavam jovens atletas da ‘Chape’ do futebol.

A final da Copa Sul-Americana iriam disputar.
O verde e o branco nesse trágico dia
Misturaram-se com o barro…
Em choque, clamamos às musas, socorro poesia:
Mas quando muitos homens morrem
Seja qual for em uma guerra estavam juntos.
Uma batalha travaram com coragem e sacrifício
Em busca dos louros da vitória. Sob suas asas,
Serão os heróis do povo,  em prosa e verso  cantados,
Da  nação orgulhos, eternamente lembrados.

Porto Alegre, 29 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra  

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Trem noturno para o interior



"Seriam os joelhos morenos de Maria João ou o perfume do sabonete em seu vestido claro aos quais quero voltar? Ou se trata do desejo - o desejo patético, de sonhos - de voltar àquele ponto da minha vida e tomar um rumo bem diferente do que aquele que fez de mim o que sou agora?"
As reflexões originais e intensas do médico português Amadeu de Almeida Prado fazem o professor de línguas clássicas Raimund Gregorius largar uma vida regrada e monótona em Berna para pegar o "trem noturno para Lisboa", título do romance de Pascal Mercier , pseudônimo do filósofo Peter Bieri. 

A fuga de 'Mundus' também parte do encontro com uma misteriosa mulher, cuja 'língua materna' é o nosso português (ou melhor, o 'purtugueis' de Portugal).

Foi esse encontro 'ao acaso' com uma mulher estrangeira em Berna que fez Gregorius dar a guinada brusca em sua insípida vida e partir para Lisboa em busca de algo indefinido para ele.

Não por acaso escolhi a citação que conta de uma outra mulher, na época, a menina Maria João,'de joelhos morenos e vestido recendendo a sabonete'.

Chamo a atenção aí para a importãncia das mulheres como catalizadoras de mudanças nos homens, as musas inspiradoras, ou mesmo a 'anima' arquetípica descrita por Jung.

O filólogo 'Mundus' lê as palavras em português encantado com a beleza das mesmas:

" - Um ourives das palavras, não é belo esse título?
- Calmo e elegante. Como prata fosca. Por favor, pode repetí-lo em português?
O livreiro repetiu as palavras. Era evidente que , para além das palavras, ele se deliciava com a sua sonoridade aveluda"
Afinal, o que fez mesmo Raimund Gregorius mudar tão repentinamente?

Arriscaria que essa expressão "pegar o trem noturno para Lisboa", já consagrada como figura de linguagem para uma mudança radical de vida só acontece porque em 'Mundus' - e em cada um de nós - existe um 'fruto do carvalho', expressão cunhada pelo psicólogo James Hillman no seu livro 'O Código do Ser': quando mais cedo ou mais tarde escutamos a voz interior da alma, nosso daimon, e nos tornamos o que sempre fomos.


Porto Alegre, 28 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra  
 
 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Breque Friday




Hoje tem 'brequefridei'!

Mas não foi em outubro?

Não, esse foi o 'rauolim'. Hoje tem 'liquida'...

Valha-me, Nossa Senhora, diria Ariano Suassuna ao escutar um 'diálogo' desses...

Que facilidade de imitar o que não é nosso, em sendo dos 'isteites', -  agora 'Black Friday' já é demais, não?

Ah, quéquitem...vamos aproveitar que está tudo mais 'em conta'...

Sei, a conta vai aumentar.

Mas quem resiste a tanta tentação? Tudo mais barato!

Barato que sai caro... Reza um 'Pobre-Nosso' assim: "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos das dívidas."

Chato, vê quanta pechicha nas lojas...

Ecochato, - repete comigo: "só por hoje não comprarei nada."

Logo hoje?!

Especialmente, hoje, e nas próximas sextas liquidadas...

Mas olha que barbada essa Laser TV de cem polegadas!

Barbada só a mulher de circo, isso há muito tempo atrás...

E essa promoção? Tem uma oferta imperdível!

Imperdível é a vida sem dívidas.

Pô, dá um desconto...

Desconto é  'conto do vigário', quer que eu conte?

Deixa pra lá, não me conta...

Porto Alegre, 26 de novembro de 2016.

Foto: News

Edu Cezimbra


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Abaixo a repressão



Na hora do orgasmo

Bem na hora do gozo

Alguém te bate no ombro:

“Tu não pode gozar, cara”


- Não se submeta à repressão

Abra as comportas da represa

Diminua essa pressão

Mas não tenha pressa

Orgasmo não é nenhuma provação


Faça a sua regra

Seja a exceção

Puxa um bonde do desejo expresso

Em busca de tesão


Não entre em recesso

Caga para a reprovação

Se tua é a vida

A ninguém deves satisfação
 
Porto Alegre, 25 de novembro de 2016.
 
Foto: Teto da Capela Sistina, Vaticano
 
Edu Cezimbra 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O semeador de palavras



De tanto ouvir "tem que falar menos e agir mais" optou por ficar em silêncio. 

Começou a escrever. Não com a pretensão de se tornar escritor, nada disso...

É que, como se tornara silencioso, precisava de algo para não esquecer as palavras.

Lá no fundo, bem no fundo, ficava muito aborrecido quando ouvia essa condenação absoluta das palavras.

Sempre sentira muito prazer em lecionar oratória. Com o passar inexorável do tempo percebeu que suas aulas eram mesmo palavras jogadas ao vento, quando não flechas envenenadas...

Pensou que melhor que jogar palavras fora seria plantá-las nas páginas em branco de um caderno.

Não com a intenção de publicá-las em livros. Mais com o intuito de guardar, de armazenar as palavras, feito um banco de sementes aptas a germinar ideias.

Além do mais sempre gostara de escrever por escrever mesmo... Obtinha um prazer secreto em semear uma palavra na folha e ver que ela puxava mais palavras formando frases antes impensadas.

Aí, com pouco esforço, era como se abrisse uma fonte de onde jorravam abundantes muitas palavras novas.

Não precisava mais procurar, elas é que buscavam ávidas a ponta de sua caneta-tinteiro, formando uma nascente onde podia saciar sua sede de poesia e de literatura.

Não mais se aborrecia com as críticas acerbas a suas adoradas palavras. Sabia que elas estavam bem cuidadas  nas páginas de seu caderno de pauta... 


Porto Alegre, 23 de novembro de 2016.


Edu Cezimbra


Don Quijote


Pictograma  "Don Quijote de La Mancha" baseado em gravura da edição cubana do livro de Cervantes.

 

Porto Alegre, 23 de novembro de 2016.

 Foto: Francisco D. Cezimbra

Edu Cezimbra




terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Som ao Redor





Olha a música

Como se fosse uma cena

Por força do dito popular 

Não se ouve apenas

Olha só o canto do sabiá

Tem tons de verde da mata

Notas de flor de laranjeira

Esvoaçando pelo ar

Tem cores das rosas

O som ao redor

Pinta de azul o céu

Com pinceladas de sol


Porto Alegre, 22 de novembro.

Edu Cezimbra


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O nascimento da humanidade


Quem diria, nós, seres humanos, evoluímos na marra, obrigados pelas mudanças climáticas imprevisíveis e bruscas há mais de um milhão e meio de anos.

Um tal de Homo erectus assim que deu as caras no planeta já teve que partir atrás de novos campos de caça.

Calculam que na impressionante velocidade de um quilômetro por ano saíram da África e logo depois de quinze mil anos já estavam veraneando na Indonésia.

Mas a viagem não foi um passeio, não. Quase estivemos à beira da extinção. Segundo alguns pesquisadores a espécie humana descende de um grupo pequeno, claro que não tão pequeno quanto nos conta a Bíblia (sempre conservadora)...

Inacreditável como aquele macaco nu conseguiu se virar com poucos recursos tais como a força de um tigre dente-de-sabre ou a agilidade de um de seus muitos 'primos'.

Agora senta que eu vou te contar a grande vantagem evolutiva desse ser tão frágil: cuidar uns dos outros - tem lógica, não?

Fomos sempre muito sociáveis, diferentemente dos chimpanzés...

Por sermos eretos caminhávamos muito e para caçar corríamos mais ainda, até matar a caça  no cansaço...sério! 

Após essa correria (termo que permanece) voltávamos para o acampamento e em volta de uma fogueira cozinhávamos a carne, contando as proezas do dia, catando os piolhos uns dos outros.

Vira a folhinha, pulemos para nossa época, agora...O que temos? Uma mudança climática imprevisível e brusca, igual às condições que obrigaram a espécie humana a evoluir na marra. 

A brutal diferença é que viramos uma espécie sedentária, obesos e isolados uns dos outros, em que pese sermos bilhões de seres humanos.

Não dá para deixar de lembrar dos neandertais, nessa hora H. Tão humanos quantos nós, mas foram extintos há mais de vinte mil anos por não terem conseguido evoluir diante das mudanças climáticas e 'sociais' do seu tempo...


Porto Alegre, 21 de novembro de 2016.

Foto: Divulgação/ Neanderthal Museum

Edu Cezimbra



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Norma e Orfeu da Conceição


Era uma vez uma pessoa normal que morava em um reino muito distante.

Como pessoa normal tinha um nome normal, o mais comum dos nomes naquela longínqua região do mundo: Norma.

Norma vivia segundo as normas de seu próspero burgo. Com o perdão do trocadilho infame, era literalmente de uma normalidade burguesa...

Norma, em poucas palavras, era uma criatura invisível aos olhos dos outros moradores da cidade que, como ninguém, sabem ser as pessoas normais.

Vestia-se de maneira tão obediente ao figurino que era impossível distinguí-la dos outros transeuntes.

Paradoxalmente, todos seguiam a Norma por sua pontualidade britânica e estrito senso do dever.

Assim, quando a Norma acordava ao primeiro canto do galo, todos acordavam juntos para cumprir suas obrigações diárias.

Quando ia à igreja todos iam atrás da Norma.

Era seguida fielmente em todas as atividades que exigissem sacrifício e austeridade.
 
O segredo de Norma?, sua insuperável capacidade de contágio.

Era uma espécie de 'peste emocional', que se alastrava por todos os cantos, nada nem ninguém escapavam ao seu poder de contaminação.

Até que em um dia qualquer apareceu no burgo um trovador,  que ao som de sua lira, cantou as façanhas e as peripécias de personagens lendários, - justo na hora em que Norma e seu séquito iam às compras no mercado central.

Foi tamanha a surpresa da Norma que ela tropeçou e caiu. 

Imediatamente todas as pessoas da cidade começaram a dançar e a cantar alegremente, sem parar, até o dia raiar, no ritmo do inspirado menestrel cujo nome, incomum na cidade, era Orfeu da Conceição...

E a Norma, embora quebrada, encontra-se em estado regular, esperando a festa acabar... 

Porto Alegre, 17 de novembro de 2016.

Foto: cena do filme 'A Festa de Babette'

Edu Cezimbra




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Doce Amor


 Para DA - ela sabe que é, e sempre será ...

 

"Foi lá por 88"

Foto: Francisco D. Cezimbra

Edu Cezimbra

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Super Lua


Pictograma lembrando a Super Lua de ontem, 14 de novembro.


Porto Alegre, 15 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Poesia Roxa


Roxa poesia
Como o ar
Tudo vai
Se alegrar
Como o céu
Ilumina o ar
Todo dia
Vamos sair
Para colher
Frutinhas roxas


Poesia da Íris 'Flores', minha netinha de 5 anos, que dita poesia de uma vez e sem pensar! Já posso me aposentar...


Porto Alegre, 14 de novembro de 2016.

Desenho do Vô Edu


domingo, 13 de novembro de 2016

As linhas do pensamento




Retilíneas ou curvilíneas podem ser as linhas…

Mas quando se pensa em linhas o que vem primeiro à mente? Linhas retas ou linhas curvas? 
 
Fácil de verificar: basta ver as linhas desse texto… retas, assim como são as linhas de um caderno com pauta.

Linhas são associadas inconscientemente a retas, concorda?

E as ‘linhas do pensamento’ seriam retas, correto?

É o que veremos...

Lembrei-me da primeira vinda de Bill Mollison, o ‘pai da permacultura’ a Porto Alegre, 'lá por 88', quando depois de muitas críticas ao sistema político vigente, um militante do PT o chamou de anarquista.

Ao que Mollison respondeu traçando linhas no papel do 'rotafolio'. O anarquista pensa assim: ‘linhas retas’, a natureza age assim: ‘linhas curvas’.

Ouvi de um outro permacultor que o sistema usava golpes de karatê enquanto a permacultura se valia do aikidô.

Um golpe de karatê vai reto - e direto - contra o oponente, já o aikidô faz movimentos curvilíneos, sinuosos, até espiralados, que se vale da força retilínea do golpe de karatê, por assim dizer, para fazer o adversário dançar.

Então, podemos deduzir que uma linha de pensamento pode ser unidirecional como costumam ser as ortodoxias dominantes ou multidirecionais, contemplando muitos pontos de vista, o que é muito mais abrangente, e portanto mais próximas da natureza.

Metáforas, metáforas, disse o poeta Neruda para seu amigo carteiro lhe mostrando o que é a poesia... 
                                                                                                                                                                                                   

                                                                                             Porto Alegre, 13 de novembro de 2016
Edu Cezimbra 




 

 


 

sábado, 12 de novembro de 2016

Baobá


Pictograma em homenagem ao 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.


Porto Alegre, 12 de nvembro de 2016.

Foto: Francisco D. Cezimbra

Edu Cezimbra

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Pictograma


'Pictograma'  inspirado na ilustração 'O elefante e o caracol' de Bárbara Castro Urio para o livro 'Decrescimento: vocabulário para um novo mundo', da TOMO Editorial.


Porto Alegre, 11 de novembro de 2016.

Foto: Francisco D. Cezimbra

Edu Cezimbra

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Quem conta um conto aumenta um ponto


"Era uma vez, em um país muito distante": sempre iniciam assim os contos de fadas, provavelmente protegendo a cabeça do contista...

Até existem contos sem fadas, já percebeu? Mas isso não vem ao caso, o que importa é que "foram felizes para sempre"! FIM

Acabou aí a história... Mas, e se fossem tranformados em 'séries de fadas'? Aí complicou...

Imagina só: depois da cena final em que o príncipe leva sua linda e deslumbrada princesa na garupa de seu fogoso cavalo branco para seu gigantesco castelo, ao invés do 'FIM', um aviso: 'continua no próximo epsódio'. 

Sei, corre o risco de virar novela, concordo...

Mas imagina a cena inicial do 'próximo epsódio' de Branca de Neve:

- Bom dia, princesa. Dormiu bem?

- Como uma rainha! (espreguiçando-se gostosamente)... 

- Psiu, fale baixo, que a rainha-mãe dorme nos aposentos reais ao lado de nosso quarto nupcial, e logo virá com o rei e sua comitiva verificar nossos lençóis.

Por aí dá para sentir que a continuação do conto seria sem fadas e, pelo andar da carruagem, a essas horas tranplantada para a horta do castelo real, a história ou viraria mesmo uma 'novela das seis', drama ou algo que o valha.

Particularmente, há muito deixei de assistir novelas ou séries... Talvez porque goste de contos de fadas com finais felizes... hihihi (riso de bruxa)...

É que não gosto de repetições, todos os dias, durante meses a fio, as mesmas caras, falando as mesma coisas, 'Boa noite, Cinderela'...

Prefiro mesmo ver em letras garrafais 'FIM', com ou sem final feliz.

Até porque se contos  virassem 'séries de fadas' seriam proibidos para menores de 18...16...14...12 anos?, mas isso já é outra história.

FIM


Porto Alegre, 10 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra



A ranzinha e a estrelinha



Foi tão forte a ventania que a ranzinha voou pro alto e colheu uma estrelinha no céu. Depois - tchbum - caiu no balde de água da chuva - splash!

Porto Alegre, 7 de novembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Perguntas dentro da democracia


Novembro, mês do Dia da Consciência Negra e da Proclamação da República.


Porto Alegre, 9 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra

Face a Face


  • Um certo partido nanico prega a Jesuscracia. Embora não explicite, nas entrelinhas deixa tácito que é para exorcizar a Democracia.
  • É possível ser feliz com pouco, aliás, é condição 'sine qua non' para a felicidade genuína...
  •  Tem torcedor preocupado com o rebaixamente de seu clube do coração para a série B sem se dar conta que o pior rebaixamento para a segunda divisão foi do Brasil após o golpe.
  • A crise de interpretação de texto está tão grave que é um perigo fazer ironias e sarcasmos no facebook. Muita gente interpreta a seu 'bel-prazer' e até se identifica com analogias de certo candidato com Hitler. Por isso não compartilho essas 'gracinhas'...
  • O capitalismo quer que aprendas a pescar com caniço e anzol enquanto o capitalista pesca com redes de arrastão.
  • Brasília, hoje, tem formato de B-52 bombardeando nossas inocentes hiroshimas e nagasakis com suas pecs atômicas...
  • Não demora vão crucificar o Papa. 
  • O Assange diz que Hillary é a candidata dos 1%. Péra, aí o Trump vota nela também?...Julian, vamos deixar por 0,99%, e não se fala mais nisso, ok?
  • Mujica e Francisco, quando a 'liturgia do cargo' toca as pessoas...
  • Ficção é uma mentira verdadeira em que qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidẽncia.

Facebook, novembro de 2016.

Edu Cezimbra

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Mujica a 'nosotros' representa



A primeira vez que li algo surpreendente, dito por Mujica, foi lá por 2011. Estava em Colonia del Sacramento. Comprei um diário uruguaio, abanquei-me na praça em frente ao hotel e logo me deparei com uma longa entrevista do então Presidente da República.

Lá pelas tantas ele declara, sem papas na língua, que 'os uruguaios não são fanáticos pelo trabalho, embora haja excessões"...

E o que me impressionou e alegrou vivamente foi que Mujica não estava criticando seus compatriotas pela 'falta de fanatismo' ao trabalho, mas sim, conclamando-os a não se matarem trabalhando.

A partir dessa entrevista que, para mim, foi uma espécie de identificação imediata com suas ideias e visão de mundo pude acompanhar sua crescente influência mundial.

Para ter uma ideia dessa influência há até um livro infantil em japonês traduzindo suas propostas para um mundo melhor e sua biografia já foi traduzida em mais de vinte países.

Que fenômeno de comunicação de massa é Pepe Mujica? Fenômeno inexplicável para os modelos atuais. Mujica não é nenhum astro de música pop, nem uma celebridade hollywoodiana, nem presidente de uma grande potência mundial, mas aonde quer que vá atrai multidões para lhe ouvir.

Qual o seu segredo?, devem se perguntar os marqueteiros políticos e publicitários de marcas.

Bom, talvez não tenha segredos mesmo...

Vida simples, casa humilde, um fusca velho para se deslocar, assim é Mujica.

Quando Presidente do Uruguay doava a maior parte do seu alto salário para organizações populares que tocavam projetos sociais.

Outro aspecto relevante de sua extensa biografia política é encarar de frente questões espinhosas como descriminalização da maconha e do aborto que colocaram o Uruguay na vanguarda mundial de políticas públicas bem sucedidas nessas áreas polêmicas para a opinião pública.

Também não poupa palavras quando se trata de sacudir o 'status quo', o 'establishment' e o 'mainstream'. Por isso, suas muitas aparições em eventos internacionais, entre eles conferências da ONU, são marcadas por sua contribuição original ao debate das questões emergentes.

Pergunto: qual é a maior contribuição de Mujica ao mundo em crise?

- É possível ser feliz com pouco, aliás, é condição 'sine qua non' para a felicidade genuína... 

E, aí aparece a sua grande capacidade de convencimento, tão grande que incomoda muita gente moldada pelo sistema capitalista globalizado.

Essa mensagem de vida simples e de baixo consumismo não significa que ignore a grave situação de desigualdade e injustiça que atravessa o planeta.

Nesse ponto, Pepe Mujica trata é de reafirmar os princípios da igualdade e da justiça, amparados pela política e pela democracia que tanto preza.

"Mais um discurso", dirão os céticos da política, ressabiados com as muitas promessas eleitoreiras.

Não é o caso de Pepe, que já não é candidato a nada, e que é um dos raros políticos que atualmente pode se dar ao luxo de escutar a declaração emocionada de muita gente,mundo a fora, na qual me incluo: 

" Mujica nos representa!"

Porto Alegre, 8 de novembro de 2016.


Edu Cezimbra 




domingo, 6 de novembro de 2016

Os novos comentaristas de futebol e política


- Vamos ouvir o torcedor. Seu nome e cidade, o que está achando do jogo, amigo?

- Claudiney, de Morro Redondo. O jogo no primeiro tempo foi muito mais de força do que qualidade técnica devido às condições do gramado. Precisamos mexer no ataque pois fomos pouco agudos no quesito ofensivo e o meio-de-campo tem que jogar mais compactado para dominar o setor. 

Parece mesmo um comentarista de futebol ou técnico, digo, 'professor', não?

Quem ainda escuta futebol no rádio reconhecerá que o comentário do fanático torcedor não foge da realidade das arquibancadas.

Demonstra que, como já disse alguém, "todo brasileiro é um técnico de futebol" e atualmente "um tarimbado comentarista de futebol", digo eu...

Atualmente com o advento das redes sociais na internet apareceu outra figura que também se arroga de comentarista, só que político.

Se entrevistado, o teor de seus comentários seria mais ou menos assim:

- Jacinto Filho, de Pau Fincado. Olha, eu não gosto de política. São todos 'ladrão' e tem que prender todos os petistas e acabar com esses comunistas.

- E a eleição?

- Eu voto nas pessoas, mas não nos petistas, esses que quebraram o Brasil e querem acabar com a família brasileira defendendo 'gay' e bandido e que ensinam comunismo na escola.  

Quem tem estômago e consegue ler esse tipo de comentário sabe que são bastante comuns, infelizmente.

O mais estarrecedor é que esses 'comentaristas políticos' também poderiam emitir suas abalizadas opiniões em qualquer veículo de comunicação brasileiro. seja rádio, TV, jornal ou revista, que não destoariam da linha editorial dessas empresas de 'jornalismo' e de seus asseclas.

E mais, muitos deles são candidatos a um mandato político, e o pior é que muitos estão se elegendo com o discurso fácil de que 'não sou político', 'não tenho estratégia', e todas essas falácias marqueteiras.

A minha dúvida é se teremos maturidade política para mudarmos esse quadro tétrico da política brasileira - algum dia -, que pelo andar da carroça está bem distante...

Para ser sincero,  minha aposta não é nos que estão dentro das instituições formais.

Aposto todas as minhas fichas nos jovens que estão ocupando escolas, universidades e outros espaços aprendendo e nos ensinando novas formas de atuação política.

Vou torcer muito por esse time...


Porto Alegre, 6 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra












sábado, 5 de novembro de 2016

Concretismo parnasiano






Rimas pobres
                rimas ricas
                ricas rimas
           precisar rimar
     maior dever
                 do poeta

Rigor métrico
                   canônico código
                   código canônico
          máximo rigor 
                        da poesia

Roteiro programático
                         modelo máximo
                         máximo modelo
              parnasiana estética
                               do poema

Regra academicista
                        contenção cadenciada
                        cadenciada contenção
          assídua disciplina
                        do parnaso 

Porto Alegre, 5 de novembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra
 
 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Nos alambrados das palavras e das frases


Frases são palavras alinhadas em uma sequência lógica e as palavras são sílabas justapostas.

Até aqui nenhuma novidade...

Então as frases são orações com sujeito, verbo, predicado e objeto direto ou indireto... Não, isso é gramática.

Já o dicionário contém palavras organizadas em ordem alfabética, porém não adianta decorar todas as suas palavras para entender ou escrever uma frase.

As palavras até podem estar alinhadas em um dicionário mas não formam frases. Note bem: nenhuma frase. Formam, isso sim, o léxico de uma língua.

E aí lembro do dislético. Será o sujeito que não sabe ler? Também não. Dislexia é quando não se consegue dar sentido às palavras encadeadas em uma frase.

Até se pode dizer sem ser politicamente incorreto  que o analfabeto mais difícil é o dislético que não consegue ler por uma lesão cerebral.

O analfabeto funcional não tem lesão cerebral...visível.

Temos também a figura do frasista. Aquele personagem, hoje muito atuante no Facebook e no Twitter, que escreve frases intencionalmente engraçadas (ao menos para ele)...

Há quem conheça as letras e como dizia aquele 'índio véio' da campanha gaúcha, "não sei acoierá (acolherar) as letras"....

Mal sabe o 'campônio' que mesmo depois de 'parar rodeio' das letras a boiada prosseguirá desgarrada. 

Para 'tocar a boiada' é preciso o sinuelo do sentido, que até  boi entende...

Tchê, acho que não entendi ( o gaúcho do campo não falaria assim). Antes diria: "tô mais perdido que cusco em tiroteio ou cego em procissão".

Agora faça o seguinte: dê ao 'vivente' o livro de poesia gauchesca do João da Cunha Vargas ou mesmo um livro do João Simões Lopes Neto, seja 'Contos Gauchescos ou 'Lendas do Sul'. 

Capaz de entender as frases até por adivinhação!

E, curioso, o leitor de outras regiões é que não entenderia metade das palavras e das frases.

Por exemplo, este parágrafo do livro de Cyro Martins, 'Estrada Nova':


"Janguta sofrenou o matungo, cravou-lhe as esporas e derrubou-lhe o rebenque virilha abaixo. O tostado que tropicara por vir estropiado e meio dormindo na mormaceira da estrada, depois de trotear três ou quatro léguas no pedregulho áspero espantou-se com o relhaço e enveredou para um lado, de pescoço torcido, o freio agarrado nos dentes, cego, à toa, indo esbarrar de peito na beira do alambrado."

Entendeu?... 


Porto Alegre, 4 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra







quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O alimento do amor


Aos amantes e poetas, que fazem da poesia alimento do amor!

Porto Alegre, 3 de novembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Diário de Finados


No Brasil é 'Dia dos Finados', uma maneira cerimoniosa de nomear os 'falecidos', ou melhor, os mortos: o 'finado Fulano de Tal', o 'finado meu avô', a 'finada minha tia'.

Diferente do México, que nesse dia faz um barulhento carnaval com visitas e 'velórios' nos túmulos dos familiares, levando comida e bebida para seus mortos, no que denominam 'Dia de Los Muertos'.

Não tenho a menor ideia de onde se origina essa forma tão obtusa de lidar com a morte no Brasil.

Até parece que os mortos são culpados por...morrerem.

Pensando bem, não difere muito de quem tem um câncer.

Talvez aí, uma pista desse mistério brasileiro: a negação do câncer (epidêmico) e da morte.

Lembro que quando guri tinha um medo danado de tudo que se relacionasse com a morte.

Passava do outro lado do da rua, sem olhar para os 'caixões de defunto' (outro jeitinho brasileiro de chamar o morto) da 'armadoria' (funerária) perto de casa. 

O 'pano preto' na frente da casa onde se velava o morto também era de arrepiar, assim como todo o aparato do velório que se estendia noite a dentro.

Outro pavor que tinha era de ser enterrado, vivo ou morto; imaginava como seria horrível ficar fechado em um caixão enterrado em uma cova ou emparedado em um cemitério.

E o drama não acabava com o enterro do finado, não...muito pelo contrário.

Havia um longo período de luto familiar onde o viúvo ou viúva se fardava de preto e assim circulavam pelas ruas da cidade com o rosto lamurioso de quem sofria uma dor irreparável.

A presença de um familiar do morto em uma festa era motivo de falatório na vizinhança, que dirá dar uma festa, estas estavam adiadas até o final do longo período obrigatório de luto.

Para ter uma ideia do interdito basta ir ao Teatro Colón, em Buenos Aires, e verificar os furos nas paredes, perto do palco, que eram usados pelas viúvas ricas para assistirem suas óperas preferidas sem se exibirem em público.

Acho que a diferença básica entre o México e o Brasil é a maneira de encarar a Morte.

No Brasil, a morte é vista como uma derrota tão abominável quanto o câncer.

Já no México a Morte tem uma conotação de celebração...da vida, assumindo 'La Muerte' como uma dimensão do mundo dos vivos.

Ou seja, há uma aceitação da Morte e de seus inexoráveis seguidores, que somos todos nós, os vivos e os mortos...

Fernando Pessoa assim cantou a Morte:

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Porto Alegre, 2 de novembro de 2016.

Foto: "Jarro preto  e caveira", de Pablo Picasso

Edu Cezimbra