terça-feira, 31 de julho de 2018

Vós sois voz





Vós sois
Voz só

Voz das águas
Vós sois água

Vós sois sede
Voz da sede

Sede vós
Sede da voz


Porto Alegre, 31 de julho de 2018.
Imagem: Pinterest
Edu Cezimbra

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Viva o Povo Brasileiro


- Se reconhece a ignorância de seu povo, então reconhece que aqueles que não são ignorantes têm o dever de conduzir o resto.

Maria da Fé. líder da resistência popular brasileira, responde ao tenente do exército, aprisionado pelo seu grupo, no sertão de Canudos, desse jeito:

- E vocês não se acham ignorantes? Você sabe tecer o tecido que o veste? Sabe curtir, tratar e coser o couro que o calça? Sabe criar, matar e cozinhar o boi que o alimenta? Sabe forjar o ferro de que é feita sua arma? A sua ignorância é maior do que a nossa. Vocês não sabem o que é bom para nós, não sabem nem o que é bom para vocês. Vocês não sabem de nós. Chegará talvez o dia em que um de nós lhes parecerá mais estrangeiro do que qualquer dos estrangeiros a quem vocês dedicam vassalagem. O povo brasileiro somos nós, nós é quem somos vocês, vocês não são nada sem nós. Vocês não podem nos ensinar nada, porque não querem ensinar, pois todo ensino requer que quem ensine também aprenda e vocês não querem aprender, vocês querem impor, vocês querem moldar, vocês só querem dominar.

Em outro momento do romance, o general reformado Patrício Macário contesta seu irmão banqueiro que chama o povo brasileiro de “degenerado, mestiços sem inteligência, sem firmeza de caráter, sem qualquer qualidade positiva”.

- Você fala como se esse povo lhe fosse estrangeiro,como se nem pertence à mesma espécie que nós.(...) A que diabo de povinho você se refere? Para você todo mundo é povinho, com exceção de quatro ou cinco gatos pingados que você julga estarem à sua altura. Que povinho? Todos? Porque são todos, realmente todos os brasileiros, a que você se refere com esse desprezo. Eu não quero dizer que seus benditos privilégios devam ser tomados, fiquem com eles, mas veja que para isso não é necessário escravizar o povo, mantê-lo na miséria, na ignorância e na doença. Não está vendo que não pode hver um país decente, um país forte, como você diz, cujo povo se já de escravos, miseráveis, doentes e famintos.

Maria da Fé e Patrício Macário são dois personagens marcantes do romance épico de João Ubaldo Ribeiro, “Viva o Povo Brasileiro”.

Ambos mestiços, filhos de pais brancos e mães negras, são o casal arquetípico do povo brasileiro, por assim dizer.

Deles vieram e virão os irmãos e irmãs que formam a Irmandade da Casa de Farinha que se reconhece pela saudação ensinada pelo negro Dandão, seu fundador:

 A saudação, disse ele, é necessária, por isso que não há gente que não a faça, pois ela quer dizer que não somos loucos, já que sabemos que não estamos sozinhos neste mundo, vivemos no meio dos outros e só por causa dos outros é que podemos ser quem somos, do contrário não somos; quer também dizer que cada um dos outros existe, pois, se ninguém saudasse ninguém, todos iam pensar que não existem; quer dizer também que não somos ignorantes...
- A nossa saudação - gritou de repente, levantando o punho fechado e esmurrando o ar à frente do rosto - é assim: viva nós!"


Viva o Povo Brasileiro!

Porto Alegre, 30 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Sexo, drogas e facebook


Sexo, drogas e facebook

Todos causam dependência quando em exagero.

E o rock’n roll onde ficou?

O rock não mais rolou…

O sexo viralizou

A droga encapsulou

O facebook canalizou 

Sexo em excesso causa apatia

Droga em demasia causa overdose

Facebook noite e dia causa paralisia

Nunca misture porque aumentam a dependência.

E o rock’n roll?

Esse já rolou…

Sexo, drogas e rock’n roll

Porque não existia o facebook...


Porto Alegre, 26 de julho de 2018.
Imagem:  Pawel Kuczynski, Pinterest
Edu Cezimbra


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Dona Ideia e seus amigos


Quando Ideia era nova andava com as próprias pernas. Tinha vitalidade, vigor para alcançar seus objetivos. Sabia questionar, enfim.

Com o passar dos anos foi se adaptando. Pegava caronas com o Método, com a Disciplina e com a Política.

Dessa última virou assessora e recebeu um novo nome: Ideologia. Digamos, um nome artístico, para atuar em área que exigia muita arte, ou melhor, artimanha.

De tanto ser usada em discursos e campanhas eleitorais foi cansando a Ideia. Como era ainda muito respeitável e impunha sua categoria sem discussão foi logo auxiliada em seu percurso por vários assessórios e utensílios.

Primeiro, presentearam Dona Ideia, com uma bengala repleta de conceitos na qual ela buscava apoio sempre que era balançada.

Depois foi a vez de um corrimão que a levava sempre para as mesmas salas abafadas onde Dona Ideia tornava-se rarefeita.

Já decrépita foi entregue a especialistas que a colocaram em uma cadeira de rodas e a empurravam goela abaixo de estudantes e pesquisadores ávidos por novas ideias.

Atualmente, Dona Ideia encontrou um fiel enfermeiro que presta toda assistência para a inválida. Chama-se Marco Teórico e não permite a entrada de novas ideias no recinto...

Porto Alegre, 25 de julho de2018.
Imagem: Giorgio de Chirico, Pinterest 
Edu Cezimbra

Arabescos e nababos


Arabesco: rima pobre com nababesco,

Assim como nabo com nababo…

Mas o que nabo tem a ver com nababo,

E o que arabesco tem a ver com nababesco?!

Será o nabo babado pelo nababo?

Será o palácio nababesco ornado com arabescos?

Ora, vá saber, são mistérios brabos…

- E farsescos.

Porto Alegre, 25 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra

segunda-feira, 23 de julho de 2018

O ladrão e o político


Um ladrão encontrou-se com um político na cadeia.

- Você por aqui?!

- Fazer o que, né?

- Como te pegaram?

- Ah, um coleguinha me delatou…

- Que coincidência, eu também!

- E qual foi o teu crime?

- Formação de quadrilha e evasão de divisas.

- Pôxa, o meu também!

- Bem-vindo ao clube, colega!

- Não, péra, eu sou inocente...

- Ah, eu também!

Dois banqueiro, interessados na privatização dos presídios, escutam a conversa, no pátio da cadeia, e um deles cochicha para o outro:

- Inocentes úteis…

- Amadores... responde o outro às gargalhadas.

Moral da fábula: “Nem todo ladrão é político, nem todo político é ladrão, mas todo crime é político.”

Porto Alegre, 23 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra


quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Diário Secreto de Branca de Neve


Querido diário real,

A Rainha sempre se vê no espelho mágico, e hoje mudou a pergunta: será que todas as Rainhas são tão más quanto eu?

Para sua surpresa, o espelho mágico respondeu: - sim, minha rainha, há rainhas mais malvadas que vós. Leia Shakespeare e estude a mitologia grega para saber mais.

Foi o início das minhas atribulações. Como eu andava sempre por perto, a Rainha espezinhava-me continuamente, não por inveja da minha beleza, mas para superar as outras rainhas em malvadeza.

A Rainha ficou ainda mais furiosa quando soube a quantidade enorme de princesas, como eu, que são boazinhas e sempre acham o seu príncipe encantado e são felizes para sempre…

Até parece que ela nunca foi princesa… Espera, querido diário… Ela foi uma princesa boazinha também? Por que tornou-se tão má?

Desconfio que foi depois que ela assumiu o trono com a morte do Rei, meu adorado pai. Tornou-se irritada com tudo e com todos, especialmente comigo…

Outro dia, acho que teve uma recaída, pois a ouvi dizendo para o caçador real que queria tocar meu coração, que meiga, não?

Hoje, o caçador vai me levar para passear na floresta. Estou curiosa para conhecer os tão falados Sete Anões...dizem que eles são muito engraçados, sempre cantando e trabalhando na sua mina de diamantes.

Querido diário, mas o que eu mais desejo é encontrar o meu príncipe encantado. A Rainha Má prometeu-me que se eu dormir bastante vou acordar ao seu lado.

Mal posso esperar para ser feliz para sempre e ser uma Rainha Má quando reinar...

Porto Alegre, 19 de julho de 2018.
Imagem: cena de "The Huntsman: Winter’s War" 
Edu Cezimbra

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O Sexto Sentido


Porto Alegre, 18 de julho de 2018.

Imagem: Pinterest

Design: Canva

Edu Cezimbra

Monstros domésticos


O anúncio de “Domestica-se monstros” chamou minha atenção por inusitado, naquela manhã úmida e sombria.

Segui a seta indicativa, curioso. Afinal, não é todo dia que se encontra alguém dedicado a esta, digamos, arte, ou se quiserem, ofício…

Ouvi, ao longe, urros medonhos que sinalizavam a monstruosidade da criatura em processo de domesticação.

Um grupo de camponeses portando ancinhos observava, de uma distância segura, as manobras dos domesticadores.

- Que monstro estão domesticando? - perguntei a um senhor de longas barbas brancas.

- Meu caro senhor - respondeu cortesmente ele - acharam um terrível dragão naquela caverna e a domesticadora está convencendo-o a sair para fora da caverna.

- E como ela, uma frágil dama, consegue acalmar esse monstro devorador de homens?! - indaguei atônito.

- Ah, meu filho, é que esse dragão é fêmea!


Moral da fábula: “De perto, o monstro não é tão feio quanto pintam.”

Porto Alegre, 18 de julho de 2018.
Imagem: Artsy Magazine
Edu Cezimbra

terça-feira, 17 de julho de 2018

Íris


À Íris, minha neta poeta, no seu aniversário.


Porto Alegre, 15 de julho de 2015.

Design: Canva

Edu Cezimbra

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Jeitinho brasileiro


“Jeitinho brasileiro”, podemos até falar em uma instituição genuinamente brasileira, “made in Brazil”, tamanho seu alcance no imaginário popular.

- Quem não chora não mama, cara!

Aí, quem sabe o “jeitinho brasileiro” não tenha mesmo origem na puericultura, vá saber…

Aliás, já viu uma criança falando com a mãe com uma carinha pidona: - Ah, mãe, me dá…Ah, me dá, mãe...

Assim, entre o buá e o ah tem um dádádá… - um jeitinho “meigo”?

Muitos creditam ao “jeitinho brasileiro” as mazelas nacionais, será mesmo?

Vejamos: o “jeitinho brasileiro” nestes casos é diretamente associado à tão combatida quanto praticada corrupção.

O ato de “furar” uma fila no banco é tão grave quanto guardar malas de dinheiro desviados do banco.

O “gato” na fiação elétrica ou na TV a cabo é mais criminalizado que a privataria tucana que deu um “gato” nas empresas estatais brasileiras.

Aqui já dá para se perceber a tentativa de dissimular a grave iniquidade que assola o país e cria tantas perversidades.

 - Fazem o “jeitinho brasileiro” parecer brincadeira de criança mesmo...

Tanto que chegam a imputar a culpa pelo “jeitinho” aos negros escravizados no Brasil.

Chegam ao ponto de culpar os africanos pela escravização, um “jeitinho brasileiro” na história da colonização e espoliação da África pelos portugueses e europeus.

Então, meu caro e raro leitor, será que o Brasil não tem jeito porque tem “jeitinho brasileiro” ou tem “jeitinho brasileiro” porque não tem jeito?

Digo mais: melhor responder logo estas questões pois vem aí mais uma eleição presidencial com o típico “jeitinho brasileiro” dos políticos... 

Porto Alegre, 16 de julho de 2018.
Charge: Angeli
Edu Cezimbra

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Ilha da Fantasia


Migrantes recusados pelos EUA, em 1900: por enfermidades graves, deficientes mentais, criminosos, prostitutas, bígamos e anarquistas.

Eram examinados na Ellis Island, também chamada a “Ilha da Desilusão”, nome apropriado…

Fico a imaginar as artimanhas dos fiscais ianques para detectar deficientes mentais, criminosos, bígamos, anarquistas…

- Tu tens 20 segundos para me dizer quem está com a carinha triste nestes desenhos, rápido (esse teste era para “dignosticar” deficientes mentais, que eram marcados a giz com um X.

- Nome da 1ª mulher?

- Mary.

- Nome da 2ª mulher?

- ???

- Bígamo…

- Qual o nome do presidente dos EUA?

- ???

Qual o nome da 1ª Dama dos EUA?

- ???

- Anarquista!

Por essas e outras, para esses imigrantes a Ellis Island era chamada a Ilha das Desilusões.

Muitos desses imigrantes rejeitados pelos EUA vieram dar com os costados no Brasil.

Saiam desiludidos dos EUA, mas ao mesmo tempo aliviados…

Eram tamanhas as promessas de facilidades para os imigrantes que o lugar onde eram recebidos no Brasil bem que poderia ser chamado de “Ilha da Fantasia”...  

Porto Alegre, 13 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Porta aberta


“Pobres são os que tem a porta fechada”, escreve Eduardo Galeano.

Segundo ele, a frase lapidar foi proferida por uma menininha de três anos – e por que não?

Desconfio que a sentença não foi dita em tom reprovador aos que são ricos.

Não. Quem teve ou tem filhos criados em apartamentos há de reconhecer que as crianças anseiam por portas abertas para sair correndo porta a fora…

Para elas, o maior "sonho de consumo" é correr em liberdade. Logo, se não podem usufruir desse bem precioso, são pobres. Tem lógica…

Há uns dias atrás, contarem-me que um avô comprou uma casa de praia e levou seu neto para conhecer a nova propriedade.

Qual foi a primeira reação do netinho criado em apartamento? Perguntar se poderia brincar na rua da pacata cidade balneária.

Criança é assim, tem instinto de sobrevivência mesmo, sabe que a maior riqueza do ser humano é ser livre...

Porto Alegre, 12 de julho de 2018.
Imagem: Cabo Polonio, Uruguai
Edu Cezimbra

O campinho


Numa cidadezinha esquecida do mundo
quem não teve um campinho
para um jogo de bola
- não era pelada!
A bola era de borracha,
muitas furavam nos espinhos
ou no arame farpado.
O campinho meio esburacado
tinha mais guanxuma que gramado,
era todo desnivelado,
ganhava quem descia
perdia quem subia
era todo ao contrário,
não tinha lateral,
de um lado era um muro
do outro uma valeta,
num lado a bola não saia
do outro a bola se perdia...
O jogo era até 10, virava em 5,
às vezes não acabava
quando uma vidraça se quebrava
- quem quebrava pagava!
Em uma cidadezinha esquecida
a bola é redonda feito mundo...

Porto Alegre,12 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra

terça-feira, 10 de julho de 2018

O Diabo e a Morte


O Diabo foi dar seu passeio noturno habitual pela encruzilhada e qual não foi sua surpresa ao encontrar a Morte, cabisbaixa, sentada em uma pedra.

- Boa noite, Dona Morte, quanta animação esta noite! - zombou, soltando sua característica gargalhada diabólica.

Erguendo lentamente a sua caveira com um ranger tétrico de suas vértebras cervicais, a Morte trovejou: - vá para o inferno, que diabo! - irritou-se a velha conhecida do Chifrudo.

O Diabo, sem perder a graça, cutucou a Morte com seu tridente em chamas: - vamos sacudir o esqueleto, Dona Morte, organizei uns shows de bandas metaleiras no inferno para infernizar ainda mais os condenados!

- Diabo, vai pros quintos do inferno, estou podre de cansada, não aguento mais tanto serviço, a humanidade insiste em morrer feito moscas, a seguir assim o inferno vai ter uma superpopulação maior que a Terra…

- Pior que é, Dona Morte, aqui pra nós, a seguir assim, o inferno estará cheio de gente com boas intenções…

- Por que não vamos falar com o “Velho” e reclamar dele, afinal o Céu, exceto por alguns anjos, está praticamente desocupado por falta de interessados.

- O “Velho” é teimoso, insiste no tal “livre- arbítrio”... - resmunga o Tinhoso.

- “Livre-arbítrio”...mimimi...em que mundo Ele vive, meu Deus! Parece que não saiu do Renascimento!

O Diabo que não perdia a chance de criticar Deus, emendou ferino: - sim, Ele não saiu do teto da Capela Sistina – e soltou fumaça pelas ventas, sem esconder seu rancor.

- Viu no que deu tu passar o petróleo das profundezas da Terra para a humanidade?! Agora é essa mortandade que quase não dou conta: matam-se  pelo petróleo e o seu idolatrado “ouro negro” mata mais ainda…


Ao ouvir essa triste verdade, o Diabo senta em outra pedra saboreando sua vitória sobre o livre-arbítrio humano, mas logo fica cabisbaixo; mordendo o rabo, solta fumaça por todos os seus orifícios.

Percebe que também perdera seu domínio sobre a humanidade...

Porto Alegre, 10 de julho de 2018.
Imagem: Gustave Doré
Edu Cezimbra

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Parto da Poesia





Pela letra P


Parto para a poesia


Partida poética

Não é jogada

Mas jornada

Jamais conclusa

Inacabado parto

Para figuras de linguagem

Nunca dantes paridas...


Porto Alegre, 9 de julho de 2018.
Imagem: Pinterest
Edu Cezimbra

domingo, 8 de julho de 2018

Guerrilhas


Guerrilha é uma guerra com poucos meios. Contra a guerra global a guerrilha local.

Quando uma ditadura dominava um país surgia logo depois uma guerrilha, não é verdade?

Um guerrilheiro é um guerreiro sem armadura, antigamente apelidado de “bárbaro”.

Na Segunda Guerra era um soldado sem uniforme, “a resistência”, os “partisans”.

A “Coluna Prestes” percorreu todo o Brasil sem conhecer derrotas até se refugiar na Bolívia.

Na época eram designados como rebeldes, insubordinados…

Na ditadura militar brasileira a resistência pela luta armada foi rotulada como terrorista.

A “alcunha” pegou. Hoje todos os que se contrapõe aos poderosos são designados por terroristas pelos estados e grandes meios de comunicação.

Sem entrar no mérito, mas aproveitando o mote da “guerrilha”, pergunto se o que fizemos nos blogues e sites alternativos é o que alguns chamam de uma “guerrilha midiática”.

Guerrilha parece que “saiu de moda” depois de Cuba. Provavelmente porque não deu muito certo em outros países (Cuba e Vietnã são casos isolados mesmo)…

Além disso ninguém gosta de ser rotulado de "terrorista midiático".

Aí, o que resta é a “guerrilha das hashtags” nas redes sociais, ou melhor, #guerrilha. - De volta à “guerra de trincheiras”...

Porto Alegre, 8 de julho de 2018.
Imagem: Facebook
Edu Cezimbra


sábado, 7 de julho de 2018

Gol contra


O Brasil perdeu…
Para si mesmo.
Fez gol contra,
Abriu suas portas
Para a ganância estrangeira.
Não soube valorizar
Sua brava gente brasileira,
Ergueu castelos no ar,
Rasgou sua bandeira,
Deixou-se enganar pelo canto da sereia.


Porto Alegre, 7 de julho de 2018.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

sexta-feira, 6 de julho de 2018

O Castelo e a Choupana


O Castelo olha de cima a Choupana.

- Não te enxergas, plebeia, vir morar ao meu lado?!

A Choupana se encolhe ainda mais e responde humilde:

- Perdão, meu nobre senhor, mas meus pobres moradores são servos do “seu” barão.

- E porque não vão morar no “ Minha Choupana, Minha Vida” do outro lado do fosso?! - replica o indignado Castelo.

- Meus moradores estão muito felizes em estar tão próximos de “sua magnificência”, tenta agradar a pequena Choupana.

- Felizes, como assim? O que é “felizes”, desconheço isso… confessa o altaneiro Castelo.

- É que eles passam o dia contentes fazendo suas tarefas porque não precisam pegar a diligência lotada da aldeia até “sua excelência”…

- Felizes, contentes, explique-se mulher, não enrole, o que significa tudo isso, algum feitiço?!

- Perdão, “sua alteza”, mas com todo o respeito, se o nobre senhor não sabe o que é ser feliz e contente, de que lhe adianta ser tão grande e imponente?

Nesse momento um raio fulminante derrubou a torre mais alta do Castelo junto com seu orgulhoso barão e o Castelo entrou em profunda depressão.


Moral da fábula: “não construa castelos no ar antes de ter os pés na terra”.

Porto Alegre, 6 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra

quinta-feira, 5 de julho de 2018

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Não existe pecado ao sul do Equador


"Antes da Redução, a aldeia era composta de gente muito ignorante, que nem sequer tinha uma lista pequena para o Bem e o Mal e, na realidade, nem mesmo dispunha de boas palavras para designar essas duas coisas tão importantes.
Depois da Redução, viu-se que alguns eram maus e outros eram bons, apenas antes não se sabia. Mulher má não quer ir à doutrina, quer andar nua, não quer que o padre pegue na cabeça do filho e lhe besunte a testa de banha esverdeada, dizendo palavras mágicas que podem para sempre endoidecer a criança. Feio, feio, mulher má.”

O excerto acima é do livro “Viva o Povo Brasileiro”, do escritor João Ubaldo Ribeiro.

Chico Buarque e Ruy Guerra são autores da música “Não existe pecado ao sul do Equador” que fazia parte da peça sobre Calabar, proibida pela censura da ditadura militar brasileira.

Não existe pecado do lado de
baixo do Equador
vamos fazer um pecado, rasgado
suado a todo o vapor
me deixa ser seu escracho
capacho, teu cacho
um riacho de amor
quando é lição de esculacho
olha aí, sai de baixo
que eu sou professor.

Tanto a peça quanto o livro foram escritas nos mesmos “anos de chumbo” que amordaçaram a cultura brasileira.
E ambas tem muito a ver com o povo brasileiro.

O livro conta de forma metafórica a sua história repleta de epsódios tragicômicos que refletem a alma brasileira “para o bem e para o mal”.

A peça “Calabar: o elogio da traição” denuncia o autoritarismo do momento através de outra leitura da vida do suposto traidor Calabar, retratado como uma pessoa interessada no “bem” do povo brasileiro em formação.

A proibição é justificada pelo caráter “antinacionalista” da peça já que Calabar teria ajudado os invasores (somente eles) holandeses.

O que me ocorre com a leitura do livro e ouvindo a canção é que o “o bem e o mal” tão presentes na moral oficial e popular é mais discursiva do que prática.

Assim, pessoas interessadas no bem do povo podem ser acusadas de fazer o mal ao Brasil (leia-se: aos poderosos de qualquer época).

Não existe pecado do lado de baixo do Equador” canta a holandesa de Calabar que, muito provavelmente, escapou de ser comida pelo caboclo Capiroba, personagem canibal do romance de João Ubaldo, que tomara gosto pela carne branca holandesa.

Se hoje perdemos o gosto pela carne humana assada não perdemos o gosto pelos pecados da carne apesar de todo falso moralismo vigente.

Fiquemos pois com a canção de Chico e Ruy Guerra interpretada por Ney Matogrosso que encarna tão bem a alma brasileira "para além do bem e do mal":


Porto Alegre, 4 de julho de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra