terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um casal original


"Seu" Adão e Dona Eva casaram cedo. 

Sempre que se apresentavam em um encontro social percebiam os risos contidos dos presentes, quando não algum comentário "sutil".

- Prazer em conhecer um casal tão original...

- Adão e Eva, que prazer em conhecer!

Já entre os parentes próximos, compadres e amigos as piadinhas costumeiras não faltavam.

- E aí, Evinha, não vá comer maçã, hoje, hein?!...

- Então, Adão, e a serpente, como vai?

De tão acostumados levavam esportivamente as brincadeiras.

- Sim, já comi, só não fomos expulsos do paraíso, ainda... - ria Dona Eva, insinuando um casamento duradouro e feliz.

- Cuidado com a serpente, sempre dando suas picadas - retrucava ironicamente  "Seu" Adão.

Os anos passaram rápidos para Adão e Eva.

Tiveram muitos filhos, netos, e até bisnetos, todos batizados com nomes bíblicos ou de santos católicos.

O curioso desta história é que nenhum dos seus descendentes foi batizado de Adão e Eva.

Veja como são as coisas: não emprestaram seus nomes a seus descendentes, talvez para evitar piadinhas infames, ou, quem sabe, para se manterem como um casal original, vá saber...


Porto Alegre, 28 de fevereiro de 2018.

Imagem: Google 

Edu Cezimbra

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

domingo, 25 de fevereiro de 2018

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Contatos imediatos de terceiro grau


Foi difícil, de início, notarmos a presença de extraterrestres entre nós.

Se houvesse "homens de preto", como no filme, estariam desempregados.

O alerta não foi dado por cientistas da NASA, muito menos por ufólogos.

Não, por incrível que pareça, o alerta foi dado por filósofos, psicólogos, antropólogos, sociólogos. enfim, os humanistas.

Descreveram um estranho comportamento observado em uma parcela expressiva da população terráquea: já não reagiam uns aos outros, muito menos aos desastres ambientais e humanos, que grassavam devido à essa apatia massiva.

Especula-se que uma tecnologia sofisticada abduziu os seres humanos.

Alguns chargistas retrataram as criaturas como "zumbis" andando sem rumo ou sentados uns ao lado dos outros sem estabelecerem contato.

Os seres extraterrestres estão se proliferando feito moscas e ocupando o lugar dos seres humanos com consequências catastróficas para o planeta.

Como sanguessugas alienígenas chupam todos os seres da Terra.

Diante da invasão desses seres, indiferentes e insensíveis, uma equipe de cientistas de várias áreas está debruçada sobre esta catástrofe planetária.

Após várias tentativas frustradas de estabelecerem contatos de 3º grau, através de códigos universais como a arte e a cultura, transmitidos por meios eletrônicos, estão em um beco sem saída.

Alguém lembrou que talvez os E.Ts. reagissem a sinais analógicos como o rádio.

- Câmbio... tem alguém aí?... - Não há resposta no rádio. Todos estamos teclando em nossos celulares...


Porto Alegre, 24 de fevereiro de 2018.

Imagem: cena de "Contatos Imediatos de 3º Grau"

Edu Cezimbra

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Josefina e Napoleão


- Quem não te conhece que te compre!!!

Assim, dessa forma, com um dito popular, Josefina respondeu à cantada barata do gerente da empresa onde trabalhava.

- Mas, Josefa, que mal tem em sairmos para um drinque na Baviera?

- Napoleão, a tua fama de conquistador da Europa Vinhos já se espalhou e, além disso, não gosto de boates.

Mesmo assim, apesar da estocada certeira de Josefina, Napoleão não desistiu do assédio.

- Então, vamos até a adega que eu quero te apresentar armas...

- Pode descansar armas, Napoleão, respondeu Josefina, percebendo a malícia da indireta.

Napoleão coçou o queixo, enfiou a mão sob a camisa, enquanto prosseguia a tentativa de conquista.

- Tu sabes que eu  posso colocar toda a Europa Vinhos a teus pés...

- Não me interessa a Europa, para mim basta meu emprego.

- Ora, Josefa, sabes que eu preciso de uma "rainha" para reinar comigo na empresa.

- Huumm, estás te achando com o rei na barriga, Napoleão?!!

- Cadê tua ambição, Josefina, logo serei dono da Europa!!!

- Sei, Napoleãozinho, mas vai ver se eu estou na Rússia...

- O que tem a Rússia, Josefina?...

- É que logo o inverno russo virá e te colocará de quatro e, antes que eu me esqueça, vai tomar no Waterloo!!!

Assim, com outro dito popular, curto e grosso, Josefina fez Napoleão perder essa guerra de conquista e terminou com o assédio, definitivamente.


Porto Alegre, 22 de fevereiro de 2018.

Imagem: Britsh Museum

Edu Cezimbra

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Ultrapassagens temerárias


"Na dúvida não ultrapasse."

Um aviso e tanto...que tantos ultrapassam sem dúvidas até encontrar a certeza de uma morte estúpida em um acidente na estrada.

A maioria dessas vítimas tem tudo muito calculado, planejado, esmiuçado, na certeza de que assim não haverá margem para erros.

Ledo engano, como sabemos.

A dúvida é um benefício na maioria das vezes (em benefício da dúvida, se diz) para impedir ultrapassagem temerárias.

O que é extensivo a princípios éticos e valores morais na sociedade, na política e em toda situação que envolva decisões que afetam muitas pessoas.

É comum dizer das “razões de estado” sem falar das emoções que as ultrapassam e são as verdadeiras causas de tantos desastres.

Por exemplo, um senador de um estado do norte diz-se arrependido de ter votado a favor do impeachment da presidente Dilma.

Será que quando votou teve dúvidas? Duvido…

Então, na dúvida não ultrapasse o princípio básico da justiça: “in dubio pro reo” (na dúvida julgue em favor do réu).

Aqui entre nós, ano eleitoral, muitos vão se declarar arrependidos, para tentar não perder eleitores.

Aí sim, a dúvida dos políticos a cada eleição: - Serei reeleito?

Pois querem prosseguir na “carreira” (isso poucos políticos tem dúvidas).

Até aí, nenhuma surpresa…

O que me surpreende são os eleitores, que chegam na urna cheio de dúvidas, e terminam votando sempre nos mesmos.

Chico Whitaker, em artigo para “Diplô Brasil” escancara a questão:
“ A representação parlamentar não pode se prolongar por tempo indefinido. Representação não é profissão , mas da forma como está hoje se transformou em emprego vitalício, criando a síndrome da reeleição. Estar no Parlamento tantas vezes quanto for possível passou a ser um objetivo a ser atingido a qualquer custo, inclusive ético.”

Como podes constatar, caro e raro leitor, quando se trata de garantir sua reeleição, o eterno candidato ultrapassa qualquer coisa, até o princípio ético, sem dúvida.


Porto Alegre, 22 de fevereiro de 2018.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Inflamável



Em cada parte tua a ânsia do desejo
Faz-me doido e ardente amante;
Por ti acende-me um fogo delirante,
E quando em ti, sinto-me benfazejo.

E enlouquecido de paixão a ti almejo
Com cada fibra do meu corpo, e alma
Transbordando de luxúria quando te vejo,
E ao te ver nua, tua beleza me inflama,

Tanto e quanto uma intensa labareda
A lamber faminta rastilho de pólvora,
Incendiando-me todo por onde passo,

Em direção à derradeira e ansiada hora,
Na qual explodo em mil e um pedaços,
Para unir-me inteiro a ti depois da queda.



Porto Alegre, 20 de fevereiro de 2018.

Imagem: Beijo, Gustav Klimt

Edu Cezimbra



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Risos de ocasião


Eita, que risonho o povo brasileiro! 

Sim, tem que rir pra não chorar...

É que há risos que não são risos:

- Riso nervoso: riso na hora errada.

- Riso escondido: riso disfarçado por morder o lábio.

- Riso defensivo: riso para não responder  uma besteira ou provocação.

- Riso debochado: riso para quando a bobagem é tamanha.

- Riso forçado: riso para não perder o amigo piadista.

- Riso programado: riso para programa de humor.

- Riso raro: riso de si-mesmo.

Enfim, a lista serve para ilustrar uma notícia científica (hein?!) sobre o riso: pesquisadores constataram que o riso é contextualizado, ou seja, muitas vezes não é um riso autêntico por uma boa piada ou situação engraçada.

Ah, sim, acrescento outro tipo de riso não elencado na referida pesquisa feita por pesquisadores estrangeiros:

- Riso  com a própria desgraça: riso de muitos brasileiros na atual situação.

Eis um riso que é amarelo...



Porto Alegre, 19 de fevereiro de 2018.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Sono e Insônia



Noite escura
Silenciosa
Ajuda o descanso
De alguém
A dormir tranquilo
O sono dos justos

Quem dorme bem
Não acorda mal
Sonhos aparecem
Para embalar o sono
De quem descansa
No além


Insônia é sono
A fugir de pesadelo
É o medo
De não acordar
Que assombra
A escura noite

Insônia é pavor
Dos injustos
No dia do julgamento
É uma ausência
De paz na véspera
De uma guerra

Solitário no sono
Sem ninguém
O sonho aparece
Para fazer companhia
Deixa de lado
A ilusão de abandono

Não há sono
Sem o sonho
Quem sonha
Sua alma ganha
E desperta
Sem barganha!


Porto Alegre, 15 de fevereiro de 2018.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Despudor da mídia brasileira


“Na sociedade em que tudo se pauta pela exibição midiática desaparece o pudor, atestando-se o enfraquecimento do sentimento de vergonha ligado à norma moral.”

Lendo as últimas notícias da política brasileira surgiu-me a necessidade de encontrar palavras para entender a situação.

Como já disse em outra crônica, gosto de reler números antigos de revistas ou jornais para confirmar a atualidade do tema em pauta.

A citação acima foi extraída de um artigo da filósofa Olgária Matos intitulado “A democracia moderna e a estética da moeda” para um dossiê da revista Cult, de 2011, “Mídia e Poder”.

De uma atualidade perturbadora o referido artigo. Quando leio as notícias políticas veiculadas pela mídia comercial brasileira as palavras que me ocorrem são mesmo despudor, sem-vergonhice, além de canalhice, deboche, escárnio e desprezo pelo jornalismo sério pautado pela investigação isenta e pela apuração da veracidade dos fatos.

Uma coisa é notável: não se pode falar mais em “forças ocultas” na conspiração contra governos democraticamente eleitos. Hoje, pode-se dizer que são “forças saídas do armário”, movidas por uma determinação férrea, “heróica”, de acabar com a corrupção (sempre atribuída a outros).


Até aí nenhuma novidade: o “combate à corrupção” sempre foi mote para a derrubada de governos de esquerda, para implantação de ditaduras militares e agora para governos neoliberais radicais.


Sempre chama a atenção a reincidência do passado como arma para justificar os atos no presente.

Na política esse é um recurso sempre presente nos debates partidários.

- Porque a corrupção ( tema preferido dos corruptos) foi comprovada nos governos de esquerda.

- E a corrupção nos partidos de direita?

- Não vem ao caso (“seletividade”)...

Nesse caso descarado de “seletividade”, o passado é preterido para manter o presente do pretérito (tempos passados não movem o presente quando tratados na forma de manipulação da história).

Desta forma, o passado é uma herança das elites para matar o futuro.

- Mas (bem espichado este mas) não podemos esquecer que os governos de esquerda foram corruptos.

- Não esqueça que o caixa-2 era praticado por todos os partidos...

- Maaas o “molusco” foi condenado!!!

E, assim, a farsa prossegue e ai de quem reclamar da “justiça” como estado de exceção.

- Tem que respeitar para ser respeitado!

- Sei, embora o desrespeito à legalidade seja uma prática do passado recuperada no presente de maneira despudorada e desavergonhada.


Tudo indica, que no Brasil, Marx teria que admitir que a farsa se transformou em tragédia onde o povo “paga o pato”.

Portanto, está na hora de tocar o "Boré", instrumento de sopro indígena que convocava a nação Tupi para se defender do inimigo, atualizado pelo cartunista Laerte. 


Porto Alegre, 13 de fevereiro de 2018.

Imagem: ilustração de Laerte para a "Oboré"

Edu Cezimbra