segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

As Malditas de Janeiro



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Não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos da abstinência!

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O céu se pinta de rosa para receber as estrelas e a água do lago segue a moda formando um belo casal.

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Quando a pessoa não sabe que não vê, não sabe que é cega, já disse Paul Veyne - pior é quem se finge de cego pra negar o que vê.

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Todos querem sombra e água fresca, poucos plantam árvores...

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O Naruto é de Tóquio; já em Brasília tem o Cocoruto.

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- Quem é vivo sempre aparece! - diz o céu nublado ao sol, que dá o ar de sua graça afinal.

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Pra alegrar o netinho: Guadua, tu sabes que o vovô é brincaleão (imitando o leão da Metro).

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Chuva de formar Cataratas do Iguaçu por todo lado, isso é que é chover no molhado!

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Queiroga falou que Michelle Bolsonaro é a mãe de todos os brasileiros, que filho da mãe!

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Uma fruta não cai longe do pé, assim como folhas, flores, sementes e até a própria árvore.

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Aqui jaz um negacionista.

Não era tarado por vacina.

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Não agrida a natureza para não ser agredido.

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"Não olhe para cima" ou "não olhe para o clima"?

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Não gosta de polarização quem não polariza a atenção.

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Gosto tanto de estar comigo mesmo que até vou me clonar!

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Com este calorão não dá pra reclamar de um balde de água fria na cabeça.

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Com este calorão só não esquenta a cabeça quem se joga um balde de água fria.

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Certos evangélicos que encontraram Jesus devem ter levado umas boas relhadas.

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Forno Alegre virou Bafo Alegre, prenúncio de temporal...

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Chuvarada em Forno Alegre. Bastante água fria na fervura!

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Mais vale um ar fresco do que dois refrescos.

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 Depois da tempestade vem o resfriado.

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Não guarde todos os ovos na mesma cesta, e, mais importante, não mate a galinha depois.

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Caem as folhas secas pra árvore não cair.

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Facebook, janeiro de 2022.

Charge: Latuff, Jornalistas Livres

Edu Cezimbra

domingo, 30 de janeiro de 2022

Vozes do Silêncio

 


Silenciosos passos na trilha

Corações se fazem ouvir

No encontro de abraços.


Árovores  e pássaros

Se juntam às gentes

Pra falar da vida.


A natureza silenciosa

Escuta suas vozes com 

A eloquência do silêncio.



Porto Alegre, 30 de janeiro de 2022.

Imagem: arquivo pessoal, Facebook

Edu Cezimbra

sábado, 29 de janeiro de 2022

O Bando e o Contrabando

 

Um dos membros do bando volta à "cena do crime" 50 anos depois.

O bando ia até a Banda Oriental do Uruguai fazer contrabando.

Embarcavam  em um espaçoso e possante Simca Chambord e se metiam pelo Pampa aberto rumo ao Quaraí, sempre por estradas vicinais.

- Pra fugir da fiscalização - dizia o chefe do bando.

Os outros membros do bando concordavam admirados com tanta astúcia.

E lá ia o velho Simca levantando pedra e poeira pelas estradinhas estreitas do interior gaúcho.

Havia paradas estratégicas para molhar os pés e as caras e arrefecer o calor do verão.

Ao chegarem próximo da fronteira retornavam à "carreteira" para adentrar na cidade.

Era tenso cruzar a ponte internacional porque havia as alfândegas brasileira e uruguaia para encarar.

Artigas, cidade uruguaia, era onde se comprava o contrabando.

Enchiam o bagageiro grande do carro com cerveja e carne uruguaias e de sobremesa traziam alfajores.

Também não podiam faltar as "galletas", as saborosas bolachinhas, e um "dulce de leche", para o lanche da volta para o Alegrete.

Apesar de todos os cuidados do chefe do bando eram parados pela fiscalização estadual.

Era preciso aliviar o bagageiro de algumas "Norteñas" para seguir a viagem com o resto do contrabando.

De volta para a base, o bando de contrabandistas comemorava  com uma boa churrascada e algumas "Norteñas" puro malte.

Mais que uma contravenção era uma diversão para os membros do bando, composto pelos tios, os primos e os sobrinhos, o contrabando na Banda Oriental do Uruguai, nas férias escolares de verão! 



Porto Alegre, 29 de janeiro de 2022.

Imagem: arquivo pessoal

Edu Cezimbra

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Corta!



Dois exemplos de pecadores :


No programa religioso da TV:

- Por que te tornaste evangélico, irmão?

-  Porque não preciso confessar meus pecados...

- Corta! 



Na propaganda eleitoral :

- Por que vais votar no pastor, irmão?

- Porque quero comer ovelha...

- Corta!



Porto Alegre, 28 de janeiro de 2022.

Imagem: Cezar Berje, Google

Edu Cezimbra

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Lunar

 

Filmes de ficção científica tem poder de profecia como já vimos em muitos casos.

No caso de "Lunar" o dom é de uma profecia autorrealizada.

O filme, em outras palavras, poderia ser ambientado na Terra, que mesmo assim não perderia seu caráter, embora com tintas distópicas.

Senão vejamos: uma pessoa isolada, seja na Lua ou na Terra, começa a falar consigo mesma.

A solidão pós-moderna é lunática, logo o personagem começa a alucinar.

A alucinação, seja onde for, é causada pela alta tecnologia.

Ou alguém que fala com um robô não estaria alucinando?

Ficar preso em um compartimento asséptico é ou não é típico de uma pessoa doente?

A esperança de sair do isolamento vira uma espera neurótica.

O filme é uma metáfora da atual condição humana.

Estamos, cada um, numa bolha, cercados por aparelhos eletrônicos, mas sem comunicação uns com os outros.

As corporações tomaram conta e fazem o que bem entendem com as pessoas ou planeta.

O operário foi clonado e o exército industrial de reserva engavetado.

O recado de "Lunar" é panfletário: volte pra Terra! 



Porto Alegre, 27 de janeiro de 2022.

Imagem: cartaz do filme, Google

Edu Cezimbra

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Descanso Eterno


 

Os mortos tem o perdão do esquecimento

obtendo, assim, o descanso eterno.

A eternidade não julga,

contemporiza.


Porto Alegre, 26 de janeiro de 2022.

Imagem: Banksy, Google

Edu Cezimbra

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Cheiro de Pobre

 


Dona Maroca conhecia pobre só pelo cheiro. 

A pessoa chegava perto e ela já farejava a pobreza.

Era um bingo atrás do outro.

-Esse é pobre, cheira a fumaça de lenha, não tem fogão a gás.

O pobre já descia vários degraus na escala social de Dona Maroca só pelo cheiro da fumaça.

Essa senhora de classe média já era uma feliz proprietária de um flamante fogão a gás, quatro bocas e um forno, que pilotava com desenvoltura.

Isso foi há muito tempo atrás, quando começava  a industrialização brasileira e o fogão a gás era símbolo de prosperidade.

Pobre não tinha acesso a estes bens de consumo e seguia sem aproveitar os confortos da modernização.

O tempo passou. Dona Maroca não conseguia mais farejar um pobre pelo cheiro.

Até esqueceu do "talento"...

Afinal. o fogão a gás ficou acessível para todas as classes sociais, junto com a geladeira, a TV e o carro.

De uns três anos para cá, Dona Maroca começou, de novo, a sentir "cheiro de pobre".

Não sabia o motivo e foi perguntar para o marido, Seu Juvenal.

- Juju, é só impressão minha, ou os pobres voltaram a cheirar a fumaça?

- Não é impressão, não, Maroquinha. É por causa do preço do gás, muito caro, por isso os pobres foram obrigados a cozinhar com lenha, isso quando tem comida .

- De volta ao fogão a lenha, então. Eu detesto aquele cheiro de fumaça pela casa toda.

- Não, Maroquinha, agora é no fogo de chão que as pessoas estão cozinhando - corrigiu o Seu Juvenal.

- Meus Deus, quanta pobreza, que miséria, mas, também, não querem trabalhar! - concluiu Dona Maroca, pondo uma lasanha congelada no seu micro-ondas.

Seu Juvenal fez que não ouviu o comentário da mulher, ia começar o futebol.


Porto Alegre, 25 de janeiro de 2022.

Imagem:Renina Katz, Google 

Edu Cezimbra

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Clones

Clones são todos os que fazem sempre a mesma coisa e, por isso, não sabem o que fazem.


Porto Alegre, 24 de janeiro de 2022.

Imagem: Matrix, Google

Edu Cezimbra

domingo, 23 de janeiro de 2022

Explode Coração

 


Assim não dá

Não dá mais

Vou me dar

A quem me der

O que vier é

Ao Deus dará

Vou me jogar

"Não dá mais pra segurar, 

explode coração!"




Porto Alegre, 23 de janeiro de 2022.

Imagem: Mervin Peake, Pinterest

Edu Cezimbra

sábado, 22 de janeiro de 2022

A Coruja e o Quero-Quero

 


Coruja estava mais triste que coruja de tapera.

Como sempre corujava os arredores de olho grande nalgum rato desavisado.

Foi quando ouviu, ao longe, o alarido do Quero-Quero.

Era grande o alarido e Coruja deduziu.

- Tá grande o bochincho, vou lá corujar.

Acertou em cheio. Tinha quero-quero por todo lado na maior algazarra.

Estava animado o baile do Quero-Quero e animado ficou Coruja.

Foi se aprochegando e logo estava bailando assanhado no meio dos quero-quero.

Como era de se esperar foi notado pelo bando de quero-quero.

Era um gritedo de quero-quero alertando a presença de Coruja.

Cercado de quero-quero foi logo piando:

É de paz, eu vim de carancho, mas só corujar!

- Carancho não és, mas coruja em baile de quero-quero não passa sem ser notada.

Foi aí que a Coruja arriscou um dito popular:

Como é bom baile de quero-quero! - piou Coruja, se tapando de quero-quero.

Moral da fábula gauchesca: em baile de quero-quero carancho não entra.


Porto Alegre, 22 de janeiro de 2022.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Terramar

 


Ao mar o que 

É do mar

O mar é água

Salgada

Por tanta terra

Quem vai ao mar

O mar leva



Torres, 21 de janeiro de 2022.

Imagem: Carybé, Pinterest

Edu Cezimbra

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Belos Sonhos


 O filme "Belos Sonhos", dirigido por Marco Bellocchio é baseado na autobiografia de Massimo Gramellini.

Massimino ficou órfão muito cedo e passou sua vida sofrendo a perda precoce da mãe.

Criado pelo pai de forma autoritária perdeu o vínculo parental desenvolvendo defesas psíquicas particulares de arrepiar os espectadores.

Não aceitando a morte da mãe inventava histórias, mentia que a mãe ainda vivia e morava em outro país.

As mães de seu amigo e colegas são presença constante no filme, assim como as manias religiosas para ressuscitar a mãe.

Massimo tornou-se jornalista e teve a oportunidade de presenciar a morte de outra mãe em Sarajevo.

O trauma causado pela perda da mãe tem alcance universal a julgar pela reação do filho diante da mãe assassinada.

No caso em tela, Massimino adquire um bloqueio emocional expressado nas suas dificuldades de relacionamento pessoal.

O filme mostra que as mães não precisam morrer para serem perdidas pelos filhos.

A ausência delas é sentida pelos filhos quando estas saem para trabalhar, por exemplo.

Massimo tornou-se famoso ao responder uma carta de um leitor do jornal "La Stampa" de Turim.

Pela primeira vez expôs seu drama particular para aconselhar o leitor que reclamava da mãe para aproveitar sua companhia e abraçá-la.

Minha chamada para o filme seria, então: "Mães, melhor tê-las, mas como sabê-las?"



Porto Alegre, 20 de janeiro de 2022.

Imagem: cartaz do filme, Google

Edu Cezimbra

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Gravidade Zero

 

A missão para Marte enviou seu último relatório de 2022.

A mensagem foi enviada pelo supercomputador quântico da nave através de ondas de luz.

Rumo à Marte. Gravidade zero. Tudo bem. E aí, beleza?

Pelo tom da mensagem o operador da NASA percebeu que era o astronauta brasileiro.

- É o astronauta brasileiro, perdido no espaço, ainda não percebeu a gravidade da situação...


Porto Alegre, 19 de janeiro de 2022.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Vertente

 


Vertente

Água que verte

Da terra

De baixo

Para cima

Depois de cair

Do céu

De graça

Só quer

Verde

Tente ver



Porto Alegre, 18 de janeiro de 2022.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O Burro e o Cavalo

 


Um cavalo puro-sangue passeava com seu altivo cavaleiro em uma estrada rural.

Ao chegarem a uma estalagem, o cavalo foi obrigado a ficar com um burro na estrebaria.

O cavalo relinchou alto em protesto contra o que considerou uma companhia que não estava à altura de sua posição social.

- Mantenha distância, sua besta de carga, como ousas frequentar o mesmo lugar de um cavalo de alta linhagem como eu?!

O humilde burro pediu vênia por lembrar que chegara antes na estrebaria, mas emendou:

- Como diz o velho ditado: os incomodados que se retirem...e o portão é serventia da estrebaria...

- Como te atreves a dirigir-me palavras tão vulgares, sua alimária repulsiva?!

O burro que já espera a reação do cavalo mexeu as orelhas, divertido, e retrucou:

- Alimária, que seja, mas não esqueças que estamos na mesma estrebaria...

- E daí, o que isso tem a ver?! - coiceou o cavalo, furioso.

- Só para constar, meu caro, sou um burro velho e conheço muitos cavalos de raça.

Ora, isso não te dá o direito de ser tão desrespeitoso para comigo!

O burro velho encerrou a discussão, zurrando:

- Tu não gostas de mim mas a sua mãe gosta, e a propósito, recomendaçãos a ela e à sua meia-irmã!

Moral da fábula: em uma democracia racial todos tem os mesmos direitos.


Porto Alegre, 17 de janeiro de 2022.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra

domingo, 16 de janeiro de 2022

Gaucho Borracho



Haja hoje pra tanto ontem

já cantou um polaco loco.

Haja vinho pra tanto ontem

canta um "gaucho borracho".


Porto Alegre, 16 de janeiro de 2022.

Imagem: Ronald West, Pinterest

Edu Cezimbra

sábado, 15 de janeiro de 2022

Filosofando

 


O que ajuda a pensar não é a doutrinação, é a filosofia.

Sem uma filosofia de vida não se mantém a vida.

A vida sem filosofia é uma ameaça à vida.

Quem nega a filosofia se nega a pensar.

Negacionista é todo aquele que se nega.

Viva a Filosofia, viva nós, viva o rabo do tatu!


Imbituba, 15 de janeiro de 2022.

Imagem:Google

Edu Cezimbra

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Bacudo e Bagual

 


Analista Bagual, depois do estágio em Bagé, abriu consultório no Alegrete.

Montou consultório ortodoxo com pelegos, fogo de chão e capim Santa Fé.

Começava a cevar o mate quando apareceu o primeiro freguês.

- Te aprochega, vivente, deita nos pelegos enquanto acabo o mate!

- Já lhe adianto que não deito em pelego com macho, só com china.

Bagual já ia pegando no relho, mas pensou melhor, coçando o joelho.

Primeiro freguês, melhor não correr o bicho logo de joelho, digo, de cara - riu-se por dentro, com seu próprio ato falho o analista Bagual.

- Mas qual é sua graça? - perguntou amistoso.

- Não tem graça nenhuma, eu sou Bacudo.

Foi demais para o analista Bagual que pegou do relho para acabar com tanta grossura a relhaço.

Para sua surpresa, Bacudo se esquivou do relho, depois do joelho, para desferir um planchaço de facão no lombo de derrubar bombachudo.

- Aqui no Alegrete quem manda é Bacudo, isso daqui não é Bagé!

Foi assim, com um planchaço de facão de Bacudo que acabou a carreira de analista Bagual no Alegrete.

Em compensação, Bagé ganhou um publicitário Bagual com a seguinte campanha para fábrica de facas: "O primeiro planchaço a gente não esquece jamais."

 

Imbituba, 14 de janeiro de 2022.

Imagem:Google

Edu Cezimbra 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Vai Que Dá

 


Se não der

Não vai faltar.

Se não puder

Vai ter que dar! 


 

Imbituba, 13 de janeiro de 2022.

Imagem: Glênio Bianchetti, Google

Edu Cezimbra

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A Natureza da Esperança

 


Enquanto há vida há esperança, enquanto há esperança há natureza. 

 

Imbituba, 12 de janeiro de 2022.

Imagem: Revista Natureza, Google

Edu Cezimbra 

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Nas Nuvens

 


O sujeito está nas nuvens.

Será aviador, paraquedista ou o quê?

Nuvens carregam significados...

Alguém nas nuvens pode ter alcançado o sétimo céu.

Por falar em céu, as pessoas nas nuvens são de que signo?

Eu que sou Sagitário a minha nuvem tem forma de flecha.

Alguém de Peixes, a mesma nuvem terá forma de espinha de peixe.

Apareceu outra nuvem, tem forma de pinça, nuvem caranguejo, Câncer...

Outra nuvem tem forma de dois pratos de balança, Libra.

Felizmente para o meu caro e raro leitor há poucas nuvens no céu azul.

Quem está nas nuvens é este pretenso escritor...

Pudera!, em uma cabana no morro, cercada de Mata Atlântica, com vista para o mar azul de Santa Catarina!


Imbituba,11de janeiro de 2022.

Imagem:Van Gogh, Google

Edu Cezimbra

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Luz e Sombra


A sombra

revela

medos

que a luz

descomhece.


A luz

oculta

realidades

que a

sombra

reconhece.


Sombra

é na luz

que vislumbra.

Luz

é na sombra

que deslumbra.



Porto Alegre, 10 de janeiro de 2022.

Imagem Goya, Pinterest:

Edu Cezimbra

domingo, 9 de janeiro de 2022

O Camarão e a Lula

 



Camarão sempre se considerou um bichinho enjoado.

Todo jantar chique lá estava ele apresentado na forma de coquetel, salada ou molho.

No fundo do mar só queria conversa com a Lagosta, a Ostra e o Linguado.

Afinal, não iria se misturar com essa "arraia-miúda"...

Numa dessas boca-livres ficou mal-falado.

Todos os frutos do mar cochichavam entre si: - o Camarão virou comunista.

- O Camarão ficou ainda mais vermelho, mas boca-de-siri, pediu o siri para o polvo.

O Polvo, para demonstrar todo o seu alvoroço, moveu todos os tentáculos.

- Camarão vermelho, vá lá, agora Lula como prato principal já é demais!

- Temos que acabar com essa polarização! - sentenciou a Traíra, tentando se aproveitar da situação.

 O oportunismo da Traíra pegou muito mal, os frutos do mar se indignaram e queriam partir para as vias de fato.

O que parecia ser o começo de mais uma tragédia no fundo mar foi solucionado pela Lula.

- O que é isso, companheiro? Vamos todos fazer uma "paella", mas sem a Traíra, que não é fruto do mar, nem flor que se cheire.

E completou o cardápio como um chefe reconhecido: - e a sobremesa vai ser picolé de chuchu! 

Moral da fábula: quando acaba a conciliação vem a reconciliação de classes.


Porto Alegre, 9 de janeiro de 2022.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

sábado, 8 de janeiro de 2022

Noite Grávida

 


Grávida de estrelas

a noite pariu

um dia de sol



Porto Alegre, 8 de janeiro de 2022.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Não Olhe Para Cima

 


Filme desastre dos EUA sempre tem heróis.

"Não Olhe Para Cima" não foge à regra, mas apresenta muitos anti-heróis.

Talvez pela crítica ferina aos negacionistas, que são muitos, capitaneados pelo cínico ex-presidente Trump.

No filme, Trump é trocado por uma presidente com atuação hilária de Meryl Streep.

Outro personagem caricato que causa repulsa ao espectador é o assessor presidencial, filho da presidente, figura odiosa, interessado em bajular a presidente e garantir seu cargo.

Esta dupla contracena com o cientista (Leonardo DiCaprio) e sua estagiária que descobriu um cometa prestes a colidir com a Terra e causar uma extinção total.

O filme trata da ameaça de um cometa, mas poderia ser um vírus, uma catástrofe ambiental, um genocídio ou qualquer outra realidade que os negacionistas pretendam escamotear.

"Não olhe para cima" é o título da campanha negacionista da ameaça sideral e que quer explorar comercialmente o cometa, comandada por um guru do smarphone, uma mistura de Bill Gates e Steve Jobs.

O filme é uma tragicomédia, uma sátira ao comportamento alienado da sociedade estadunidense, uma farsa pela caracterização das personagens, sejam políticos, jornalistas, cientistas ou cidadãos anônimos.

Manipuladores e manipulados usam e abusam de bordões publicitários, tais como "o cometa vai gerar empregos para meus filhos".

Basta substituir cometa por "reforma trabalhista" para entender a ironia da  história...

Recomendo, pois a maior catástrofe no filme é para os negacionistas, destruídos sem dó nem piedade pelo roteiro.

Enfim, um exemplo de como a ficção supera o fake news!




Porto Alegre, 7 de janeiro de 2022.

Imagem divulgação, Google:

Edu Cezimbra

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Cabeça-de-vento

 


Cabeça-de-vento

Pode me chamar

Não ligo

Sou mesmo

Faço questão

Sou poeta!


Cabeça-de-vento

Atraio passarinhos

Assim me deixo levar

Pelo sonho

Cabeças-duras

Estes passarão!


Porto Alegre, 6 de janeirode 2022.

Imagem: Giovanni Dalessi, Pinterest

Edu Cezimbra

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O Menino e o Mar

 

O menino do interior nunca vira o mar.

Ao subir a duna alta deparou com aquela imensidão estrondosa.

Já ouvira o rumor do mar sem ter ideia da sua dimensão oceânica.

Foi mesmo impressionante...

Ficou parado, esperando a mãe chegar.

- Manhê, como é grande o mar!

- Sim, meu filho, o mar é grande e salgado pelas tantas lágrimas derramadas pelos homens, mulheres e crianças que se afogaram nele.

O menino estremeceu.

- Como assim, mãe?!1 - perguntou assustado.

- É que foram muitos os que morreram no mar, por isso não vai no fundo.

Quando o menino entrou no mar pela primeira vez foi com medo, não do mar, mas com o medo da mãe.

Quando saiu do mar já não era o mesmo. Saiu velho como o homem, porque o mar tem história, e quem nele entra não volta mais o mesmo...


Porto Alegre, 5 de janeiro de 2022.

Imagem: Carol Carmichael, Pinterest

Edu Cezimbra

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Leitura corporal

 


A leitura de um corpo vê um corpo com ou sem leitura.

Um corpo com leitura deixa-se ler.

Um corpo sem leitura não se lê.

O leitor incorpora a leitura.

O corpo fala quando lido.


Porto Alegre, 4 de janeiro de 2022.

Imagem: Leonardo Da Vinci, Google

Edu Cezimbra

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Os Novos Bruzundangas

 

Se vivo fosse, Lima Barreto mudaria o título de seu romance satírico "Os Bruzundangas" para "The BrUSAdungas", tamanha a colonização cultural dos brasileiros e brasileiras.

Bem verdade que também em sua época a colonização cultural do Brasil era feita pela França, convenhamos, com muita classe e glamour.

Não faltou um sambista para escrever num samba que "tem muito francês no morro".

Madames, garçons e garçonnières abundavam num Rio que tentava parecer Paris.

Depois que os EUA invadiram e dominaram parte da Europa um outro sambista avisou que "o patrão mandou cantar com a língua enrolada".

Walt Disney deixou o Zé Carioca, acompanhado por patos e patetas, e levou Carmen Miranda, que voltou americanizada.

As madames foram  para Miami e o sinhô quis ser chamado de dotô, adotando fumaças de "wasp": branco, anglo-saxão e protestante.

Não por acaso, os "bíblias" da época de Lima Barreto viraram crentes neopentecostais, "made in USA".

Sobrou "dog" e "xis" em cada esquina irrigados por cocas muito açucaradas e viciantes.

Por essas e outras é que acho que Lima Barreto atualizaria o nome de sua sátira para "The BrUSAdungas...


Porto Alegre, 3 de janeiro de 2021.

Imagem: cartaz de "saludo Amigos", Google

Edu Cezimbra