Era uma vez uma pessoa normal que morava em um reino muito distante.
Como pessoa normal tinha um nome normal, o mais comum dos nomes naquela longínqua região do mundo: Norma.
Norma vivia segundo as normas de seu próspero burgo. Com o perdão do trocadilho infame, era literalmente de uma normalidade burguesa...
Norma, em poucas palavras, era uma criatura invisível aos olhos dos outros moradores da cidade que, como ninguém, sabem ser as pessoas normais.
Vestia-se de maneira tão obediente ao figurino que era impossível distinguí-la dos outros transeuntes.
Paradoxalmente, todos seguiam a Norma por sua pontualidade britânica e estrito senso do dever.
Assim, quando a Norma acordava ao primeiro canto do galo, todos acordavam juntos para cumprir suas obrigações diárias.
Quando ia à igreja todos iam atrás da Norma.
Era seguida fielmente em todas as atividades que exigissem sacrifício e austeridade.
O segredo de Norma?, sua insuperável capacidade de contágio.
Era uma espécie de 'peste emocional', que se alastrava por todos os cantos, nada nem ninguém escapavam ao seu poder de contaminação.
Até que em um dia qualquer apareceu no burgo um trovador, que ao som de sua lira, cantou as façanhas e as peripécias de personagens lendários, - justo na hora em que Norma e seu séquito iam às compras no mercado central.
Foi tamanha a surpresa da Norma que ela tropeçou e caiu.
Imediatamente todas as pessoas da cidade começaram a dançar e a cantar alegremente, sem parar, até o dia raiar, no ritmo do inspirado menestrel cujo nome, incomum na cidade, era Orfeu da Conceição...
E a Norma, embora quebrada, encontra-se em estado regular, esperando a festa acabar...
Porto Alegre, 17 de novembro de 2016.
Foto: cena do filme 'A Festa de Babette'
Edu Cezimbra
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