terça-feira, 19 de junho de 2018

A Vila


Imagine uma pequena vila afastada das grandes cidades.

Uma ruazinha com algumas casas , talvez um armazém, uma igreja e a escolinha para seus poucos alunos.

Habitantes são poucos, em torno de sessenta pessoas divididas em poucas famílias.

Verás que há sempre uma liderança na vila, principalmente religiosa, mais que política.

Uma vila, seja onde estiver, é sempre um lugar fechado para estranhos ou para as novidades.

Não que não haja interessados nelas, jovens, especialmente, querem saber mais do mundo…

Agora, imagine que a vila é assombrada por estranhas criaturas que regularmente vem aterrorizar os crédulos moradores.

E, pior, os mais antigos alertam aos jovens para que não se afastem dos limites da vila e teremos um filme de suspense que te deixa magnetizado do início ao fim.

Assim é “A Vila” do mesmo diretor do clássico de suspense “O Sexto Sentido”.

A vila do filme é uma potente metáfora sobre as muitas vilas que existem espalhadas por todo  canto do planeta.

Comunidades conservadoras tendem a manter seus jovens, mulheres e crianças, reféns de um modo de vida repressivo.

Na vila do filme, a vida é a do século XIX, sem eletricidade e outros confortos da sociedade industrial.

Evidentemente, todos se submetem a este rigoroso estilo de vida puritano, inclusive os homens.

Quem já morou ou mora em um lugar pequeno sabe bem como se dão estas relações.

Como no exército antiguidade é posto. Então se alguém nasceu na vila se acha com mais direitos adquiridos do que alguém que mora há apenas dez anos, por exemplo.

Como os grupos já estão cristalizados é muito difícil para alguém que chega se integrar à comunidade.

O que leva estes grupos a se tornarem grupos em disputa com ressentimentos antigos prestes a eclodir em conflitos surdos não resolvidos.

O que vemos é que lugares assim são presas fáceis de aproveitadores que lucram com a pouca coesão social.

O que o filme “A Vila” nos alerta é que por mais que resistamos ao desconhecido, mais cedo ou mais tarde, ele vai aparecer como algo muito mais tenebroso que os monstros que assombram a vila.

O que derrota a resistência dos antigos não é o novo, mas a incapacidade de enfrentá-lo, por querer fugir dele.

Mais que tudo é a pretensão de “coronéis” e seus jagunços, ou seus simulacros, de impedir o acesso a direitos básicos e a uma educação e cultura abertas e inclusivas.

Porto Alegre, 19 de junho de 2018.
Imagens: cenas do filme "A Vila"
Edu Cezimbra

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