O mentiroso utiliza as designações pertinentes, as palavras, para fazer parecer real o que é irreal; ele diz por exemplo: eu sou rico, ainda que, para qualificar sua condição, fosse justamente a palavra pobre a designação mais correta. Ele mede as convenções estabelecidas, operando substituições arbitrárias ou mesmo invertendo os nomes. Se age assim de maneira interessada e demasiadamente prejudicial, a sociedade não lhe dará mais crédito e, por causa disso, o excluirá. Nesse caso, os homens fogem menos da mentira do que do prejuízo provocado por uma mentira. Fundamentalmente, não detestam tanto as ilusões, mas as conseqüências deploráveis e nefastas de certos tipos de ilusão. É apenas nesse sentido restrito que o homem quer a verdade. Deseja os resultados favoráveis da verdade, aqueles que conservam a vida; mas é indiferente diante do conhecimento puro e sem conseqüência, e é mesmo hostil para com as verdades que podem ser prejudiciais e destrutivas.
O
mentiroso foi substituído pela mentira, assim como a mercadoria foi
pelo mercado.
A
mercadoria é mentirosa devido à obsolescência programada.
A
mentira do mercado é mercado da mentira.
Quando
o mercado está nervoso a mentira fica escancarada, o mercado não
tem sentimentos.
Eis a grande mentira. A mercadoria mais vendida é uma mentira
consensual: o dinheiro.
Nada
mais falso que o dinheiro. Não há depósitos suficientes para
cobrir a gigantesca emissão de moedas.
Agora,
experimente imaginar que o dinheiro não tem valor, consegue?
O
fato dessa verdade ser prejudicial às finanças a torna indesejável,
o que não impede que ela exista.
Por
isso, caro e raro leitor, vamos dar todo o crédito a Nietzsche,
autor da longa epígrafe deste breve texto despretensioso, embora ele não
dar a mínima a isso...
Porto Alegre, 12 de novembro de 2018.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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