Um arado velho jazia num canto do paiol; ao seu lado, um moderno trator estacionado aguardava a hora de ser acionado.
O reluzente trator exibia-se com orgulho:
- Ontem eu arei todo o campo, coisa que tu demoravas vários dias para arar com tua junta de bois.
- Sim, senhor - concordou o velho arado - levava tempo para lavrar, era difícil mesmo...
- Além de lavrar, eu semeio, passo veneno e depois ajudo na colheita!
- Sim, senhor... - anuiu humilde o arado velho - agora é o agronegócio que manda.
- Pois é, é preciso ser competitivo, quem não se atualiza acaba assim, enferrujado e inútil.
- Talvez nem tão inútil quanto me julgas...
- Hahaha, vais virar peça de museu?!!
- Nada disso, ontem, enquanto lavravas o campo todo, ouvi o agricultor conversando com seu filho sobre te vender, por causa das dívidas com o banco, e para custear o tratamento do câncer de sua mulher.
O trator silenciou. Naquele dia, não saiu para o campo, porque o óleo diesel acabara e o dono não o reabasteceu...
Moral do apólogo: arado velho é que faz comida boa.
Porto Alegre, 16 de outubro de 2019.
Imagem: Pedro Weingärtner, Google
Edu Cezimbra
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