quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Pigmentocracia às avessas


Por Eduardo Sejanes Cezimbra
As culturas populares são uma das maiores expressões da identidade e diversidade de toda nação que  pretenda fazer jus ao nome.
O Brasil será uma nação na medida em que seu povo obtiver o lugar que lhe é devido no território nacional.
Infelizmente, apesar de algumas concessões da parte da “elite branca” que domina o país,  a qual o antropólogo da UnB, José Jorge de Carvalho,  denomina de “pigmentocracia”, ainda persiste o racismo institucional como se pode constatar no corte de verbas para o carnaval, em muitas cidades brasileiras.
Essa noção de “pigmentocracia”, (às avessas, pois é de quem menos melanina apresenta) é muito operativa para se entender as desigualdades e injustiças que fazem do Brasil um dos países em que o abismo social entre os  ricos e os pobres se aprofunda ao invés de diminuir.
Se Jessé Sousa alerta em seus livros que a dita elite branca brasileira faz de imbecil a classe média, o que dizer dos pobres que são submetidos ao extermínio, especialmete os negros, indígenas e campesinos.
Historicamente, as culturas populares brasileiras sempre foram reprimidas pelo estado e pela igreja.
Capoeiristas eram perseguidos pela polícia, violeiros eram presos por vagabundagem e as Folias-de-Reis não eram permitidas pelos padres.
O Boi maranhense ainda guarda a memória de que seus brincantes eram impedidos de festejarem no centro e nos espaços nobres da cidade de São Luís.
Ainda hoje, manifestações populares são reprimidas, a exemplo do funk, por associação com a violência urbana.
A ironia da História é de que a capoeira, o samba, o Bumba-Meu-Boi, entre tantas outras expressões populares tornaram-se referências brasileiras no exterior sendo atualmente uma das maiores fontes de divisas através do turismo.
Em que pese sua espetacularização e canibalização, as culturas populares são um efetivo exemplo de resistência  mantendo vivo o tecido social e o espaço territorial em que se fazem presentes.
Sabemos que o momento político  é de grave ameaça aos povos tradicionais e por isso a valorização das culturas populares é de importância estratégica para se manter a integridade da nação brasileira.
Cabe a nós, brasileiros conscientes, esta árdua tarefa.
Publicado originalmente em Ecologia dos Saberes
Porto Alegre, 10 de outubro de 2019.
Imagem: Pinterest
Edu Cezimbra

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