quarta-feira, 14 de março de 2018

Homo total



Ó formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluídas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dotências de lírios e de rosas...

Cruz e Sousa, poeta negro, simbolista, exaltava a pureza, para ele simbolizada nas formas alvas, brancas, claras.

William Dufty escreveu sobre essa obsessão pela purificação,  especificamente, no refinamento do açúcar branco,  que age como uma droga no sangue causando "Sugar Blues", título de seu conhecido livro nos meios naturebas.

Norman Mailer, em sua obra-prima, "Os nus e os mortos", narra a angústia e o desespero de um soldado dos EUA de origem mexicana, que em não sendo branco e protestante não pode cursar a universidade, sendo, por isso, obrigado a trabalhos braçais.

Mondrian pintou seu ateliê todo de branco para nele pendurar cartazes nas cores primárias, assim como também pintou seus móveis. Foi, mesmo assim, listado por Hitler como um autor de "arte degenerada". 

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, alerta-nos sobre o perigo, exaustivamente comprovado, das grandes ideias, exemplificando com a de "pureza"- em seu nome foram cometidos os mais horrendos crimes contra a humanidade.

A pele de pouca melanina dos caucasianos é apelidada de "branca" e Hitler inventa uma "raça pura" por ele chamada de "ariana" e, nunca é demais repetir, em seu nome, foi cometido um genocídio. Pior, ainda hoje, há quem cometa crimes em defesa da "raça branca".

Enfim, o "homem branco", epítome da supremacia racial,  arroga-se em "homo total" que, ao fim e ao cabo, é um homem totalitário, alvejante da democracia e da diversidade, ameaça para a humanidade.

Porto Alegre, 14 de março de 2018.

Imagem: pintura de Mondrian

Edu Cezimbra




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