quarta-feira, 18 de abril de 2018

Uma questão de fé?


Um escritor conta que durante sua prisão em Auschwitz, um dos muitos campos de concentração nazistas, na Segunda Guerra, perdeu completamente o interesse pela filosofia e o gosto pela poesia.

Não perdeu, porém, a capacidade de observação. Observou que os que resistiam aos horrores cometidos pelos carrascos da SS eram os que não perdiam a fé.

Um outro sobrevivente dos campos da morte nazistas, psicoterapeuta, expressou-se de maneira semelhante sobre o fenômeno: sobrevivia quem não perdia a esperança, quem dava um sentido a todo o sofrimento que suportava.

Fé e esperança, esperança e fé, aí estão os dois sentimentos que sustentaram as vítimas dos psicopatas nazistas.

Disse mais o escritor, que, frise-se, era agnóstico: que não apenas a fé em um Deus, mas a fé em um partido (na época, os partidos estavam em alta)!

Em que pese o Brasil não ter conhecido os horrores dos campos de extermínio de Hitler, seu povo humilde, humilhado e sofrido também desenvolveu um antídoto a tanto sofrimento “diluído”, mas continuado durante mais de cinco séculos.

Aqui, como lá, a fé e a esperança estão sempre presentes. Só que, no Brasil, essa fé e esperança, tão resistente na Europa, para não serem perdidas estão amparadas em uma, digamos, “muleta”: o fatalismo…

- Que se há de fazer, meu filho…
- Foi a vontade de Deus, minha filha…

Percebeu? No Brasil, o que faz o povo aguentar tanta penúria causada pela iniquidade social e econômica é essa impressionante capacidade de resignação e submissão, por paradoxal que pareça.

Lenin, se brasileiro, não escreveria o manual revolucionário “O que fazer?”, pois essa questão não estaria em seu repertório filosófico. Escreveria “ O que se há de fazer...”, com reticências mesmo…

Marx, se brasileiro, e mantendo sua argúcia intelectual, diria que “o cassetete é o ópio do povo”, se é que me entendes…

Mas não nos desviemos… devemos sim nos perguntar “o que fazer?”, porque até o nosso secular fatalismo vai sucumbir diante de tanto escárnio, deboche e desfaçatez de nossos “dirigentes”.

Fica impossível ser fatalista quando estamos nos afogando no “fundo do poço” e ao invés de luz no fim do túnel vemos pus…


Encaremos sim - coragem! os fatos com um pessimismo consequente para não seguirmos no auto-engano nacional. 

"Fatalmente", o que virá, como mostra a história dos povos oprimidos por uma elite cruel é a fatídica pergunta : “ o que temos a perder, senão nossos grilhões?”...

Porto Alegre, 18 de abril de 2018.
Imagem: divulgação
Edu Cezimbra

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