quarta-feira, 30 de março de 2022

A Agulha e o Buraco

 


Sempre se fala, unilateralmente, diga-se de passagem, do "buraco da agulha", nunca da "agulha do buraco".

Por isso, a agulha vivia implicando com o "seu buraco".

- Seu inútil, não fazes nada o dia todo, ficas aí vivendo às minhas custas!

O buraco respondia, provocativo, para a "dona agulha".

- Ora, bem sabes que não fazes nada sem mim - abria-se o buraco.

A agulha cutucava o buraco com sua agudeza habitual.

- Sou tão fina e elegante e tenho que mostrar esse buraco na minha cara.

Era nessa hora que o buraco era mais embaixo e mesmo assim não se fechava para a agulha.

- São os buracos, digo, os ossos do ofício, querida...

A briga entre os dois seria interminável não fosse a linha.

- Vamos acabar com essa pendenga, está na hora de trabalhar - dava a linha.

Alinhada, a agulha arrematava com o "seu buraco". 

- Lá vem essa intrometida, mas não fosse a costureira não era ninguém...

Moral do apólogo: em briga de agulha e buraco quem dá a linha é a costureira.

 

Porto Alegre,  30 de março de 2022.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

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