quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A Pedra e o Sapato

 

O Sapato deu um chute na Pedra e gritou de dor.

- Aiaiai! Uiuiui! Porque não olhas onde anda?!!

A Pedra, sonolenta, abriu um olho e depois o outro.

- O quê? Quem me acordou do meu sono de pedra?

O Sapato pulava ao redor da Pedra, gemendo.

- Aiaiai, que pedra dura, tanto bate até que me fura!

A Pedra, acostumada com tantas reclamações por estar no meio do caminho nem pestanejou.

- Não és o primeiro que topa comigo, não imaginas quanto tênis, chinelo e até dedão do pé já ficou assim, pulando â minha volta...

- Uiuiui, porque não vais pra aquele lugar, na beira do caminho, então?

- Do jeito que me chutam, mais uns séculos e logo estarei lá...

- Desde quando estás aí, atrapalhando o tráfego?

Ah, Sapato, desde que o mundo é mundo!

Então és muito velha, tens a idade da pedra - zombou o sapato.

- Sim, e tu, como te chamas? - perguntou a Pedra tentando acalmar o Sapato.

- Sapato Raimundo, a seu dispor, já dei a volta ao mundo - apresentou-se orgulhoso o bom sapato.

- Olha, até rimou! Agora me lembraste de um poeta que um dia também topou comigo.

- Quem era o poeta?

- Acho que era Calos Dumundo de Andares, ou algo parecido...

Moral do apólogo: até pedra e sapato tem sua poesia. 


Porto Alegre, 23 de dezembro de 2020.

Imagem: caricatura de Drummond, Google

edu cezimbra

Nenhum comentário:

Postar um comentário