Nascido e criado em um bolicho de cidade do interior gaúcho minhas memórias são permeadas por cores, cheiros, formas e texturas de mercadorias.
Gostava de abrir as caixas e ajudar meu pai a colocar as latas de compotas e conservas nas prateleiras, que para mim eram altíssimas.
As latas de óleo de cozinha ficavam mais embaixo e no depósito serviam de vagões de um trem bem comprido.
Tinha latões de bolachas para vários gostos: bolachas "Maria", champanha, água e sal, sortidas doces, que se vendiam a granel.
Não dá para esquecer a venda do leite - e do leiteiro - que meu pai chamava de "aguateiro" e entregava o leite em enormes tarros metálicos bem fechados. Detalhe: de carroça e os fregueses traziam suas vasilhas para comprar o leite.
Outra lembrança inesquecível são as tulhas para arroz, feijão, farinhas, erva-mate e pão, este pão era entregue diariamente, antes em carroça e posteriormente em uma Kombi.
Leite e pão que eram vendidos junto com queijo e mortadela, cortados milimetricamente por meu pai com uma faca bem afiada.
Como disse, os grãos e as batatas vinham em sacos de estopa e vendidos a granel: tinham de ser pesados e embalados na hora em papel de embrulho.
Lembro bem das balanças, uma com pesos e a outra automática.
Depois, vieram os "supermercados" e tudo isso foi trocado por sacos e sacolas plásticas e a balança pendeu para os grandes, que reduziram os bolicheiros a vendedores de cachaça, coisa que meu pai sempre se recusou a fazer.
Bolicheiro alarife, mas com princípios!
Porto Alegre, 13 de dezembro de 2020.
Imagem: Google
edu cezimbra
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