"Naquela mesa está faltando ele / E a saudade dele está doendo em mim."
O primeiro sentimento por meu pai, que lembro, é o de orgulho.
Afinal, qual é o guri que pode andar com seu pai na bicicleta de entregas do armazém sem se encher de orgulho?
Conta minha velha mãe que quando bebê era carregado em uma cesta de vime nesta bicicleta!
Orgulhoso desde o berço, pois não?
Para mim não importava nenhum pouco que meu pai fosse um humilde bolicheiro do interior do Rio Grande.
Meu pai era dono de um bem sortido armazém, isso sim!
Pois tinha de tudo no armazém do "Seu Caco".
Verdade que tinham muitos bolicheiros em nossa "zona".
Todos sobreviviam, bem ou mal, pois tinham a sua "freguesia".
O que não esqueço foi a tristeza de meu pai quando não conseguiu um empréstimo na Caixa Econômica para resistir ao "milagre econômico" da ditadura militar.
Daí veio um sentimento de vergonha por meu pai, que foi obrigado a vender o seu armazém e ficar desempregado por um tempo, até conseguir um emprego de balconista em uma loja.
Muito depois, fiquei sabendo por meu irmão, que ele doava alimentos para clandestinos políticos perseguidos pelos milicos.
Hoje, depois que ele se foi, posso afirmar que retornou o sentimento de orgulho.
Orgulho de quem, embora bolicheiro, não se vendeu jamais!
Por isso, termino com estes versos:
"Pai, afasta de mim este cálice."
Porto Alegre, 11 de dezembro de 2020.
Imagem: Google
edu cezimbra
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