quinta-feira, 4 de março de 2021

A Mão Preta



Criança é muito crédula, muito impressionável.

Ouve uma notícia no rádio e já fica toda apavorada.

- Hanói, bombardeiros americanos lançaram toneladas de bombas de napalm em Hanói.

A reação instintiva do menino de cinco anos era tapar a cabeça com o lençol ou ir para baixo da cama mesmo.

- Paiê, Hanói fica perto daqui?

- Não, filho, fica bem longe daqui...

A primeira vez que o menino foi ao cinema chorou muito, com pena do personagem atrapalhado.

Era uma comédia e todos riam das trapalhadas, só o menino chorava...

- Não chora, guri, deixa de ser fiasquento! - dizia a tia do menino.

Criança é muito empática. Ainda não endureceu com os golpes cruéis da vida adulta.

Outra coisa, adulto adora pregar sustos nas crianças.

O menino não queria comer e lá vinha uma mão preta e com garras compridas bater na alta janela basculante da cozinha.

- Criança que não come vira comida da Mão Preta, ameaçava o pai.

Uma noite a Mão Preta apareceu e mostrou um braço fino e amarelo com marcas milimétricas.

- É o metro do armazém - cochichou meu esperto irmão mais novo.

Após uma investigação foi resolvido o "mistério": a "Mão Preta" era a pata seca de um bicho do mato...

Aqui para nós, nem com a Mão Preta o menino comia...

O menino cresceu, perdeu os medos infantis, mas por precaução não ouve as notícias no rádio nem na TV.

Prefere a literatura, mais verossímil...


Porto Alegre, 4 de março de 2021.

Imagem:Mapinguari, Google

Edu Cezimbra

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