segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Diário de Um Ladrão


Logo de cara já te avisam que Jean Genet é "ladrão, homossexual e prostituto", na contracapa do notável "Diário de Um Ladrão", livro de sua autoria.

A bem da verdade, diga-se que não é uma chamada sensacionalista da editora.

Nas primeiras linhas já se sabe que Jean é tudo isso - e "mais um pouco"...

Um escritor de mão cheia, um talento literário excepcional reconhecido pela elite intelectual francesa da época, entre eles, Jean-Paul Sartre e Jean Cocteau.

"Diário de Um Ladrão" é desse livros que se devora (ou te devoram). Lá por volta da página 200 estava esse leitor metido a escritor a se perguntar: qual seria a síntese dessa obra-prima da literatura universal?

Eis que ela surge "magicamente" nesse exato momento: "...este livro é o último. Estou à espera de que o céu despenque na minha cuca. A santidade consiste em fazer servir a dor. É forçar o diabo a ser Deus. É conseguir o reconhecimento do mal." 

Aqui para nós, nem sei se Jean concordaria comigo (nem interessa) que essa citação capta a essência do livro.

Mas, o caro e raro leitor há de convir, que é uma chave para o entendimento do livro...

Um parêntese: o que diria a psicóloga que condenou a vida privada de Cazuza à execração pública pelas redes sociais se lesse Jean Genet? - Desconfio que não recomendaria o livro, recomendaria?...

A vida e a obra de Jean Genet foi  julgada, a primeira pela justiça francesa; a segunda pela crítica literária.

Jean foi preso e condenado a trabalho forçados e não se queixa disso, pelo contrário...

Já a sua  literatura é altamente considerada, e ele também não se queixa disso, não.

Para Sartre, sua poesia "não é uma arte literária, é um meio de salvação".

Também - digo eu... Para "moi","Diário de Um Ladrão" é além de uma obra literária, uma "obra libertária", figurativa e literalmente, já que graças a um manifesto de intelectuais franceses e europeus, Jean Genet foi libertado da desumana prisão francesa da época pela sua relevância artística e cultural.

Como pretendia, tornou-se uma lenda...


Porto Alegre, 11 de dezembro de 2017.

Imagem: Google

Edu Cezimbra



 


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