quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A raposa, o lobo e o leão




Os animais de que o príncipe deve seguir os exemplos são a raposa e o leão. O primeiro tem fracas defesas contra o lobo, e o outro cai facilmente nos laços que lhe armam. Com a primeira aprenderá príncipe a ser ardiloso, com o segundo a ser forte. Os que desprezam o papel da raposa nada percebem do assunto; por outras palavras, um príncipe prudente não pode nem deve cumprir a sua palavra senão quando lhe é possível fazê-lo sem se prejudicar e as circunstâncias em que fez o acordo ainda subsistam.”

Uma raposa lia deleitada “O Príncipe” de Maquiavel, pois, sabemos, ninguém deixa de se embevecer quando é lembrado como exemplo.

Eis que se aproxima um lobo faminto e a apanha distraída com a leitura.

- Hah! Apanhei-te raposa! Cuidei que estavas distraída com a leitura desse livrinho e aproveitei-me da ocasião…

- Meu caro lobo, estava a ler justamente sobre a tua força e poderio e eis que a comprova com tua ação fatal, - ganiu a raposa apavorada.

O lobo, que não lia, mas não era bobo, quis ver para crer.

- Onde está escrito sobre mim?, rosnou feroz e desconfiado.

- Se vossa lobência permitir que eu me desvire poderei mostrar-te a página em que és elogiado por ser forte.

Nesse momento, um leão que por ali passava “casualmente” ouviu o debate entre a raposa e o lobo rugiu:

- Quem aí está falando de mim?!!

Foi o que bastou para o lobo e a raposa saírem em disparada floresta a dentro.

O leão escarrapachou-se preguiçosamente e, sem dó nem piedade, fez picadinho com suas garras e presas do “Príncipe” que a raposa estava a ler.

Moral da história: contra a força e a ignorância não há livro que resista. 


Porto Alegre, 3 de outubro de 2018.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra

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