Intrigado, o gavião indagou ao urubu:
- Mas que mal pergunte: porque ficas planando se não atacas?
O urubu, que também voa alto, respondeu à altura:
- Sem ofensa, "seu" gavião, mas eu também já urubuservei o senhor voando sem atacar.
- Ah, urubolino - gracejou o gavião - eu voo de olho na caça!
- Eu também faço voos de reconhecimento - gabou-se o urubu.
- Sei, voo de reconhecimento de cadáveres - riu-se o debochado gavião.
- Data venia, "seu" gavião, mas já vi o senhor fugir de bem-te-vi...
- Fugir?!! Uma ova, o que eu faço é me reposicionar para melhor atacar a caça!
O gavião, agora, estava picado:
- E tu, depois do reconhecimento do cadáver, ainda come a carniça, que nojo!!!
O urubu, como bom papa-defunto não perdeu a fleugma.
- Ora, amigo gavião, o que não percebeste em teus voos altaneiros é que eu presto um serviço importante para todos os animais.
- Para mim não!
- Como não? Quem come os restos mortais de suas caças, senão este humide servo?
O gavião era um exímio caçador, mas não era filósofo.
- E eu com isso?!!
- Amigo gavião, sem mim não comerias carne fresca e saudável.
- Besteira - retrucou o gavião, já irritado com os argumentos do urubu.
- Vejo que o amigo faltou às aulas de ecologia...
- Não entendi...
- É que sem nós, urubus, os germes tomariam conta da terra e adoeceriam todos os animais, entendeu?
- Olha aquele passarinho! - disse o gavião dando um mergulho e fugindo da conversa que acabou por aí.
O urubu pensou com suas penas:
- Fugiu do debate, mas taloquei, vai caçar para mim...
Moral da fábula: quem pensa não caça.
Porto Alegre, 26 de agosto de 2020.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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