Hoje em dia, um escritor de contos de fadas teria sérias dificuldades até para começar uma história.
- Em um lugar muito distante de qualquer cidade havia...
- Como assim?! distante de qualquer cidade?!...gritaria o editor ou mais provavelmente sua voz interior.
- Tá, e por que não?...
- Ora, em que mundo você vive?! Não existem mais lugares distantes de cidades, seja pela quantidade delas, seja pela velocidade dos meios de transporte.
Obviamente, sempre é possível variar o lugar...
- Ok...ok...vamos recomeçar assim: em um lugar isolado de tudo havia...
- Hahaha... "lugar isolado de tudo", você está desatualizado, hem? Depois dos satélites e da internet o planeta se tornou uma aldeia global!
Depois de coçar a cabeça, levantar da cadeira, andar até a cozinha para pegar um lanchinho o contista tenta de novo.
- Hum...que tal, então: em um lugar desconhecido por todos havia...
- Pára, peraí, assim não dá! Depois do "google maps" não existe mais lugar desconhecido, tudo foi mapeado, até o cafundó do Judas onde o diabo perdeu as botas, não me faça chorar de rir!
Entre desesperado e irritado o contista tenta ser irônico.
- E se ao invés de um lugar eu criasse um "não-lugar"...
- "Não-lugar"? Não-lugar até que soa bem... não, isso é utopia!
- Isso aí, vai se chamar Utopia! Em uma ilha chamada Utopia havia um rei muito bondoso com seu povo mas com um xerife muito cruel que ambicionava seu lugar, e por aí vai!
Observe, caro e raro leitor, que Utopia é o nome de um livro de autoria de Thomas Morus que imagina como seria um reino ideal e o nome virou sinônimo de fantasia, delírio, idealismo, enfim "conto de fadas".
- Aff... não é nada fácil escrever um conto de fadas hoje em dia...
Porto Alegre, 5 de abril de 2017.
Foto: gravura de Utopia
Edu Cezimbra
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