"Quem sou eu para para emitir juízos sobre as tramas do maligno, especialmente", acrescentou, parecendo querer insistir nesse ponto, "em um caso em que os que tenham dado início à inquisição, os bispos, os magistrados civis e todo o povo, talvez até os próprios acusados, desejavam verdadeiramente sentir a presença do demônio? Bem, talvez a única prova verdadeira da presença do diabo seja a intensidade com que todos, naquele momento, desejam sabê-lo em ação..."
Umberto Eco, em seu livro "O Nome da Rosa" coloca essa fala na boca do arguto Frei Guilherme de Bakerville para desviar a conversa com o abade obcecado pelo demônio.
O romance transcorre em plena Idade Média, século XIV, em mosteiro no norte da Itália e transmite todo o espírito dessa época com muitas passagens como a citada acima.
O que talvez surpreendesse o escritor é o quanto esse tipo de visão de mundo persiste em pleno século XXI, ao menos no Brasil.
Não pretendo tecer uma crítica a esse tipo de crença mas sim mostrar que, apesar de todas as transformações que o mundo passou, desde a Idade Média, ela persiste com a mesma intensidade.
Frei Guilherme ao tentar encerrar a especulação em torno do demônio fornece uma pista e tanto para entendermos essa permanência do "chifrudo".
É a intensidade com que todos desejam saber da ação do diabo que o mantém presente ainda hoje em dia.
Vou mais longe: uma religião persiste porque há quem intensamente acredite nela...
Porto Alegre, 19 de abril de 2017.
Foto: cena de "O Nome da Rosa"
Edu Cezimbra
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