O celular debochou do livro, assim, na lata:
- Por que andas tão fechado, ultimamente?
O livro, que era letrado, percebeu a maldade do celular e respondeu irônico:
- Antes fechado, mas com conteúdo...
- Conteúdo não enche barriga - respondeu o celular, sem entender a ironia.
- Celular vazio não para em pé... - prosseguiu o livro na mesma micro-onda.
- Meu dono sempre recarrega minha bateria - replicou o celular sem ainda perceber a analogia - e tu aí, abandonado nesta estante empoeirada!
- Quem tem a companhia de livros nunca se sente abandonado - minimizou o livro, cônscio de seu valor.
- Pois eu estou sempre sendo exibido por meu dono, sempre na companhia de muitos celulares, por onde quer que eu vá! - exibiu-se o vistoso celular.
O livro coçou uma das orelhas para depois responder com presença de espírito:
- Pois quanto a mim, prefiro ser um livro famoso a um anônimo na multidão...
- Ora, quem tu pensas que és?!! - irritou-se o celular, tocando um sertanejo universitário, o seu toque de chamada.
- Eu sou "O Vermelho e o Negro" - apresentou-se com uma mesura o livro, como um clássico da literatura universal.
- Um comunista!!! - denunciou o celular ...
Moral do apólogo: mais vale um livro de ficção do que um celular cheio de fake news.
Porto Alegre, 20 de março de 2020.
Imagem: Pinterest
Edu Cezimbra
Texto muito criativo!Vivas ao livro!
ResponderExcluirObrigado. Vivas!
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