sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A Árvore e o Musgo

 


Uma grande árvore e um pequeno musgo cresciam juntos, não necessariamente na mesma direção.

A árvore crescia verticalmente enquanto o musgo crescia horizontalmente, na ordem natural da vida.

O musgo olhou para a majestosa árvore, curvou-se e falou, humildemente:

- Perdoe a ousadia, Senhora Dona Árvore, mas nós dois juntos podemos dominar essa mata toda e acabar com a competição por este espaço vital.

A árvores, embora grande e poderosa, não tinha ideias megalomaníacas.

- Ora, Musguinho, não precisamos dominar nada,  basta permitir que todos cresçam juntos.

- Pense bem, Senhora Dona Árvore, temos que dar um jeito nestas insignificantes ervas daninhas, líquens, piolhos, vermes, formigas e minhocas. 

- Todos tem sua importância, Musguinho, cada um cumpre um papel nos reinos animal e vegetal.

-  Data venia, Senhora Dona Árvore, daqui a pouco esta capoeira vai tomar conta e vais ficar oculta pela mata.

- Tem lugar para todos, além disso, adoro companhia.

- Ai,  meu santinho do pau-oco, assim vou ficar totalmente inferiorizado...

- Agora estás sendo sincero, Musguinho. Teu amor pelo poder tem a ver com este teu sentimento de inferioridade.

- Eu já fui grande e me incomoda estar do tamanho destes líquens e ervas rasteiras...

- Viu só, Musguinho, aceita que dói menos. Veja quantas plantas magníficas na tua volta, cada uma satisfeita consigo mesma.

- Pior, queria mandar em todas, exceto na Senhora Dona Árvore, claro...

-  Ora, isso é só uma compensação, não vai aumentar o teu tamanho nem tua importância, vai por mim, sempre terá algo maior do que nós - pra que sofrer com isso, melhor se adaptar!

- Isso é fácil pra Senhora, que é um Guapuruvu - resmungou o líquen, cabisbaixo.

Moral do apólogo: o amor ao poder compensa o sentimento de inferioridade, mas quem pequeno é pequeno seguirá. 


Porto Alegre, 19 de fevereiro de 2021.

Imagem: Raúl Anguiano, Google

Edu Cezimbra

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