Uma grande árvore e um pequeno musgo cresciam juntos, não necessariamente na mesma direção.
A árvore crescia verticalmente enquanto o musgo crescia horizontalmente, na ordem natural da vida.
O musgo olhou para a majestosa árvore, curvou-se e falou, humildemente:
- Perdoe a ousadia, Senhora Dona Árvore, mas nós dois juntos podemos dominar essa mata toda e acabar com a competição por este espaço vital.
A árvores, embora grande e poderosa, não tinha ideias megalomaníacas.
- Ora, Musguinho, não precisamos dominar nada, basta permitir que todos cresçam juntos.
- Pense bem, Senhora Dona Árvore, temos que dar um jeito nestas insignificantes ervas daninhas, líquens, piolhos, vermes, formigas e minhocas.
- Todos tem sua importância, Musguinho, cada um cumpre um papel nos reinos animal e vegetal.
- Data venia, Senhora Dona Árvore, daqui a pouco esta capoeira vai tomar conta e vais ficar oculta pela mata.
- Tem lugar para todos, além disso, adoro companhia.
- Ai, meu santinho do pau-oco, assim vou ficar totalmente inferiorizado...
- Agora estás sendo sincero, Musguinho. Teu amor pelo poder tem a ver com este teu sentimento de inferioridade.
- Eu já fui grande e me incomoda estar do tamanho destes líquens e ervas rasteiras...
- Viu só, Musguinho, aceita que dói menos. Veja quantas plantas magníficas na tua volta, cada uma satisfeita consigo mesma.
- Pior, queria mandar em todas, exceto na Senhora Dona Árvore, claro...
- Ora, isso é só uma compensação, não vai aumentar o teu tamanho nem tua importância, vai por mim, sempre terá algo maior do que nós - pra que sofrer com isso, melhor se adaptar!
- Isso é fácil pra Senhora, que é um Guapuruvu - resmungou o líquen, cabisbaixo.
Moral do apólogo: o amor ao poder compensa o sentimento de inferioridade, mas quem pequeno é pequeno seguirá.
Porto Alegre, 19 de fevereiro de 2021.
Imagem: Raúl Anguiano, Google
Edu Cezimbra
Nenhum comentário:
Postar um comentário