Água
que deságua em açudes... Vem de riachos de águas frias e límpidas que brotam de fontes do
fundo da terra. Andam de mãos dadas, a água e a terra, feito duas
crianças a brincar com barro em açudes com fundo barrento que fazem
os pés afundarem como se pisassem em neve nova ou areia movediça.
Açudes
que retém a água para refrescarem o ar, saciar a sede de animais e
fazer a festa das crianças em dias quentes.
Quem não lembra o
mergulho afoito após uma longa caminhada por uma trilha sob sol
escaldante ou uma “pelada” nas areias quentes da praia? O
mergulho na água fria provoca um arrepio que depois dá lugar a
carícias na pele e cabelos passando de imediato a sensação de
calor.
As
águas são crianças a brincar com a terra... Vão correndo por
leitos rochosos, abrem caminho em meio aos barrancos, vales e
planícies,formam cachoeiras, corredeiras entre pedras, sempre
acompanhadas de peixes, matas, pássaros e chuvas, claro!
Crianças
adoram brincar na água, seja onde for: em uma valeta, canal de
irrigação, piscina, açude, rio, lagoa ou mar. Esta ligação com
as águas é muito forte entre os nossos indígenas (o hábito do
banho diário), aprender a nadar, mergulhar desde muito cedo vem
junto com a pescaria tão peculiar aos habitantes ribeirinhos.
Nascer
dentro d'água é nascer sorrindo, acolhido pelas águas da vida após
nove meses envolto por ela. Um recém-nascido naturalmente mergulha e
nada em uma piscina como se pode ver em documentários em que as mães
soltam os bebês dentro da água.
No entanto, muitos
tem medo da água (não me refiro ao personagem Cascão do Maurício
de Souza) pelo risco de afogamento. Este temor também tem a ver com
nossas mais profundas memórias de águas escuras e geladas em que
iaras, botos cor-de-rosa espreitam os incautos ribeirinhos que
subitamente desaparecem sem deixar rastros.
Os
alagamentos, inundações e enchentes também deixam marcas no
inconsciente coletivo, talvez pelo simbolismo das inundações
psíquicas em que a mente é tragada pelos abismos da alma, quem
sabe...
O
poeta português Fernando Pessoa canta que “navegar é preciso,
viver não é preciso”... Sobre as águas navegamos em jangadas,
balsas, botes, veleiros, enfim, em tudo que nos permita flutuar ao
balanço das águas. E o barco é um símbolo de nós mesmos na
travessia de um oceano em que ocorrem, sem aviso, tsunamis,
calmarias, tempestades em que é preciso navegar nas águas do vir a
ser.
Edu Cezimbra, primavera de 2015
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