Nietzsche pintado por Munch |
SANCTUS JANUARIUS
Tu que com a lança de tuas flamas
Partes o gelo de minha alma,
Que ferve agora e corre ao mar
De sua esperança mais alta:
Sempre mais clara e mais sadia,
Livre em sua lei mais amorosa:-
Assim louva ela teus milagres.
Ó tu, mais belo dos janeiros!
Gênova, janeiro de 1882
Excelsior! [Cada vez mais alto!] – “Você nunca mais rezará, nunca mais
adorará, nunca mais repousará numa confiança infinita – você se proíbe
estacar ante uma sabedoria última, uma bondade última, um último poder,
desarmando seus pensamentos – não há um constante guardião e amigo para
as suas sete solidões – você vive sem vista para uma montanha que tenha
neve no rosto e ardor no coração – não existe, para você, mais nenhum
retaliador, nenhum aperfeiçoador final, não há mais razão no que
acontece, nem amor no que lhe acontecer – para o seu coração já não há
pousada aberta, onde ele só tenha de encontrar e não mais procurar, você
resiste a qualquer paz derradeira, você quer o eterno retorno da guerra
e da paz: - homem da renúncia, em tudo você quer renunciar? Quem lhe
dará a força para isso? Ninguém jamais teve essa força!” – Existe um
lago que um dia se negou a escoar, e formou um dique onde até então
escoava: desde esse instante ele sobe cada vez mais. Talvez justamente
essa renúncia nos empreste a força com que a renúncia mesma seja
suportada; talvez o homem suba cada vez mais, já não tendo um deus no
qual desaguar. (Nietzsche; A Gaia Ciência; §285).
Nenhum comentário:
Postar um comentário