terça-feira, 2 de maio de 2017

A Cartomante


Um cartazete escrito à mão, colado em um poste de luz prometia: "Trago seu amor de volta em 24 horas".

Liguei imediatamente para o número do celular de Madame Circe e marquei uma consulta, sessão, sei lá...

Estava tão desesperado que tentei uma última cartada...

Madame Circe atendia em sua própria casa onde se chegava de barco.

Esperava encontrar uma senhora gorda, grisalha e enrugada. Qual não foi minha surpresa quando me deparei, no ancoradouro, com uma linda mulher, morena, trajando um vestido branco longo que lhe delineava as curvas sensuais.

- Sou Madame Circe, marinheiro, suba ao convés.

- Muito prazer, balbuciei, sem esconder minha surpresa...

Não entendi por que me chamou de marinheiro, talvez brincando por eu ter chegado em um bote, vá saber...

- Então, marinheiro, tu estás perdido...

- Isso mesmo, assim me sinto...mas como tu sabes disso?!

- Sou feiticeira, meu bem, sei de tudo o que se passa nas almas dos homens.

- Estou vagando sem rumo há anos e não consigo achar um rumo na vida.

- Isso é incomum! Sabe, geralmente quem vem a mim quer recuperar um amor perdido. Escolha uma carta...

- Então, eu perdi meu amor...próprio há muitos anos atrás. Como faço para achar?

- Ulisses é o teu nome, e quem vai te ajudar a recuperar o teu amor-próprio é o próprio amor.

- Não entendi...

- Aqui na carta mostra que estás dividido entre duas mulheres. Note bem, não sou freudiana, prefiro Jung, mas a mulher mais velha é tua mãe e te impede de partir. 

- E a outra, quem é? - perguntei ansioso -, tu sabes quem é essa jovem e onde posso achá-la?

- Sei...o nome dela é Penélope e mora em um lugar distante chamado Ítaca, onde tem uma confecção. A propósito, gostas de churrasco grego?...


Porto Alegre, 02 de maio de 2017.

Foto: Pinterest

Edu Cezimbra

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