Lima Barreto é um escritor brasileiro do início do século XX que parece estar escrevendo para o século XXI, tamanha sua atualidade.
No "Diário do Hospício" anota algumas observações e reflexões de rara percuciência.
Sobre a polícia faz uma fina ironia quando afirma : "não quero, com minha rebeldia, perturbar a felicidade que eles vêm trazendo à sociedade nacional, extinguindo aos poucos o vício e o crime, que diminuem a olhos vistos".
Não poupa os "doutores", com sua aguda pena crítica e sua experiência acadêmica, ao dizer que o médico que o atendeu lhe parece "desses médicos brasileiros imbuídos do ar de certeza de sua arte, desdenhando toda atividade intelectual que não a sua e pouco capaz de examinar o fato por si".
As citações são do livro " O Cemitério dos Vivos", edição da Biblioteca Nacional que inclui o "Diário do Hospício", ambos registrando a horrível experiência de Lima Barreto nas várias internações que sofreu devido às alucinações causadas pelo álcool.
Ressalto que a loucura é dissecada exaustivamente nesse livro, onde as descrições brutas dos métodos de tratamento e da própria ciência que os embasavam, tornam a obra leitura obrigatória a quem se interessa pela antipsiquiatria e a luta manicomial, entre outros.
Não há exagero nenhum em dizer que Lima Barreto estava muito além do seu tempo,- e porque não, do nosso -, já que muitas das críticas que faz às nossas instituições seguem atualíssimas à espera de soluções que ele, com seu espírito indomável de D. Quixote apontava.
Porto Alegre, 20 de maio de 2017.
Foto: Revista Cult
Edu Cezimbra
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