terça-feira, 16 de janeiro de 2018

BREVE REFLEXÃO SOBRE “NOSSOS CARNAVAIS”


Fantasia de ala que o Paraíso do Tuiuti, escola do Grupo Especial do Rio, levará para a Sapucaí, dentro do enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", do carnavalesco Jack Vasconcelos. 

Eduardo Sejanes Cezimbra
Boaventura de Sousa Santos em sua obra seminal “A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política” nos lembra do “drama milenar da expansão ocidental em três atos”:
1) Cruzadas
2) Expansão européia
3) Século Americano-Europeu
A América do Sul passa por este terceiro ato de maneira cíclica pois “Nuestra América” está nas entranhas do monstro: “é preciso ir saindo do Norte” , aconselha Martí para uma reinvençao da emancipação.
Oswald de Andrade, do seu “Manifesto Antropófago” também citado por Boaventura como referência para essa reinvenção da emancipação escreve sobre o nosso modo de ser e pensar: Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós […] Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso? […] Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.”
Mariátegui é peruano e elaborou um novo pensamento emancipatório para a América Latina, muito inspirado em Martí e Nuestra América, escreve sobre o carnaval nos anos 20 que por transformar o burguês em guarda-roupa era verdadeiramente revolucionário por constituir uma impiedosa paródia do poder e do passado.
Concluo essa brevíssima reflexão sobre o carnaval e seu caráter contestador e de resistência à colonização cultural com a citação por Boaventura recorrendo novamente a Oswald de Andrade: “A alegria é a prova dos nove”.
Publicado originalmente em Ecologia dos Saberes, em 3 de março de 2017.

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