sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Cortázar e seus cronópios



"Quem não lê Cortázar está condenado."
O autor de tão veemente condenação, impressa na contracapa do livro "Histórias de cronópios e de famas", de Julio Cortázar - escritor argentino de nomeada -, é nada mais nada menos que o poeta chileno Pablo Neruda.

Depois disso fui ler Cortázar. Confesso, tinha lido muito superficialmente. Que digo, passado a vista pelo seu "O jogo da amarelinha".

Cortázar é reconhecido como um autor do "realismo fantástico", segundo a apresentação da editora, para em seguida acrescentar que no livro "de cronópios e de famas" foge desse estilo tão latino-americano.

Concordo. Nestas histórias ele se aproxima de Manoel de Barros, Mário Quintana e de Neruda para escrever uma inspirada prosa poética com tons satíricos da vida cotidiana dos seus compatriotas argentinos - e latino-americanos, convenhamos...

Há quem se intitule apenas um "contador de histórias"; neste caso Cortázar poderia se autoproclamar um "descontador de histórias"...

Ao estilo do poeta pantaneiro Manoel de Barros escreve sobre "coisas desimportantes".

Recordou-me Mário Quintana quando dá instruções de como "dar corda" em um relógio de pulso.

Desconheço se leu esses dois - tão queridos por nós-  poetas brasileiros, muito provavelmente não.

Quanto a Neruda, leu, e leu muito...

Basta ver a quantidade de metáforas que emprega, tão inusitadas quanto inspiradas.

Pode-se dizer abusando da redundância dos termos em tela (tão próximos quanto "utilizados") que Cortázar escreveu "surrealismo fantástico" nesse seu sexto livro publicado...

Esse livro bem poderia ser ilustrado com as pinturas surrealistas de Salvador Dali que, sabendo ou não. retratou muitas figuras de linguagem descritas por Cortázar, ou vice-versa.

Neruda finaliza sua breve intimação para a leitura do livro com a tremenda ameaça para quem não o leu de "...e aos poucos provavelmente perderia os cabelos."

Ufa, escapei por um triz! Já o Manoel de Barros e o Quintana provavelmente não leram Cortázar...

Pela cabeleira farta Julio leu Cortázar...

E o Neruda? - pergunta meu caro e raro leitor. Leu Cortázar, óbvio, mas quantos aos cabelos é difícil saber, está sempre de boné nas fotos...

Porto Alegre, 5 de janeiro de 2018.




Imagem: Google




Edu Cezimbra







Nenhum comentário:

Postar um comentário