Tudo que pude fazer
foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que
realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a
você agora.
• UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA •
Os seres humanos me assombram."
• UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA •
Os seres humanos me assombram."
Markus
Zusak em
“A menina que roubava livros” escreve
“uma última nota de sua narradora”, que como todos os que leram
seu livro sabem que é nada mais nada menos que “A Morte”.
“A
Morte” que a todos assombra, quem diria é assombrada pelos seres
humanos!
Essa
entidade que nos fez humanos em nossos rituais de dor, de perda e de
luto tem mesmo a capacidade de nos tornar melhores.
Como
disse Machado de Assis, um escritor genial: “ Está morto: podemos
elogiá-lo à vontade”…
Aos
vivos cabe a tarefa, - facilitada pela morte - de não deixar os
mortos irem sem o devido elogio.
A
Morte também coloca palavras nas bocas dos vivos, às vezes como
elogio: “foi uma boa morte”…
Como
toda filósofa que se preza “A Morte” não se poupa críticas : “
que morte horrível”…
“A
Morte” além de romancista também é poeta, podemos até dizer que
é um dos muitos heterônimos de Fernando Pessoa nesses versos
inspirados: “ A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não
ser visto. / Se escuto , eu te oiço a passada / Existir como eu
existo.”
E,
mais, é uma dramaturga de mão cheia no Ato
III, cena I de
Hamlet,
de Shakespeare:
“Ser
ou não ser... Eis a questão.(...) Morrer..., dormir... dormir...
Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos
poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a
meada mortal, nos põe suspensos. Que fardos levaria nesta vida
cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte -
terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos
inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem
buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a
consciência. "
“Os
seres humanos me assombram”… repetirá
“A Morte”, afastando-se silenciosa da cena.
Porto Alegre, 25 de setembro de 2018.
Imagem: Edvard Munch
Edu Cezimbra
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