terça-feira, 25 de setembro de 2018

A morte e os seres humanos



Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a você agora.
• UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA •
Os seres humanos me assombram."


Markus Zusak em “A menina que roubava livros” escreve “uma última nota de sua narradora”, que como todos os que leram seu livro sabem que é nada mais nada menos que “A Morte”.

A Morte” que a todos assombra, quem diria é assombrada pelos seres humanos!

Essa entidade que nos fez humanos em nossos rituais de dor, de perda e de luto tem mesmo a capacidade de nos tornar melhores.

Como disse Machado de Assis, um escritor genial: “ Está morto: podemos elogiá-lo à vontade”…

Aos vivos cabe a tarefa, - facilitada pela morte - de não deixar os mortos irem sem o devido elogio.

A Morte também coloca palavras nas bocas dos vivos, às vezes como elogio: “foi uma boa morte”…

Como toda filósofa que se preza “A Morte” não se poupa críticas : “ que morte horrível”…

A Morte” além de romancista também é poeta, podemos até dizer que é um dos muitos heterônimos de Fernando Pessoa nesses versos inspirados: “ A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não ser visto. / Se escuto , eu te oiço a passada / Existir como eu existo.”

E, mais, é uma dramaturga de mão cheia no Ato III, cena I de Hamlet, de Shakespeare:

Ser ou não ser... Eis a questão.(...) Morrer..., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. "

Os seres humanos me assombram”… repetirá “A Morte”, afastando-se silenciosa da cena.

Porto Alegre, 25 de setembro de 2018.
Imagem: Edvard Munch
Edu Cezimbra

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