* Por Eduardo Sejanes Cezimbra
O Plano Piloto de Brasília com seu formato de cruz ou de avião é cruzado por largas vias expressas em toda sua extensão, culminando com suas construções monumentais como a Catedral de Brasília (católica), Museu da República, a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes com seus respectivos palácios.
Uma cidade moderna de acordo com que propunham arquitetos como Le Corbusier, sem ruas estreitas e calçadas, substituídas pelas vias expressas sem lugar para pedestres ou ciclistas, dificultando ao máximo o acesso para quem não possuía automóvel. Os moradores sem carros particulares utilizam-se de ônibus que circulam em torno da rodoviária ligando o Plano Piloto com as cidades-satélites entre as quais as primeiras erguidas Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Sobradinho e Planaltina ficam distantes cerca de 25 quilômetros ou mais.
São notáveis as disparidades entre o Plano Piloto e as suas cidades-satélites em termos de renda per capita e acesso a serviços sociais e infra-estrutura.
No entanto o Plano Piloto não existiria por si mesmo sem as cidades-satélites, isso é, sem sua população pobre que presta os serviços indispensáveis para seu funcionamento e manutenção.
Contraditoriamente, Brasília foi pensada sem as cidades-satélites.
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo de 27/02/82, o urbanista Lúcio Costa conta que “Israel Pinheiro e Juscelino Kubitschek disseram que se tratava de uma cidade de burocratas”.
“(Brasília seria)… um marco nacional permanente, algo assemelhável, nestes termos, do Hino ou à Bandeira… Esta seria sua principal função: representar o país para si-mesmo, em troca seria por ele sustentada.”, afirmou um estudo do governo de Brasília desaconselhando a hipotética instalação de indústrias na cidade.
A inevitável conclusão da época era que as cidades-satélites só existiam devido ao plano de manter longe do Plano Piloto as populações de trabalhadores que construíram e hoje mantém Brasília.
- Escrito a partir de artigo “Construção do espaço e dominação – Considerações sobre Brasília” de José William Vesentinini, professor do Departamento de Geografia da FFLCH da USP para a revista Teoria e Política, 1985.
* Publicado originalmente em Ecologia dos Saberes
Porto Alegre, 6 de agosto de 2019.
Imagem: arquivo pessoal
Edu Cezimbra
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