Muito longe de shoppings decorados, longe de avenidas iluminadas, um casal de humildes refugiados busca um abrigo para passar a noite na beira de uma estrada que corta a floresta devastada.
A jovem de traços nordestinos, marcados pelas privações da seca e da fome carrega em seu ventre uma criança.
O jovem pai, negro quilombola maranhense, acompanha a mulher, apoiando-a com seus braços e ombros em sua vacilante jornada sob um sol abrasador.
À primeira vista parecem um casal de retirantes, mas na verdade são fugitivos de suas terras, pois estão marcados para morrer.
Não queriam ceder aos madereiros e garimpeiros os castanhais da floresta de sua reserva extrativista.
Após um fuga às pressas de Nazaré, seu povoado, e depois de muito caminhar se aproximam de Belém do Pará.
Seus nomes, Maria e José, são muitos comuns naquelas paragens.
Tentaram arrumar pouso em pensões baratas da capital mas seu pouco dinheiro é insuficiente para pagar uma diária.
Depois da longa caminhada, Maria começara precocemente o trabalho de parto, longe de qualquer hospital ou maternidade.
Em desespero buscam um abrigo qualquer para receberem a criança anunciada.
Já anoitecendo, encontram uma barraca de lona preta, dessas usadas em acampamento dos sem-terra.
Exaustos pela longa jornada, com fome e sede, são ajudados por mulheres do acampamento que lhes dão água e macaxeira.
Uma velha parteira recebe a criança que é enrolada em um pano vermelho, uma puída bandeira em que os jovens se veem desenhados.
Então, aos poucos, a gente do acampamento se reúne ao redor da criança, que batizaram de Jesus, pois era noite de Natal.
Uma estrela brilhante paira sobre a lona preta...
Porto Alegre, 23 de dezembro de 2016.
Edu Cezimbra
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