terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Do tempo entre costuras



"Os encontros com meu pai abriram meus olhos para uma face desconhecida da realidade. Graças a ele soube que, apesar de os jornais nunca terem contado, o país vivia uma crise de governo permanente; os rumores de destituições e renúncias, as substituições ministeriais, as rivalidades e as conpirações se multiplicavam como os pães e os peixes."
De 'O tempo entre costuras', de María Dueñas, romance ambientado na Guerra Civil Espanhola e na ditadura franquista pinço este trecho que parece ser escrito para contar sobre o hoje.

Não se pode nem escrever o clássico "qualquer semelhança é mera coincidência".

Aliás, como o escritor Luiz Antônio Assis Brasil, também  sinto falta de escritores brasileiros que escrevam romances sobre o seu tempo.

Cabe a pergunta: se o tempo é um continuum espaço-tempo escrever sobre um passado não traz um presente?

Reservadas as diferenças, o excerto do romance descreve claramente uma mesma fórmula ditatorial em qualquer tempo.

O que não invalida o reclamo do Assis Brasil. 

Se hoje temos uma leitura aproximada da realidade agradeçamos aos escritores que ousaram escrever sobre o seu tempo.  

Espero que prossigam publicados e lidos...


Porto Alegre, 06 de dezembro de 2016.

Foto: Divulgação/Boomerang TV

Edu Cezimbra


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